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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Foto com Biden que Bolsonaro foi buscar vai sair fora de foco

    "A foto ao lado de Biden que Bolsonaro foi buscar, vai sair tremida. O foco vai estar no crime de repercussão mundial", escreve Denise Assis

    (Foto: Reuters)

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    Por Denise Assis, para o 247 

    Usando frases cantochão, Bolsonaro se dignou a falar dois dias depois, do desaparecimento do indigenista Bruno de Araújo Pereira e do jornalista Dom Phillips, no domingo (05/06), no trecho compreendido entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no rio Itaquaí (afluente do Rio Javari), no estado do Amazonas. Ainda assim, para fazer como de costume, culpar as vítimas pelo acontecido:  

    "O que nós sabemos até o momento? Que no meio do caminho teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal e estão sendo investigadas. E, realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. Tudo pode acontecer. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente. As Forças Armadas estão trabalhando com muito afinco na região”, disse, sem mover um músculo da face para demonstrar consternação.

    Fosse ele dado a leituras, pensaríamos que estivesse falando da situação descrita pelo jornalista e romancista Antonio Callado, no livro “O Esqueleto da Lagoa Verde” - lançado em 1953 e reeditado em 2010 -, em que descreve o desaparecimento do coronel britânico Percy Harrison Fawcett, este sim, um divagador que se embrenhou no ano de 1925 pelo sertão, na região do Xingu, em busca de um tesouro descrito pelos bandeirantes em um documento do século XVIII, que ele levava consigo. Nunca mais foi visto. Fawcett, sim, perdeu-se em busca de aventura.  

    Entidades ligadas à defesa dos povos indígenas desmentem a fala de Bolsonaro, sobre o “afinco” nas buscas. Praticamente com um pé no avião que o levará ao encontro de Joe Biden, para a abertura da Cúpula das Américas, em Los Angeles, ele tentou “abafar” e não se deixar “contaminar” pelos fatos dantescos ocorridos na região, pois sabe que será questionado lá fora e não terá como escapar de dar explicações.  

    Até ontem (06/06), o governo relutava em iniciar as buscas pelos desaparecidos, só começando a atuar após a pressão da Embaixada da Inglaterra e forte mobilização pelas redes sociais. Hoje, em nota, a União dos Povos indígenas do Vale do Javari, bem como a Articulação dos Povos Indígenas, a Opi e a COIAB, também em luta pela causa, denunciaram: “Com exceção dos seis policiais militares e de uma equipe da Funai, que iniciaram as buscas ainda ontem, junto com a equipe da Unijava, as informações acerca do cenário das buscas revelam a omissão dos órgãos federais de proteção e segurança, assim como das Forças Armadas”, apontaram.

    A esposa de Dom Phillips, a brasileira Alessandra Sampaio escreveu: “Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida”.

    E parece que infelizmente ela tem razão. Uma testemunha que faz parte da equipe de 13 vigilantes indígenas que circulavam com o jornalista e o indigenista pela região do Vale do Javari revelou, sob anonimato, que a dupla foi vítima de uma emboscada de um grupo armado, a bordo de um barco 60HP, visto por eles, no rio.  

    Conforme relatos, Phillips buscava subsídios para um livro e Bruno Pereira estava licenciado da Funai, desde o desmonte do trabalho em defesa da causa e passou a militar por ela de forma independente. As esperanças de um desfecho favorável são remotas. A Amazônia é hoje uma terra de ninguém, entregue à invasão dos garimpos ilegais e rota de tráfico de drogas. Pelo visto, a foto ao lado de Biden que Bolsonaro foi buscar, vai sair tremida. O foco vai estar no crime de repercussão mundial.   

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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