Reinaldo entrevista e protege Demóstenes

H hoje um clssico encontro entre dois moralistas; o blogueiro pergunta se no pega mal falar tanto com um contraventor e o senador lembra que Carlinhos Cachoeira era um empresrio de sucesso; algum precisa lembrar aos dois que Don Corleone tambm tinha uma lojinha de azeites

Reinaldo entrevista e protege Demóstenes
Reinaldo entrevista e protege Demóstenes (Foto: Divulgação)


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247 - Don Vito Corleone, para quem não assistiu ao maior épico do cinema em todos os tempos, foi o maior mafioso já interpretado nas telas. Mantinha uma rede de negócios ilegais, ancorada no jogo, e comprava policiais, políticos e jornalistas. A fachada, no entanto, era a Genco, uma importadora de azeites sicilianos em Nova York.

Don Carlinhos Cachoeira é uma espécie de Corleone brasileiro. Seus amigos, especialmente o senador Demóstenes Torres, agora lembram que ele é um próspero empresário do setor químico - fez isso em entrevista publicada no blog de Reinaldo Azevedo.

Leia, abaixo, o memorável encontro entre dois moralistas, Reinaldo Azevedo e Demóstenes Torres:

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05/03/2012

às 6:31

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O senador Demóstenes Torres, os “Dirceu’s boys” da Internet e a turma do JEG

Vejam vocês como são as coisas. Carlinhos Cachoeira se tornou célebre quando apareceu num vídeo, em 2004, passando uma grana para Waldomiro Diniz, presidente da Loteria Estadual do Rio, amigão de José Dirceu e da petezada. O amigo daquele que a Procuradoria Geral da República chama “chefe de quadrilha” foi condenado a 15 anos de cadeia. Na semana passada, Cachoeira foi preso por comandar um esquema de jogos de azar. Escutas telefônicas revelaram que ele mantinha conversas freqüentes com políticos do estado dos mais diversos partidos. Entre eles, está o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Muito bem!

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Não é que a turma de José Dirceu na Internet resolveu provocar: “E agora, Reinaldo Azevedo?” E agora o quê? Ora vejam: Demóstenes é articulista do Blog do Noblat, não do meu, mas parece que não dirigiram ao titular daquela página nenhuma indagação. E que fique claro: não escrevo isso em tom crítico. Como Ricardo Noblat publica também textos de terceiros, o que não é o meu caso, acho que faz muito bem em ter Demóstenes entre os articulistas. Só chamo a atenção para este particular para evidenciar o ridículo da coisa.

De resto, vejam com são as coisas. Um: quem pôs a informação em papel impresso sobre as escutas foi a VEJA. Dois: mantenho todos os elogios que fiz ao desempenho do senador Demóstenes Torres até agora. Só não chamo, DO MEU PONTO DE VISTA, a sua atuação de impecável no Senado porque ele apoiou a Lei da Ficha Limpa, e eu a considero inconstitucional. No mais, ele sempre esteve a favor das causas que considerei corretas. Três: se ele fez alguma coisa errada, tem de pagar, como deveria acontecer com qualquer um. Eu não gosto é da impunidade, que tanto bem faz aos “companheiros”.

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E como não há vagabundos que me intimidem ou constranjam, segue abaixo uma entrevista que fiz ontem à noite com o senador Demóstenes — entrevista mesmo, não aqueles boletins oficiais que a turma do JEG faz quando um dos seus financiadores é pego com a boca na botija. Demóstenes lembra, entre outras coisas, que a investigação que resultou na prisão de Carlinhos Cachoeira estava no Ministério Público de Goiás, chefiado por seu irmão — e foi esse irmão que a encaminhou à Justiça Federal. Segue a entrevista.

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BLOG - O senhor é um dos mais severos críticos dos desmandos do petismo. Não pega mal para alguém com esse perfil ser flagrado conversando com Carlinhos Cachoeira?

DEMÓSTENES TORRES - A sua pergunta demonstra que estão querendo politizar essa história pra me atingir. Fui, sou e serei crítico enquanto a linha deles for a que está aí. Se alguém está achando que vai me intimidar com isso, pode tirar o cavalo da chuva. Em segundo lugar, Reinaldo, eu não fui flagrado coisa nenhuma! Flagrado é aquele que é pego fazendo coisa errada. O que é que eles têm? Telefonemas entre mim e Cachoeira? Eles provam o quê?

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Eles provam o quê, senador?

Provam que eu, como a esmagadora maioria dos políticos de cinco Estados, conforme a imprensa divulgou, conversava com ele. Pouca gente sabe fora de Goiás, mas ele é um empresário de sucesso na região, com trânsito na sociedade local, e numa atividade que nada tem a ver com caça-níqueis. Ele é dono de um laboratório de remédios bem-sucedido. Circula na sociedade. Todo mundo — de todos os partidos — fala com ele e com os demais empresários.

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O senhor já foi secretário de Segurança de Goiás, entre 1999 e 2002. Não é impróprio alguém nessa posição ter amizade com um contraventor?

Uma lei votada na década de 1990 em Goiás legalizou esse tipo de atividade no estado. E foi legal até 2007, quando o Supremo Tribunal Federal decretou a inconstitucionalidade das leis estaduais que cuidavam do assunto, por entender que essa atribuição é de competência da União. Então, no tempo em que fui secretário de Segurança, também as Leis Zico e Pelé autorizavam a exploração de alguns jogos no Brasil, inclusive de caça-níqueis e bingos. Portanto, a lei estadual goiana, feita com base nas Leis Zico e Pelé, foi aprovada bem antes de eu assumir a secretaria e declarada inconstitucional depois do escândalo Waldomiro, quando eu já era senador, como todos sabem.

O senhor acha que a imprensa erra ao noticiar?

Eu não! Quem quer censurar são setores da esquerda, não eu. A imprensa que faça o seu trabalho. Se vazaram pra ela, tem de noticiar. Vai fazer com a informação o quê? Estou falando outra coisa. Estou falando sobre vazamento seletivo. É um estranho vazamento. Cadê o conteúdo das conversas?

O senhor recebeu de Cachoeira uma cozinha de presente de casamento, não?

A mulher dele, que é amiga da minha esposa, nos deu uma geladeira e um fogão como presentes de casamento. Essa é a grande acusação? Acho bom lembrar o que já fizeram com Alceni Guerra, que foi esmagado por causa das tais bicicletas, e era tudo uma grande farsa.

Mas que tanto o senhor tinha para falar com Cachoeira?

Nós nos conhecemos, sim. Nossas respectivas mulheres, como eu já disse, são amigas. É normal amigos conversarem, sobre assuntos pessoais, e não há problema algum em conversar ao telefone. E quem me grampeou sabe que converso ao telefone o dia inteiro e atendo a todos que me ligam, das mais altas autoridades às pessoas mais simples. Há muita coisa da vida pessoal de um círculo de pessoas, intimidades, conversa do dia-a-dia. Nada escabroso, não! Mas também não são coisas que digam respeito nem à vida pública nem ao dinheiro público.

Mas existe uma acusação?

É claro que não! E, se existisse, eu seria o primeiro a exigir a completa apuração. Minha biografia não permite a ninguém levantar qualquer dúvida sobre a minha conduta. Agora fiquei sabendo que essa investigação esteve no Ministério Público de Goiás, chefiado pelo meu irmão, que a encaminhou à Justiça Federal em meados do ano passado, pois havia indício de envolvimento de servidor público federal.

Seu irmão então poderia, se quisesse, ter limpado a sua barra?

Primeiro que não havia, nem há, nenhuma barra para se limpar. Mas, ainda que tivesse barra para limpar, ele não teria feito qualquer coisa que não estivesse de acordo com o seu cargo. Não havia nada! Foi meu irmão que levou isso adiante. Preferem esquecer esse dado da questão.

E agora, senador? O que o senhor vai fazer?

Vou enfrentar com a mesma coragem demonstrada em todos os momentos da minha vida. Nunca fugi de luta. Continuarei levando a minha vida pessoal e o meu mandato do mesmo modo, mesmo dada certa realidade surrealista que existe no Brasil. Eu mesmo já tomei as providências. Exijo saber exatamente o que o Ministério Público Federal está dizendo contra mim, se é que está dizendo, porque, até agora, o que sei foi dito pela imprensa. Pedi ao Ministério Público Federal que me permita o acesso ao conteúdo dessa investigação que, repito, não feita contra mim. Vão tentar colar uma pecha em mim para me intimidar, mas não vão, não! Não vão porque não há nada contra mim, e nada fiz de que possa me envergonhar. Em primeiro lugar, fazem celeuma sobre um presente de casamento porque não houve troca de favor. Em segundo lugar, pelo que foi noticiado, eu e vários políticos, de diferentes partidos, falamos com Cachoeira, mas isso não vazou.

O senhor acha que há uma conspiração contra o senhor?

Não lido com teorias conspiratórias. O que sei objetivamente é que o vazamento das conversas, ainda sem conteúdo, buscou me atingir. E eu sou um político inequivocamente oposicionista. De acordo com a imprensa, não é a primeira vez que tenho conversa grampeada. Podem grampear à vontade, não vão encontrar nada. Isso não vai me intimidar, não! Eu continuarei a dizer o que acho que tem de ser dito. Não fiz nada, entro no Senado de cabeça erguida e continuarei a fazer o meu trabalho.

Por Reinaldo Azevedo

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