'Interferência de Lula seria muito mesquinha'

Em entrevista à Folha, governador de Goiás, Marconi Perillo, se diz alvo de perseguição política na CPI do Cachoeira por episódios do passado. Em 2005, revelou que havia avisado o então presidente sobre a existência do mensalão

'Interferência de Lula seria muito mesquinha'
'Interferência de Lula seria muito mesquinha' (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)


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247 – Em entrevista concedida à Folha ontem em Brasília, o governador Marconi Perillo, do PSDB, falou da suspeita de interferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na investigação da CPI do Cachoeira. O tucano também voltou a dizer que a venda da casa foi negócio legítimo e prometeu entregar os cheques que teria recebido na transação em seu depoimento nesta terça. Leia:

Folha - O que o sr. vai dizer na CPI?

Marconi Perillo - Vou dizer a verdade. Existem muitas especulações e vou procurar esclarecer tudo para que não restem mais dúvidas em relação a uma operação de compra e venda de um imóvel particular, cuja venda se deu na mais absoluta boa-fé.

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O senhor pretende levar documentos à CPI?

Vou mostrar as cópias dos cheques -dois cheques de R$ 500 mil e um no valor de R$ 400 mil-, também cópia dos meus extratos bancários mostrando que foram compensados e que não há a menor dúvida de que o negócio foi correto, legal. Vendi, recebi, escriturei e botei no meu Imposto de Renda.

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Os cheques foram emitidos por uma empresa da cunhada de Carlinhos Cachoeira que recebeu dinheiro da construtora Delta. Não é constrangedor o fato de que a casa pode ter sido paga com dinheiro de uma empreiteira que tem contratos com o governo?

Eu vendi o imóvel, de minha propriedade. E poderia ter vendido a qualquer pessoa desde que manifestasse interesse. Esse imóvel foi anunciado em classificados.

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É claro que, se eu soubesse que seria alguém com vínculo comercial, contratual com o governo do Estado, não venderia. No caso, quem me procurou, por meio da assessoria, foi o ex-vereador Wladimir Garcez dizendo que gostaria de adquirir o imóvel.

Os cheques foram sendo depositados e depois cobrei a escrituração e o registro. Foi quando ele disse que o comprador não seria ele mais, porque não teria como levantar os recursos. Ele não informou à época que havia tomado dinheiro emprestado de seus patrões. Ele disse 'não consegui, e o comprador é o professor Walter Paulo'.

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Não incomoda os cheques serem de uma confecção de uma cunhada do Cachoeira?

Não, fiz um negócio legítimo. Era um imóvel meu, eu agi de boa-fé, tanto que depositei na minha conta.

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O professor Walter Paulo disse em depoimento da CPI que comprou a casa com dinheiro vivo. Congressistas levantam a suspeita de que o sr. recebeu duas vezes pelo imóvel.

Isso é um grande absurdo. É subestimar a inteligência de qualquer um. Subestimar a minha inteligência e boa-fé.

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As gravações mostram Cachoeira discutindo com Garcez a negociação da casa. O sr. nunca soube do envolvimento do Cachoeira?
Soube depois que ele foi preso. Isso nunca foi me dito.

Por que se criou essa confusão?

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Isso é tempestade em copo d'água. Não há dúvida em relação a nada. Se tivesse vendido ao Cachoeira, não seria crime. Não adianta tentar fazer ilações, ou tentar dizer que vendi para ele.

É confuso nada. Ele [Garcez] tinha interesse em pagar a casa, não conseguiu pagar o empréstimo. Nunca poderia imaginar de quem fossem os cheques. Não há contradição.

Como o sr. se sente convocado para depor numa CPI? É constrangedor?

Não deixa de parecer uma perseguição política muito forte. Os fatos indicam isso.

Perseguição por parte de quem?

A imprensa já divulgou as motivações verdadeiras dessa CPI: a imprensa, o procurador-geral Roberto Gurgel, integrantes do Judiciário, o governador Marconi Perillo.

Por que o sr.?

Eu imagino que pelos fatos ocorridos no passado.

O sr. acha que aquele episódio em que diz ter avisado o ex-presidente Lula do mensalão motivou a convocação?

É o que os jornais, os articulistas, a imprensa têm afirmado durante todo esse período, quase 100 dias. Espero que não seja. Não sou capaz de guardar por um segundo sequer ódio ou rancor por qualquer pessoa.

Espero sinceramente que os sentimentos do presidente Lula sejam nobres. Afinal de contas, ele já tentou tantas vezes me prejudicar em Goiás, nas eleições, nas aparições dele, nas declarações, que eu imagino que ele possa estar se dando por satisfeito depois de tudo que foi feito para tentar me derrotar, especialmente na última eleição.

Um homem que foi presidente do Brasil por duas vezes, deixou o governo com alta popularidade, deveria ou deve se comportar como um estadista, assim como ocorre com ex-presidentes dos EUA, como acontece com outros ex-presidentes aqui, como em outros cantos do mundo.

Especialmente creio que esses sentimentos devem ser nobres em se tratando de alguém que acabou de passar por uma provação recente, que foi um câncer. Todas as pessoas do Brasil, inclusive eu, rezamos por ele.

Quero imaginar que isso não parta dele, seria muito pequeno, muito mesquinho, se esse tipo motivação pudesse povoar a cabeça dele.

O Supremo Tribunal Federal marcou o julgamento do mensalão e o ex-presidente tem pressionado por um adiamento para depois da eleição. Lula não vem se comportando como deveria?

Cabe ao leitor da Folha, aos internautas da Folha, aos brasileiros, fazerem esse julgamento. Eu não quero fazer qualquer tipo de prejulgamento a qualquer pessoa, não é de minha índole.

Recentemente, o sr., num discurso, criticou políticos que se acham deuses e querem se perpetuar no poder. O senhor os classificou de "quinta categoria". Referia-se a Lula?

Numa afirmação genérica, a carapuça deve cair onde couber. Não quero fazer citação que denigra a imagem de quem quer que seja, inclusive a imagem de Lula. 

Nos bastidores, tucanos têm reclamado de seu envolvimento com o caso Cachoeira. O sr. se sente abandonado pelo seu partido?

Só haveria uma possibilidade para que essa assertiva seja correta: só se todo mundo fosse dissimulado demais.

Posso dizer com todas as letras que, se há um partido solidário, esse partido se chama PSDB. Agora, é claro que o partido quer que eu vá à CPI e explique tudo para virar definitivamente essa página.

O jornalista Luiz Carlos Bordoni afirma que recebeu R$ 45 mil de empresa ligada a Cachoeira por serviços prestados à sua campanha. O pagamento foi feito, segundo ele, a pedido de seu ex-assessor especial Lúcio Fiúza, exonerado semana passada.

A minha prestação de contas foi toda aprovada. Todos os pagamentos foram legais. Isso tudo foi feito pelo comitê financeiro, não tive conhecimento.

O Lúcio me disse que jamais fez qualquer depósito, até porque não era da coordenação. Cabe ao jornalista explicar a origem do dinheiro.
Ele disse ainda que recebeu de suas mãos R$ 40 mil.

Não há a menor possibilidade. Não trabalho com dinheiro, quem trata de pagamento de campanha é o comitê financeiro.

Esses episódios levantaram a possibilidade de caixa dois em sua campanha via Cachoeira e Delta. Há essa possibilidade?

Olha, possibilidade de caixa dois existe em qualquer campanha. Estou seguro de que minha campanha foi correta, que todas as prestações de contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral sem irregularidade, sem possibilidade de caixa dois.

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