Jorge Bastos Moreno, "O Repórter do Poder", teria sido demitido por esses dias
Assista à série documental “O Repórter do Poder” sobre o jornalista
Jorge Bastos Moreno, que está na Globoplay. Ela não é apenas a linda
história de um grande jornalista negro que penetrou e esmiuçou os
poderes da República como ninguém. Ela é parte da história política do
Brasil.
Eu já era apaixonado por Moreno em vida e a série é uma daquelas
emoções que nos faz encantar por aquela figura humana, profissional e
delicada que só Jorge Bastos sabia ser. Assistam e se apaixonem pelo
homem e profissional.
Já acompanhava muito antes a trajetória profissional de Moreno, mas
foi em 1993 que nos cruzamos na avenida do CPA, em Cuiabá. Eu era
coordenador de Comunicação da prefeitura da capital mato-grossense,
então administrada por Dante de Oliveira.
O autor da emenda das Diretas, em plena campanha para o governo do
Estado, entre outras ações, resolveu homenagear o “Senhor das
Diretas”, seu grande parceiro na memorável campanha, morto exatamente
um ano antes, em 12 de outubro de 1992.
O cerimonial da prefeitura cuidou dos convidados políticos,
personalidades, artistas e lideranças nacionais, além de familiares de
Ulisses. Eu e minha equipe, liderados pelo secretário de Comunicação
Tinho Costa Marques, cuidamos do convite aos colegas jornalistas.
“Tenho duas prioridades de jornalistas de Brasília: Jorge Bastos
Morenos e Delis Ortis, que são cuiabanos. São meus convidados
especiais de Brasília”, me orientou Dante. E lá fui eu atrás de
telefones e telex (isto, telex, era o que tínhamos de mais eficaz na
época em que o fax estava engatinhando e logo seria suplantado pelo
e-mail).
Localizei Moreno, que de imediato aceitou o convite e chegou lá ainda
magro. Delis ficou nas cadeiras dedicadas às autoridades, convidados
de honra. Moreno ficou transitando pelo ambiente, em busca de
bastidores. Afinal, estavam ali políticos, personalidades e artistas
que participaram do maior movimento democrático brasileiro em plena
ditadura, que era para derrubá-la.
Poucos meses antes daquele outubro de 1993, mais exatamente em março,
se completariam dez anos do início da campanha das Diretas, cuja
emenda constitucional apresentada por Dante seria derrotada no
Congresso Nacional um ano depois.
Aquele inquieto repórter não perdeu a oportunidade.
Conversamos com mais tempo quando ele foi transmitir seus textos para
o Globo no espaço que reservamos para os repórteres em barracão
improvisado do outro lado do que é hoje a Praça Ulisses Guimarães, na
avenida da CPA, ali na entrada para o Centro Político e Administrativo
(CPA), onde ficam as sedes dos poderes de Mato Grosso.
Fui reencontrar com Moreno 20 anos depois, quando ele recebeu em sua
casa no Lago Norte (que ele dividia a permanência com outra no Rio) um
grupo de jornalistas cuiabanos e que atuaram em Mato Grosso. Nos
serviu uma deliciosa peixada cuiabana.
Estas lembranças me chegam no momento em que as Organizações Globo
estão demitindo dezenas de jornalistas, muitos deles do naipe de Jorge
Bastos Moreno. Então, assistindo à série que o tem como protagonista,
surge logo a pergunta: estaria Moreno entre os demitidos desses dias?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: