"Lucro com ideologias e extremismo nas redes sociais é um risco à democracia", diz pesquisadora
"Diante desse cenário, esse mercado tem que ser seriamente regulado e isso é urgente. Caso contrário, arriscamos nossa democracia e isso nos custará muito caro”, afirma a diretora do NetLab, da UFRJ, Rose Marie Santini
247 - A diretora do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rose Marie Santini, defende a necessidade de uma regulação urgente das grandes empresas de tecnologia para combater “o financiamento de conteúdos nocivos nas redes” para evitar riscos à democracia.
“Ideologias e extremismo viraram mercadorias muito lucrativas. Diante desse cenário, esse mercado tem que ser seriamente regulado e isso é urgente. Caso contrário, arriscamos nossa democracia e isso nos custará muito caro”, afirmou Santini ao jornal O Estado de S. Paulo.
Na semana passada, o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, determinou a suspensão de monetização de canais bolsonaristas envolvidos na divulgação de fake news. A receita dos 14 canais que tiveram os recursos bloqueados gira em torno de R$ 15 milhões por ano.
Para ela, não existe “transparência sobre o que acontece dentro das plataformas”, “Não sabemos como essas empresas classificam o conteúdo, o que elas retiram, o que não retiram, o que impulsionam, o que escondem, e por que o fazem. Por ser uma caixa-preta e não ter transparência, estamos no escuro. Precisamos de regulamentação, mas, antes de tudo, precisamos de um debate qualificado, baseado em dados e informações sobre o que acontece dentro dessas plataformas”, ressaltou.
“O que observamos é que o extremismo e o comportamento polarizado tornaram-se muito lucrativos. As plataformas conseguiram capitalizar o fenômeno e inventaram um modelo de negócio em torno disso. Quanto mais usuários se indignam com posições contrárias às suas, mais se envolvem na participação e na produção de conteúdo para as plataformas e, assim, mais a máquina de dinheiro roda”, afirma.
Na entrevista, Santini também criticou as alterações no Marco Civil da Internet propostas por Jair Bolsonaro. “Essa mudança impediria que qualquer tipo de filtro fosse colocado e que qualquer conteúdo pudesse ser retirado, o que modificaria toda a estrutura da internet e das redes sociais. Atualmente, as big techs usam filtros que retiram de suas plataformas uma série de conteúdos considerados inapropriados, como pedofilia, pornografia, violência extrema, automutilação, nudez, terrorismo e material protegido por direitos autorais".
"Para retirar esses conteúdos, as plataformas usam estratégias de bloqueio automáticas, com ajuda de inteligência artificial, combinadas com o trabalho de um exército de moderadores que interpretam e analisam o que deve ser retirado. Se a regra é alterada e nenhum conteúdo passa a poder ser retirado sem ação judicial prévia, todo tipo de conteúdo, incluindo os citados, necessariamente deverão permanecer nas plataformas”, completou.
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