Guilherme Boulos: Lula terá de ousar mais e atacar privilégios
População nas ruas é chave para garantir governabilidade de um novo mandato petista, afirma presidente da federação PSOL-Rede; veja vídeo na íntegra
OperaMundi - Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em entrevista a Breno Altman no programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (23/06), defendeu que as diretrizes programáticas recém-lançadas pela chapa Lula-Alckmin apontam para um mandato que pode atacar privilégios. Mas, para ele, será necessária maior "ousadia" que a de 2003 para avançar em políticas públicas, programas sociais e direitos, num cenário sem crescimento econômico.
"Se foi possível lá atrás a estratégia do ganha-ganha, hoje o cobertor encurtou. Vai ser preciso mexer em privilégios, fazer uma reforma tributária progressiva”, afirmou o pré-candidato a deputado federal pelo PSOL de São Paulo, destacando que esse ponto está presente nas diretrizes descritas no documento que antecede o programa político da chapa.
No contexto de um governo de enfrentamento e conflito a partir de 2023, a governabilidade terá de ser conquistada nas ruas, pela mobilização da sociedade em prol de uma democracia efetivamente participativa, uma iniciativa que Boulos julga ter sido negligenciada pelos governos petistas anteriores.
“O bolsonarismo é resultado de um sentimento de antipolítica, de que democracia é apenas apertar um botão a cada quatro anos. Eleição não é cheque em branco”, argumentou.
Boulos, que também é coordenador nacional da Frente Povo Sem Medo, justifica a participação de seu partido na coalizão em torno de Lula à luz de pontos que, para ele, estão contemplados no documento apresentado nesta última semana: reforma tributária progressiva, revogação do teto de gastos, da reforma trabalhista e uma guinada na política ambiental.
Ao justificar o que levou o PSOL a abdicar de candidatura presidencial própria e integrar uma composição ampla com setores liberais em 2022, Boulos diz que a atual conjuntura no Brasil é "extraordinária".
"Um governo que não só é de extrema-direita, com viés fascista, mas a todo momento ameaça a ruptura com as liberdades democráticas, inclusive com o resultado do processo eleitoral”, avalia.
O entendimento de que neste momento era preciso reunir todas as forças para vencer Bolsonaro o levou abrir mão de se candidatar a um cargo executivo, nacional ou em São Paulo.
Para ele, Lula é “sem qualquer dúvida” o candidato que tem as maiores condições de derrotar Bolsonaro, sendo necessária uma mobilização "forte e constante", não apenas na campanha eleitoral.
“Não podemos subestimar a força que existe ainda no campo bolsonarista. Ele tem ferramentas, gabinete do ódio, fake news, robôs, tem a máquina pública e tem parte expressiva do Centrão atuando em sua campanha, porque quer manter a mamata do orçamento secreto”, avalia.
Se efetivada a vitória, prevê que os próximos anos continuarão conflagrados e polarizados. “Não vejo anos de calmaria, e temos que nos preparar para eles”, acrescenta.
O líder político, que defende que o PSOL apoie a candidatura do petista Fernando Haddad ao governo de São Paulo, diz ainda que a decisão que o levou para a disputa da Câmara dos Deputados é a de ampliar a base progressista no Congresso e ajudar a eleger mais legisladores desse campo.
“Não basta eleger Lula", diz, acrescentando que "num cenário de hegemonia do Centrão e da direita no Congresso, com Arthur Lira reeleito presidente da Câmara, a governabilidade pela esquerda fica radicalmente comprometida”.
O coordenador do MTST reivindica ainda maior ousadia polícia nos setores de moradia e mobilidade urbana, para além das que foram promovidas pelos mandatos petistas anteriores, como o Minha Casa Minha Vida.
Ele defende que não basta ampliar tais programas, com limites em relação à política urbana ao construir casas em periferias distantes da oferta de empregos, infraestutura e serviços públicos, afirmando que é preciso "pensar uma fórmula que resolva o problema habitacional, mas ao mesmo tempo reduza distâncias entre locais de trabalho, morada e serviços.”
Afirmando não se arrepender de ter participado das chamadas Jornadas de Junho de 2013, iniciadas pelo Movimento Passe Livre (MPB), Boulos defende a legitimidade da luta pelo direito às cidades.
"O problema é que a mobilização foi rapidamente sequestrada por outros interesses e acabou contribuindo para que grupos à direita saíssem do armário e despudoradamente expressassem suas posições preconceituosas, fascistas, violentas, odientas na sociedade”, opina.
Guilherme Boulos avalia ainda que o discurso atual de Luiz Inácio Lula da Silva se orienta para uma perspectiva mais audaciosa no caso de uma eleição para um terceiro mandato.
“Ele tem dito frequentemente que só faz sentido voltar ao governo se for para fazer mais, não menos ou igual. E, quando ele fala mais, é no sentido de políticas sociais e atendimento aos interesses populares. Nos discursos públicos, Lula tem tocado em questões que não tocava em campanhas anteriores”, conclui.
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