Mentira e má conduta política, armas de Biden no rastreamento da origem do novo coronavírus
“O chefe da Casa Branca aponta o dedo acusador à China e manda seus órgãos de espionagem provarem que o vírus da covid-19 foi fabricado no gigante socialista asiático”, escreve José Reinaldo Carvalho, editor internacional do Brasil 247
No próximo dia 26 de agosto termina o prazo de 90 dias dado pelo chefe da Casa Branca, Joe Biden, para que as agências de espionagem dos Estados Unidos investiguem sobre a origem do novo coronavírus. Nesta sexta-feira (6), foram divulgadas pelo site de notícias russo Sputnik e a rede estadunidense de televisão CNN informações de que essas agências teriam conseguido obter dados genéticos de amostras de vírus que têm sido estudados no Instituto de Virologia de Wuhan. e estão analisando esses dados, que segundo as mesmas fontes, podem ter sido hackeados de computadores conectados a servidores externos baseados na nuvem que estiveram envolvidos na criação e processamento de dados.
O presidente dos Estados Unidos decerto tem prerrogativas plenipotenciárias para ordenar o que quer que seja de seu alvitre aos órgãos direta ou indiretamente subordinados à sua Administração. Desde que, por óbvio, as investigações dos seus serviços secretos se limitem aos assuntos estadunidenses e sejam feitas nos seus limites territoriais. Seguramente, não é direito do presidente dos Estados Unidos, de acordo com o espírito e a letra das normas internacionais, violar a soberania nacional de outros países.
Uma investigação séria sobre algo que provoca tantos danos à humanidade - mais de 200 milhões de infectados e mais de 4 milhões de mortos (até 5 de agosto) - deveria ser objeto de investigação conduzida por órgãos de governança global, quiçá a OMS, a agência credenciada pelas Nações Unidas para gerir os assuntos de saúde pública em âmbito internacional. Mas o que se observa é que os Estados Unidos estão politizando a questão do rastreamento da origem do novo coronavírus e tornando-a instrumento da guerra fria que decidiram mover contra a China.
A ordem do presidente Biden se baseia em graves distorções. É uma determinação que se volta contra terceiros países soberanos e capazes de gerir seus próprios assuntos. O chefe da Casa Branca tomou a decisão de pôr os seus serviços secretos na missão de investigar a origem do vírus da covid-19 partindo do falso pressuposto de que a pandemia tem um culpado, para o qual aponta o dedo acusador: a República Popular da China.
Isto mostra que o presidente Biden não ordenou uma busca honesta e transparente da origem do novo coronavírus. O propósito é que as suas agências de espionagem "provem" que é o gigante socialista asiático a origem do mal.
Biden está repetindo a retórica do ex-presidente Donald Trump, revelando mais uma vez aos olhos dos que se iludem que em temas sensíveis de política externa não há diferenças essenciais entre democratas e republicanos.
O líder democrata se insurge contra a evidência dos fatos, já que a tese de que o novo coronavírus pudesse ter saído de um laboratório chinês foi afastada, em fevereiro passado, pela equipe internacional de peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) que esteve na China.
A China nega com veemência que o vírus tenha escapado de um dos seus laboratórios. Ao acusá-la, o governo dos Estados Unidos dissemina teorias da conspiração sobre as origens da pandemia. A equipe de especialistas da OMS que esteve na China concluiu que a hipótese de o vírus ter sido gerado em laboratório é "extremamente improvável". O próprio cientista estadunidense Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA e conselheiro médico chefe do presidente Joe Biden, disse que "o mais provável" é que o vírus tenha surgido na natureza.
O Ministério das Relações Exteriores da China já se pronunciou oficialmente sobre as acusações do governo dos Estados Unidos, enfatizando que são calúnias e fatos distorcidos, sem fornecer qualquer evidência. Baseiam-se em relatórios que não têm nenhuma confiabilidade nem base científica.
As acusações do governo Biden à China e a ordem de investigar a origem do novo coronavírus exclusivamente naquele país representam uma manipulação interessada, uma politização do rastreamento com finalidades que nada têm a ver com o interesse de realmente encontrar a origem da pandemia. Enfim, uma expressão da má conduta política.
Os Estados Unidos pretendem utilizar o rastreamento do vírus na execução de sua política externa de contenção da China, visando a frear o desenvolvimento do país e suas relações internacionais normais e plenas com a comunidade internacional.
É uma mentira que equivale à que o governo norte-americano inventou em 2003 para ter uma justificativa para a agressão militar ao Iraque.
Cresce a percepção sobre isso em todo o mundo. Por isso mesmo, 300 representantes de 100 países e regiões assinaram no início de agosto uma declaração conjunta opondo-se à politização do trabalho de rastreamento da origem do novo coronavírus. A declaração foi enviada ao Secretariado da Organização Mundial da Saúde (OMS) na segunda-feira, 2 de agosto.
A China retruca a acusação dos Estados Unidos pedindo uma investigação sobre o Laboratório de Pesquisa de Defesa Biológica do Naval Medical Research Center em Fort Detrick, no estado de Maryland, que tem um histórico de armazenamento de vírus mortais. Historicamente, Fort Detrick foi o centro do programa de armas biológicas dos EUA de 1943 a 1969. Desde a interrupção desse programa, ele hospedou a maioria dos elementos do programa de defesa biológica dos Estados Unidos.
Em julho de 2019, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA enviaram uma carta a Fort Detrick, pedindo-lhe que encerrasse a maioria de suas operações por questões de segurança.
No mesmo mês, doenças respiratórias de origem desconhecida começaram a aparecer no norte da Virgínia. A mídia noticiou um surto em grande escala de EVALI - um acrônimo para lesões pulmonares associadas ao cigarro eletrônico - em Wisconsin, que se espalhou por vários estados dos EUA.
Em setembro, em Maryland, o número relatado de pacientes com EVALI dobrou. A doença tem sintomas muito semelhantes aos da Covid-19.
O mundo se assusta com as possibilidades de produção de armas biológicas em Fort Detrick, onde estão cientistas capacitados para isso e são armazenadas as toxinas.
Notícias veiculadas recentemente pela mídia chinesa rememoraram que Fort Detrick teve laços estreitos com a Unidade 731, uma unidade de pesquisa e desenvolvimento de guerra biológica do Exército Imperial Japonês, que conduziu experimentos humanos em prisioneiros de guerra e raptou civis no nordeste da China durante a Segunda Guerra Mundial. Foi relatado que Fort Detrick comprou os dados de guerra biológica da Unidade 731 por 250.000 ienes, e o líder da unidade, Shiro Ishii, foi nomeado consultor de armas biológicas nas instalações do Exército dos EUA.
Tudo isso mostra a pertinência do pedido das autoridades e cientistas chineses de que seja feita uma investigação séria em Fort Detrick, sob supervisão internacional.
Mas os EUA se comportam como os mafiosos italianos na aplicação da lei da omertá.
Uma pesquisa de opinião pública realizada pelo jornal Global Times revela que 25 milhões de chineses assinaram uma petição para investigar o laboratório de Fort Detrick sobre as origens da covid-19. Outra sondagem, conduzida pela CGTN com internautas do mundo nos seis idiomas oficiais da ONU - inglês, chinês, francês, espanhol, russo e árabe - perguntou se a Organização Mundial da Saúde (OMS) deve investigar os Estados Unidos como parte do estudo de rastreamento da origem do coronavírus. Segundo a Rádio Internacional da China, 83,1 por cento dos entrevistados acham que sim.
Nota-se que a lei da omertá americana contraria a opinião científica, as convenções internacionais e o próprio senso comum da opinião pública. A verdade está nos fatos e acabará prevalecendo, quando então o mundo poderá contar com a combinação entre ciência e cooperação internacional genuína para combater flagelos como a covid-19.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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