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    Gabi da Pele Preta: “até eu me entender enquanto mulher preta foi um processo”

    A cantora e compositora pernambucana, que lançou o primeiro disco após 15 anos de trabalho, com recursos próprios, indaga: “por que nós somos silenciadas o tempo todo?”. O cantor e compositor indígena Edivan Fulni-ô, que se enxerga como “índio preto”, também participou do debate. Assista

    Gabi da Pele Preta (Foto: Reprodução)

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    247 - Ativismo musical foi o tema do programa “Um Tom de resistência”, apresentado por Ricardo Nêggo Tom na TV 247, na última semana. O posicionamento e o engajamento de artistas nas causas sociais e políticas que têm movimentado o País foi o foco do debate, que trouxe como convidada a cantora pernambucana Gabi da Pele Preta e o cantor Edivan Fulni-ô, de Salvador, que se reconhece como “índio preto”.

    Pernambucana da cidade de Caruaru, Gabi da Pele Preta explica, durante a conversa, que pratica o seu ativismo exercendo a sua representatividade como mulher preta. “Sempre tive a necessidade de imprimir no meu trabalho artístico a questão da mudança da estrutura. Desde muito criança, eu via o meu pai, que era professor de História, trabalhando alguns conteúdos alinhados com o fazer artístico de alguns artistas em sala de aula. E eu sempre fiquei muito atenta a esses artistas, e por que ele os trabalhava em sala de aula. E eu entendi que eles faziam uma arte não apenas voltada ao entretenimento, mas era uma arte engajada. Eu pensava: ‘se um dia eu for artista, é esse tipo de artista que eu quero ser’”, conta.

    Gabi falou sobre o engajamento de muitos artistas do atual cenário musical brasileiro, destacando o papel da internet nesse processo e chamando a atenção para as consequências do racismo estrutural para a representatividade da arte produzida por mulheres pretas. “Começamos a entender que existiam, de fato, camadas muito profundas que precisavam ser mexidas. Até eu me entender enquanto mulher preta foi um processo. Depois entender o que isso implicava na minha vida, na falta de acesso e quais os lugares que deixei de acessar por ser uma mulher preta. Por exemplo, eu tenho 35 anos de idade, 15 de trabalho e só agora consegui lançar o meu primeiro single autoral (“Revolução” – 2021), usando recursos próprios. O que implica a estrutura no silenciamento de mulheres pretas como eu, e porque nós somos silenciadas o tempo todo? Porque nós temos uma pauta que não interessa, porque as pessoas não querem discutir problemas de fato. E a internet nos permitiu forjar os nossos próprios espaços e trazer essas discussões à tona.”

    ‘Índio preto’

    Edivan Fulni-ô, cantor, compositor e ativista, que se denomina um “índio preto”, começou sua participação no programa falando sobre as origens de sua arte ativista. “A minha trajetória de vida é a principal escola para o meu ativismo. Eu sou indígena do povo Fulni-ô, que fica em Águas Belas (PE), mas eu nasci em Salvador na Bahia, que também é terra indígena. Só que eu não cresci em Salvador. Meus pais se separaram quando eu ainda era criança, e eu fui criado na aldeia Pataxó Hã Hã Hãe, no sul da Bahia, a mesma aldeia onde viveu o indígena Galdino, queimado e morto em Brasília em 1987. São várias camadas de entendimento sobre o meu ser, que forjaram a minha escola de ativismo. Eu sempre tive que lidar com as questões raciais, por ser um indígena que não se encaixa no estereótipo que a sociedade conhece através dos livros e da mídia. A imagem do índio romantizado, de cabelo liso. Eu sofri a cobrança desse estereótipo indígena preso na História. Me entender como indígena foi uma série de processos, mesmo crescendo na aldeia e estando sempre nas reuniões da coletividade dos Pataxós.”

    O compositor de “Não sou índio para gringo ver” descreve a sua experiência universitária como determinante no seu processo de reconhecimento social e político enquanto indígena. “Eu comecei a me entender como indígena, politicamente falando, na universidade, quando ingressei na UEFS, em Feira de Santana (BA), e conheci outros indígenas do Nordeste, do povo Tuxá, Tupinambá, Pankararu, Kaimbé. Ter contato com esses outros indígenas que, apesar das realidades diferentes, tinham muitas coisas próximas da minha, fez com que eu fosse abrindo a minha mente, e desconstruindo essas camadas que a sociedade tinha jogado sobre ela desde que eu era criança. E foi na época da universidade que eu criei uma banda chamada “Coisa de índio”, junto com esses amigos indígenas. Então, ao mesmo tempo em que estava aprendendo sobre o movimento indígena, politicamente falando, por estar na universidade participando dos debates, eu também estava nos palcos me apresentando publicamente.”

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