TikTok sai da Rússia, Maduro e Biden conversam, Finlândia fala em Otan; Putin cada dia mais isolado
Mauro Lopes escreve sobre os movimentos dos últimos dias em função da decisão de Putin de invadir a Ucrânia, que indicam seu isolamento brutal
Por Mauro Lopes
Desde a última sexta-feira, uma sucessão de fatos indicou que, do ponto de vista político, a decisão de Vladimir Putin de invadir a Ucrânia levou-o a um isolamento sem precedentes no cenário internacional e abriu uma avenida para os EUA.
Alguns desses fatos:
No domingo (6), de maneira inesperada a gigante chinesa TIkTok anunciou que está suspendendo suas operações na Rússia. A medida foi tomada depois que o Parlamento russo aprovou, na sexta-feira, lei que prevê até 15 anos de prisão a quem publicar notícias consideradas falsas sobre as Forças Armadas e a guerra. Na Rússia, é proibido até o uso da palavra “guerra” para referir-se à guerra. A decisão acontece logo depois de a CNN realizar o mesmo movimento, assim como um punhado de mídias ocidentais. A saída do TikTok representa um golpe especialmente doloroso para Putin, pois até agora a narrativa russa era de uma ação ocidental contra seu país, com o banimento das mídias estatais russas da Europa e a censura sobre elas no Facebook, YouTube, Google e Twitter. Não é mais. A maior expressão chinesa nas plataformas globais entrou no jogo -contra Putin.
No sábado (5), uma iniciativa impensável antes da guerra: uma aproximação entre Venezuela e EUA. Autoridades de alto escalão dos EUA embarcaram para a Venezuela para se reunir com o governo do presidente Nicolás Maduro. Segundo o New York Times, a viagem faz parte dos esforços do governo Biden de “separar a Rússia de seus aliados internacionais restantes em meio a um crescente impasse sobre a Ucrânia”. Segundo um dos participantes das negociações, o governo Maduro recebeu bem a iniciativa de Biden. É óbvio que a ação não é feita pela “bondade de Biden”, mas ele se aproveita do isolamento de Putin e começa a avançar para trazer para a área de influência dos EUA ou pelo menos neutralizar um aliado russo. Para Maduro e o povo venezuelano, pode significar o retorno à economia ocidental e a perspectiva de retomada do crescimento. É cedo para dizer no que vai dar a iniciativa, mas a existência dela é expressiva em si mesma.
Na sexta-feira (4), Biden recebeu na Casa Branca o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö. Putin conseguiu lançar a Finlândia e a Suécia nos braços de Biden e da Otan, depois da invasão e da ameaça (em 25 de fevereiro) de ação militar contra os dois países se eles solicitarem ingresso na Otan. Os dois países são historicamente neutros e, membros da União Europeia, nunca cogitaram ingressar na Otan.
Antes da reunião com Biden, pesquisas nos dois países indicaram uma virada na opinião pública de ambos: pesquisa encomendada pela empresa pública de comunicação Yle apontou que 53% dos finlandeses apoiam a entrada da Finlândia na Otan. Na Súecia, levantamento do instituto Demoskop mostrou na sexta-feira que 51% dos suecos agora são a favor da adesão à Otan.
Durante o encontro com Niinistö, Biden telefonou para a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson e, em seu Twitter celebrou: “Os dois países são valiosos parceiros dos Estados Unidos e da Otan”. Um espaço e um político que Putin entregou de bandeja a Biden. Veja o tuíte:
São apenas três exemplos de apenas três dias que indicam: a surpreendente invasão russa levou Putin a um isolamento histórico, quando ele vinha de uma situação de crescente protagonismo e capacidade de diálogo e alianças com a Europa e o mundo (tema de meu artigo anterior).
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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