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Daniele Barbosa Bezerra

Doutora em Educação (UFC), professora, pesquisadora de gêneros biográficos e memorialísticos, contista e cronista.

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A Cadela Fascista no cio

Colocaram Genivaldo dentro do porta-malas da viatura, aprisionando-o em meio a uma nuvem de gás, sob os protestos da população e a impavidez da Cadela Fascista

(Foto: Reprodução)

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Quem pensa que as próximas eleições no Brasil se darão de forma tranquila com ventos democráticos refrescando o clima quente atmosférico e político em que vivemos, não tem noção dos meandros fascistas que permeiam as práticas cotidianas das mãos do Estado, Brasil afora. 

Confesso que muitas vezes começo a escrever uma crônica sobre determinado assunto, mas em meio ao processo de escrita, acontecem tantos outros eventos no país que percebo que o tema, ora eleito por mim para essas linhas,  já ficou no passado. E assim os textos repousam no meu notebook inconformados por não se exibirem, eles são amostrados.

Na semana passada, deparei-me com a Cadela Fascista no cio perambulando pelo meu Ceará e pelo Brasil, babando, sangrando o sangue dos brasileiros, com olhos esbugalhados e garras micóticas, ávida por abocanhar a democracia que já se encontra tão esquálida. 

Fui visitar uma tia que se encontra internada no Hospital Geral do Exército, em Fortaleza, onde passei aproximadamente por uma hora. Ao sair do hospital, o jovem soldado que se encontrava na sentinela me parou e muito constrangido me deu o seguinte recado: “O comando mandou avisar que  caso a Sra. venha novamente ao hospital  terá que tirar o adesivo do carro”. O adesivo é em prol da candidatura do presidente Lula. 

Quando ouvi a advertência do comando, meu sangue latino-americano de uma mulher nordestina ferveu, cresci uns trinta centímetros e devolvi-lhe o recado: “ Diga ao seu comando que o carro é meu e eu coloco o adesivo que eu bem entender onde eu quiser, e que o exército vá  trabalhar com o que é da sua alçada e não fiscalizar adesivo nos carros alheios”.  Saí fumando numa quenga, como se diz por aqui. E passei o dia com o mal-estar de quem se sente invadida.

Dias depois, soube que a Cadela Fascista andou pelo Universidade Federal do Ceará com  a mesma gana por que passou pelo Hospital do Exército.  Simpático à Cadela, o interventor da UFC, Cândido Albuquerque, deu-lhe ração, sob a benção do seu viés autoritário e exonerou o professor Nonato Lima da direção da Rádio Universitária. Inconformados, os representantes de toda a comunidade acadêmica, dentre eles docentes, estudantes e servidores da universidade estiveram no último dia dezesseis, em frente à Reitoria para expressar a solidariedade ao professor Nonato. O professor e jornalista produzia há 26 anos o programa Rádio Livre, um dos melhores da Rádio Universitária, por tratar de maneira precisa e crítica de temas de relevância pública. 

Não satisfeitos, a Cadela Fascista e o seu novo dono raivoso “sugeriram” restrições à difusão de músicas que expressassem a cultura afro-brasileira, como também, a inclusão de programas que dessem visibilidade a argumentos dos negacionistas e extremistas de ultra-direita. Creiam! Isso tudo dentro de uma universidade que já foi considerada uma das melhores do Brasil. 

A Cadela de barriga cheia e satisfeita com o seu intento, despediu-se do interventor com alegria, balançando o seu rabo pulguento e gangrenado e partiu para nova empreitada. Não existe distância que a faça parar, saiu do bairro universitário, o Benfica, e partiu para o posto da Polícia Rodoviária Estadual do Ceará, perto da Ceasa. E lá ficou sendo acarinhada e novamente alimentada, agora por policiais. Como por encanto, susurra para as “otoridades”, em linguagem canina, que parassem o próximo carro que estava se aproximando.  

Os policiais encantados com a inusitada comunicação pararam o alegre condutor do veículo que já estava acostumado em fazer essa travessia, por mais de vinte anos. Botaram o carro do homem de ponta cabeça e ao virem o adesivo no veículo que gritava aos quatro cantos “Fora Genocida”, uma afronta ao seu chefe miliciano, o retiraram do automóvel do rapaz, que perplexo com a atitude imprópria dos ditos policiais, gritava inconformado. Enquanto isso, a Cadela Fascista observava a cena calmamente, lambendo suas feridas putrefadas.  

Não satisfeita, despediu-se dos seus mais novos aliados e foi para Sergipe. A caminhada foi longa e cansativa, mas o fascismo é sedento por novas vítimas e não tem exaustão que estanque os seus intentos. Enquanto caminhava em meio ao sol escaldante, sua fúria, sua fome e sua sede aumentavam. Passou por vários municípios sergipanos, mas foi em Umbaúba que o seu plano teve repercussão mundial, fazendo com que se sentisse mais vaidosa. 

Aproximou-se de Policiais Rodoviários Federais que se encontravam fiscalizando só deus sabe o quê. Quando eles a viram aparentemente tão frágil e cansada, deram-lhe água e o resto de comida que havia sobrado do almoço. Apesar de sua aparência repugnante, ela tinha seus encantos, e assim, com um olhar, apontou para uma motocicleta que se aproximava, cujo motorista encontrava-se sem capacete, infração gravíssima segundo o Código de Trânsito Brasileiro, menos para o sujeito que ocupa o cargo mais alto de país. Os policiais entenderam o recado da Cadela e pararam o guiador da motocicleta.

O brasileiro Genivaldo, homem de 38 anos, foi imobilizado. Em seguida, o colocaram dentro do porta-malas da viatura, aprisionando-o em meio a uma nuvem de gás, sob os protestos da população que assistia à cena horrorizada e sob a impavidez da Cadela Fascista que se regozijava com a truculência dos seus amigos adestrados. Todavia, quando a fétida Cadela menos esperava, por trás da viatura, surge uma enorme Águia, com asas negras lustrosas, olhos afiados e bico ameaçador que lhe diz: Vaza. Você já era. Quem manda aqui agora sou eu.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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