Repúdio ao fiscalismo de Paulo Guedes une economistas de matizes opostos
Ministro Paulo Guedes e o governo Bolsonaro tem unido economistas de linha heterodoxa, como Paulo Kliass, e liberal, como André Lara Resende. Os dois concordam que é preciso uma “mudança profunda” na política econômica atual
Por Paulo Henrique Arantes, para o 247 - O que os economistas Paulo Kliass e André Lara Resende têm em comum? Pela história de ambos, quase nada além de serem economistas. O primeiro, heterodoxo, é identificado com conceitos apregoados pela esquerda brasileira. O segundo, liberal, é do grupo da PUC-RJ que elaborou o Plano Real e tornou-se banqueiro depois de deixar os cargos públicos – pertenceu ao Conselho de Administração do Banco Central no governo Sarney e foi presidente do BNDES no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.
Só mesmo Paulo Guedes e o governo Bolsonaro para uni-los.
As teses fiscalistas que o ministro da Economia recusa-se a abandonar já foram derrubadas no mundo inteiro, como escreveu o liberal ora convertido ao keynesianismo Lara Resende, em artigo no Valor Econômico de 29 de janeiro: “No momento em que se discute a suspensão do auxílio emergencial à população em nome do equilíbrio fiscal, justamente quando a epidemia de Covid recrudesce, é fundamental entender que a verdadeira responsabilidade fiscal não é o equilíbrio orçamentário em todas as circunstâncias e a qualquer custo. Nas atuais circunstâncias, a insistência no equilíbrio fiscal, além de macroeconomicamente equivocada, é moralmente inaceitável”.
Segundo o neo-keynesiano, até os papas americanos da austeridade fiscal, como Lawrence Summers, Ben Bernanke, Oliver Blanchard e Kenneth Rogoff, há tempos “deram uma guinada conceitual”, enquanto no Brasil ainda se acha que o equilíbrio fiscal deva estar acima de tudo.
“Apelam para a tese da jabuticaba, de que o Brasil é diferente porque o Estado e os políticos não são confiáveis. Sustentam que por aqui o equilíbrio orçamentário é ao mesmo tempo condição necessária para evitar o abismo e condição suficiente para que a economia volte a crescer”, escreveu Lara Resende no Valor.
Doutor em Economia pela Universidade Paris 10 e especialista em políticas públicas, Paulo Kliass não vê chance de retomada econômica sem que o governo gaste. Como o Lara de Resende de hoje, e ao contrário do Lara Resende de ontem, Kliass quer o Estado investindo.
“É preciso que os técnicos do Ministério da Economia revejam essa orientação austericida de só se preocuparem com cortes nas despesas orçamentárias”, disse o economista ao Brasil 247.
“É óbvio que a retomada da economia depende, entre outras coisas, de medidas que consigam melhorar os efeitos sociais e econômicos derivados da pandemia. E também de medidas que apontem para questões específicas da própria saúde, como o desenvolvimento de vacinas e ações que viabilizem a chegada de vacinas, acompanhadas de vacinação em massa da população”, discorre Kliass.
Fato consensual é que o Governo Federal, pela cabeça e pelas mãos de Paulo Guedes, sustenta a inglória esperança de vencer a pandemia sem gastar dinheiro. Assim, coloca o equilíbrio fiscal e a vida das pessoas no mesmo patamar.
“É preciso uma mudança profunda na política econômica do Paulo Guedes e de sua equipe. Não dá para ficar com essa coisa das ‘livres forças do mercado’, uma ilusão de que um toque de liberalismo iria resolver uma crise tão sensível quanto esta, num setor estratégico e essencial como o da saúde, em que as regras da batatinha e do tomate não valem”, adverte Paulo Kiass.
André Lara Resende, o atual, assinaria embaixo.
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