Bolsonaro já deu metade do golpe
"É no armamentismo que se pode ver claramente um projeto golpista e antidemocrático", escreve Eduardo Guimarães
Por Eduardo Guimarães
Ninguém sabe se o Alto Comando das Forças Armadas ou se as tropas aliciadas por Bolsonaro irão apoiar sua inexorável tentativa de golpe ao fim do processo eleitoral de 2022. Todavia, seu projeto autoritário atingiu estágio tremendamente avançado.
Uma das principais características das ditaduras é a inimputabilidade do ditador e de seus aliados. Ora, todos sabem que o atual presidente, sua família problemática (para dizer o mínimo) e seus aliados mais próximos estão mostrando invulnerabilidade diante da lei. O deputado bolsonarista Daniel Silveira, por exemplo, ignora a decisão do STF de usar tornozeleira e nada acontece.
Mas essa não é a principal característica do processo de fechamento do regime que ele demonstra claramente acalentar. Podemos citar, por exemplo, o aliciamento dele às tropas das polícias militarizadas brasileiras, bem como às polícias civil e federal.
Todos os meses, Bolsonaro se reúne e faz discursos políticos e promessas a tropas -- diretamente, sem intermediação dos comandantes dessas forças. Além disso, aumenta salários, dá bonificações, cria programas habitacionais, entre outros, colocando a profissão de polícial ou soldado acima das outras.
A reforma da previdência, por exemplo, que praticamente tirou dos brasileiros a possibilidade de se aposentar em vida, não atingiu os militares. Agora, tenta aprovar um projeto que permitiria a policiais matarem sem ser questionados ou sofrerem processos. Deu a isso o pomposo nome de 'excesso exculpante’ .
Esse projeto infame partiu de Iniciativa apresentada à Câmara Federal pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, e é considerado prioridade pelo governo.
A violência policial, por sua vez, vem sendo incentivada pelo governo. Em toda a sua história, nunca se falou tanto da Polícia Rodoviária Federal e nunca, jamais, viram-se excessos como os praticados na atualidade.
A corrupção da PRF que Bolsonaro promove o fez vestir a própria esposa com o uniforme da corporação.
Mas é no armamentismo que se pode ver claramente um projeto golpista e antidemocrático. Os bolsonaristas mais radicais, civis ou militares, estão se armando até os dentes. Inclusive com armas de grosso calibre.
Vale notar que quem está se armando, neste país, são, basicamente, os bolsonaristas. A esquerda não se arma e a grande maioria dos cidadãos nem tem poder aquisitivo suficiente para comprar a mais barata das armas -- o revólver Taurus RT85, Calibre 38, custa R$ 2,9 mil.
Bolsonaro baixou impostos e reduziu drasticamente as exigências para compra de armas. Enquanto isso, o número de clubes de tiros dobrou nos três primeiros anos do governo Bolsonaro. Desde 2019, o Exército autorizou 871 empresas a entrarem no mercado.
Quando ele diz que "Povo armado jamais será escravizado", cita uma ameaça que não existe. Não é capaz de citar um único fato que autorize dizer que as pessoas de poder aquisitivo elevado que estão comprando armas sofreram qualquer ameaça de escravização.
As intenções de Bolsonaro são ridiculamente óbvias. Não vê quem não quer. Resta saber quando e como ele dará os outros 50% do golpe. Alguns arriscam dizer que será ao fim das eleições de 2022 ou nos próximos quatro anos, se vencer as eleições.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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