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    Eduardo Vasco

    Jornalista especializado em política internacional

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    Indústria farmacêutica por trás do PL da castração química?

    A indústria farmacêutica é um dos mais poderosos e influentes ramos industriais e econômicos do mundo

    (Foto: Divulgação )

    A possibilidade de castração química de pedófilos não era parte do Projeto de Lei 2.976/2020, de autoria da deputada Delegada Katarina (PSD-SE). Ele previa apenas um cadastro nacional de pedófilos. Foi uma emenda a esse PL apresentada pelo deputado Ricardo Salles (NOVO-SP) que estipulou a castração química como pena para os pedófilos.

    Os debates-relâmpago que ocorreram se deram em torno de questões morais, principalmente, para defender a emenda. Finalmente, 267 deputados votaram a seu favor e 84 se posicionaram contra, tendo sido, portanto, aprovada. Em geral, o argumento raso de que estuprador tem de ser punido da forma mais rigorosa possível foi o mais utilizado, tanto pelos deputados que aprovaram a emenda quanto pelos seus defensores nas redes sociais.

    Mas os deputados da direita, cuja maioria votou a favor utilizando esse argumento, não estão preocupados com questões morais. No mesmo dia da votação, descobriu-se que a polícia está investigando o deputado Alcides Ribeiro (PL-GO) por possível abuso sexual de menor. Ele votou a favor da emenda que prevê a castração química para pedófilos.

    A castração química é um procedimento médico para reduzir a produção de testosterona e bloquear os hormônios. Os medicamentos para esse procedimento são produzidos, naturalmente, em laboratórios farmacêuticos. Os líderes na produção desse tipo de medicamento são os grandes laboratórios, como a Bayer, Pfizer e AstraZeneca.

    A indústria farmacêutica é um dos mais poderosos e influentes ramos industriais e econômicos do mundo. Em 2023, seu mercado global atingiu receitas de cerca de 1,48 trilhão de dólares. No entanto, há um sintoma de crise, ao menos em algumas dessas corporações. No mês passado, as ações da Bayer chegaram ao menor nível em 20 anos. A CNN relata que a companhia teve de cortar postos de trabalho e reduzir custos, mas mesmo assim terá perda de lucros em 2025.

    Empresas como Bayer e outras têm uma ligação direta com o agronegócio. A Bayer comprou a poderosa Monsanto em 2018 e tem uma gama de produtos, serviços e sistemas voltados ao agro (inclusive o slogan “se é agro, é Bayer”). Além disso, os produtos químicos e a biotecnologia produzidos pelas farmacêuticas, como os fertilizantes e os agrotóxicos, abastecem o agro.

    O lobby da indústria farmacêutica, portanto, tem muitos interesses em comum com o do agronegócio. Segundo o Repórter Brasil, seis lobistas da Bayer, Syngenta e da associação CropLife Brasil participaram da delegação brasileira na COP29 no Azerbaijão. No Congresso Nacional, esse lobby também costuma desembolsar milhões de reais para eleger centenas de representantes.

    Um dos principais representantes desses interesses no Congresso é precisamente o deputado Ricardo Salles. A campanha fracassada de Salles para deputado federal em 2018 foi financiada por dezenas de empresários do agronegócio. O terceiro maior doador, por sua vez, foi Ronaldo de Carvalho, da Drogaria São Paulo, uma das maiores redes de farmácias do Brasil. Como ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Salles ficou famoso por “deixar passar a boiada” com uma política que favoreceu substancialmente o agronegócio e o uso de produtos químicos na agricultura. O observatório De Olho nos Ruralistas informou no ano passado que a campanha vitoriosa para deputado federal de 2022 recebeu mais de R$ 700 mil de 21 usineiros (42% do que ele recebeu de pessoas físicas), por exemplo. Marcos Ermírio de Moraes, herdeiro da Votorantim e que também atua no ramo de fertilizantes, doou R$ 250 mil para essa campanha de Salles.

    A ideologia é o que menos move um deputado. Pode ser esse o caso, novamente.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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