Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br
Menos Globo, mais povo: imagens do histórico 29M que a velha imprensa tentou esconder e não conseguiu
O colunista Joaquim de Carvalho analisa a cobertura da Globo do 29M e conclui que a rede da família Marinho quer a queda de Bolsonaro, mas, a exemplo do que ocorreu na Nova República, com o povo como coadjuvante, não protagonista
A Rede Globo levou dois dias para noticiar com decência mínima um dos eventos políticos mais importantes do ano, a manifestação de 29 de maio por vacinas e, sobretudo, pela saída de Bolsonaro.
Mau jornalismo? Não apenas.
A Globo se encontra num dilema: ela quer a saída de Jair Bolsonaro porque sabe que a empresa não resiste a um segundo governo dele.
Mas, a exemplo do que ocorreu em 1985, quando a ditadura militar foi derrotada, a rede da família Marinho quer a saída de Bolsonaro sem que o povo seja protagonista.
Sem povo na rua, Bolsonaro não cai. Mas que essa participação seja coadjuvante, é certamente o raciocínio da Globo.
Na época da campanha das diretas, em 1984, a emissora minimizou a importância de um ato gigantesco na Praça da Sé, em São Paulo.
A reportagem exibida no Jornal Nacional podia ser entendida como a da comemoração pelo aniversário da cidade. Uma confusão proposital.
Agora é a mesma coisa.
Noticiar a manifestação no calor dos acontecimentos, no sábado, teria um impacto. Noticiar mais de 48 horas depois, outro.
E observe-se que a emissora deu mais destaque para a repercussão do ato do Congresso do que para as manifestações em si.
Não foi por acaso.
Por isso, é preciso valorizar a participação popular nessas manifestações em vez de comemorar a cobertura tendenciosa da Globo.
A velha imprensa já não tem o peso de antes, como demonstrou a eleição de Bolsonaro — com pouco espaço na mídia, mas refletindo um movimento que tem na sua base a semente do fascismo, ele chegou à presidência.
No resgate da democracia, Globo e os demais veículos da velha imprensa não devem ser descartados, é óbvio, mas é prudente que não sejam supervalorizados.
O compromisso deles é com um projeto neoliberal, que é antipovo.
Valorizemos iniciativas como de Michele Gammal Hazan. Ela é estudante de Ciências Sociais da PUC em São Paulo, tem 18 anos, e foi com sua câmera à Paulista e fez registros muito bons.
"Acredito que o fotojornalismo não seja apenas um meio de representação histórico da realidade e de transmissão de informações, mas também um meio de fazer com que dores que por tanto tempo foram caladas e desprezadas sejam finalmente ressoadas e tratadas com seriedade”, disse. Veja as algumas das fotos dela abaixo.
Ou o Companheiro Fernandes — é assim que ele quer ser chamado. Ele está sempre nas manifestações populares em São Paulo e, rotineiramente, me envia registros, como este, no pôr do Sol na Paulista, sábado passado.
Os registros da futura socióloga Michele e do Companheiro Fernandes fazem a diferença. Olhemos mais para eles e menos para a Globo.
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Algumas das fotos de Michele Gammal Hazan:
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.