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    Em 2016, em entrevista ao 247, Eva Wilma criticava perseguição a Lula

    A atriz Eva Wilma, que faleceu neste sábado (15) aos 87 anos de idade em decorrência de um câncer, saiu às ruas contra o golpe militar de 1964 e também criticou a perseguição jurídica e midiática contra o ex-presidente Lula

    A atriz Eva Wilma morreu aos 87 anos (Foto: DIVULGAÇÃO)

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    247 - Sobrevivente de duas ditaduras, a atriz Eva Wilma, que faleceu neste sábado (15) aos 87 anos de idade em decorreência de um câncer, saiu às ruas contra o golpe militar de 1964 e também criticou a perseguição jurídica e midiática contra o ex-presidente Lula. 

    Confira a íntegra da entrevista exclusiva que Eva concedeu ao Brasil 247 em 2016: 

    Por Alex Solnik, para o 247 - Sobrevivente de duas ditaduras, a de Getúlio, quando era muito menina ainda, e a de 64, já adulta, a atriz Eva Wilma empenhou-se com a mesma competência, honestidade e coragem às personagens do palco e na resistência às cenas de terror perpetradas pelo regime militar depois de 68 contra muitas "cabeças pensantes", inclusive o seu marido, Carlos Zara, que foi ameaçado para contar onde estava seu irmão que vivia na clandestinidade.

    Sua fama instantânea conquistada com o seriado de TV "Alô, Doçura" e o filme "São Paulo S/A" a levou a Hollywood, onde fez teste do novo filme de Hitchcock, chamado "Topázio", no qual foi obrigada a usar seios postiços, o que só aceitou depois de saber que Audrey Hepburn também usara.

    Nessa entrevista exclusiva ao 247, ela também diz que as pessoas que pregam a volta da ditadura são "doentes e ignorantes", que o que está acontecendo é uma luta entre PMDB e PT e que o impeachment "é uma coisa quase pessoal" com a qual não concorda. Eva também repudia a campanha da imprensa contra Lula, que chama de "caça às bruxas" e "inquisição". "Tem que respeitar Lula", afirma, "mesmo porque ele foi uma pessoa muito importante na anistia".

    Você passou por duas ditaduras, não é?

    Pois é. Na primeira eu era muito criança. Eu conheço bem a outra.

    Você já era...

    Engajada... consciente politicamente.

    Que problemas você teve com a ditadura?

    Eu, diretamente, não tive problemas, mas nós, da classe teatral e da classe artística sabíamos de qualquer maneira o que estava acontecendo. Principalmente o terror... os assassinatos...as torturas... E quando começou a censura para valer a gente levantou os braços e foi à luta.

    Você estava no Arena?

    Eu estava no Rio de Janeiro quando aconteceu a morte do estudante Edson Luís no Calabouço que era vizinho ao Teatro Maison de France, onde eu estava em cartaz com um grande sucesso que foi a peça Black Out. Quando aconteceu esse fato terrível da morte do estudante houve uma reunião da categoria que eu lembro muito bem que o tumulto era tão grande que a gente ouviu de repente uma voz mais alta que era do Ferreira Gullar, dizendo assim: "Não sei mais nada, só sei que há o corpo de uma criança a ser velado". E aí fomos ao velório do estudante. Depois disso aconteceu a greve dos três dias em São Paulo e no Rio, simultânea. Eram três dias e três noites nas escadarias do Tatro Municipal de São Paulo e do Rio, ininterruptos, a gente se revezava. Pararam todos os teatros. Essa greve, essa mobilização tem foto histórica que é a foto em que está a Tônia Carrero, a Normal Bengel, a Odete Lara, a Ruth Escobar e eu caminhando no final dessa manifestação nossa... nós nos dirigimos ao túmulo do soldado desconhecido, lá no Aterro para depositar uma coroa de flores e era uma multidão nos seguindo. É uma foto histórica, porque é paralela à Passeata dos 100 mil.

    Você teve problemas com a censura também?

    Nessa época do Black Out não, mas dois ou três anos depois... espera aí, deixa eu lembrar direito... por aí... são histórias de quarenta, cinquenta anos atrás, o que tem muito terror continua vivo para a gente. Com o sucesso do Black Out, um ano em São Paulo, seis meses no Rio, turnê pelo Brasil, que eu fui indicada para todos os prêmios e não ganhei nenhum... aí é outro problema que a gente só pode dar risada... mas, enfim, o sucesso dessa peça, que era uma peça americana, por acaso, a gente recebeu um convite do consulado para uma visita de 45 dias aos estúdios de cinema da Universal, aos de televisão e aos teatros. E lá fomos nós, na época o Johnny e eu, direto para Washington, Departamento de Cultura dos Estados Unidos, dissemos que queríamos ver o que tinha de melhor em teatro, fomos para Minneapolis e vimos várias peças, não só lá, como nos estúdios de televisão e de cinema, o que originou meu encontro com Hitchcock. Nos teatros nós achamos maravilhosas duas peças. Dois textos. Um se chamava Os Rapazes da Banda e outro se chamava Pequenos Assassinatos. Os Rapazes da Banda eu fiz em 71 um dos trabalhos que eu considero mais produtivos do ponto de vista de estudo porque eu fui assistente de direção, de produção e acompanhei o processo de criação dos nove atores, entre os quais Walmor Chagas, Pereio, Denis Carvalho, fiz esse trabalho durante dois meses até a estreia. Foi terrível pra estrear porque tive que conversar com os censoras no departamento do qual não me lembro o nome, já apaguei da minha cabeça pra explicar que homossexualismo não era pecado. Porque esse texto, era um texto excelente que o Maurice Vanou dirigiu brilhantemente, era uma festa de homossexuais em que um deles recebe todos os amigos e era muito divertido, foi muito bem dirigido, muito bem interpretado, como eu disse, eu aprendi muito e aprendi também a dialogar com os censores, o que é uma coisa terrível, mas a gente conseguiu estrear. Foram nove meses de sucesso em São Paulo, o que nos deu a oportunidade de comprar um terreninho, porque até então a gente morava alugado. E quando a peça ia estrear no Rio de Janeiro eu estava numa novela e em cartaz com um espetáculo chamado "Putz" que eu fazia com o Juca de Oliveira e o Luis Gustavo dirigido por Osmar Rodrigues Cruz no Teatro Aliança Francesa de São Paulo. Era um sucesso. E eu estava fazendo a novela "Meu Pé de Laranja Lima". "Os Rapazes da Banda" foi para o Rio, com todo o elenco original, todo mundo de carteira assinada, tudo certinho, e na segunda semana, no Maison de France de novo a peça foi interditada. Alguma senhora, sei lá, da alta sociedade dos generais e dos coronéis da época, dos terrores, ficou ofendida por a gente levar um trabalho sobre homossexualismo, tão divertido, tão bem feito, tão maravilhoso. Ela não aguentou e proibiram a peça. E na época o John Herbert que era um idealista, sempre foi, um excelente produtor acima de tudo, além de ator e diretor, ele viajou a Brasília durante dois meses por conta própria até achar o processo que estava no Ministério da Fazenda para liberar o espetáculo. Conseguiu liberar depois de dois meses, mas já não tinha sala de espetáculo, ele conseguiu um espaço num teatro da Lagoa, mas o espetáculo não pegou mais, porque não tinha a mesma mercadologia do ponto de vista de imprensa, na época não se falava muito sobre esse tipo de censura. Resultado da história: perdemos o terreno e perdemos tudo o que tínhamos. Falimos. Mas é assim. A classe artística luta desse jeito.

    Fora as prisões, não é?

    O terror chegava aos nossos ouvidos. Desde 68 a gente tomou acontecimento do que estava acontecendo e que era muito, muito, muito grave.

    Aquela invasão do Roda Viva né?

    Pois é. Tudo. Muitos acontecimentos. Que nem foram muito divulgados. A gente não chamava de anos de chumbo, não, a gente chamava de anos de terror. Era um terrorismo o que faziam com as cabeças pensantes. Eu acabo de participar de um documentário do Estadão que se chama Mordaça que fala sobre os tempos da censura aos jornais. Tem depoimentos de muitos jornalistas que foram presos, torturados etc etc até chegar ao Vladimir Herzog, né? Então... como é que era o começo da sua pergunta? A minha participação nisso tudo? Eu jamais me omiti! Dentro do possível. Lutando pela liberdade de expressão e pela democracia.

    É por isso que agora que se vê gente nas ruas pedindo a volta da ditadura eu não acredito.

    Isso aí é insuportável! Insuportável, são cabeças doentes! Ignorantes e doentes! Não têm o menor conhecimento!

    Não sabem o que aconteceu!

    Exatamente.

    E o que é pior: são jovens e pedem a volta do passado de trevas.

    Por isso o valor de documentários como esse de que eu participei, por isso o valor da Comissão da Verdade, etc etc.

    Você chegou a visitar as prisões na época? Foi presa?

    A partir do meu segundo casamento teve uma aproximação de um preso político que ficou oito anos banido, aliás, junto com o jornalista cujo filho dirigiu esse documentário, Flávio Tavares. Você se lembra da época dos 18 banidos em troca do embaixador americano?

    Claro.

    O Ricardo Zarattini, o engenheiro Ricardo Zarattini Filho era um deles. Era o irmão mais novo do engenheiro Antônio Carlos Zarattini, o Carlos Zara. Então, a partir dai, a gente começou...

    O Carlos Zara é o tio do atual deputado...

    É o filho do Ricardo. Carlos Alberto Zarattini. Depois de banido ele retornou, clandestino, vendo os filhos sair da escola, entrar na escola, e com isso, Carlos Zara começou a sofrer perseguições, entraram no escritório dele na TV Tupi, arrombaram armários vazios, levaram a carteira de identidade dele, invadiram o apartamento onde ele morava. Porque achavam que ele sabia aonde o irmão estava. Mas a gente não sabia, o irmão estava clandestino para todo mundo, para nós também. Depois que ele foi preso novamente a gente ficou mais próximo dele e de outros presos políticos, jornalistas, que estavam no presídio do Barro Branco, aqui em São Paulo. Conhecedores da cabeça aberta dos artistas mós o grupinho e quatro, cinco, seis pessoas, eu vou te citar quem comparecia nessas reuniões, são cabeças maravilhosas, Carlos Vereza, Antônio Fagundes, enfim, nós no reunimos e começamos uma mobilização. O grande objetivo era redigir um documento e levar aos deputados, principalmente da Arena, porque o MDB era a cabeça mais aberta, nós queríamos abrir a cabeça dos outros. Além desse documento nós iniciamos um programa de visitas aos presídios e isso é uma coisa fantástico porque aquele documento conseguiu reunir 700 assinaturas de atores, diretores, da classe artística. Essas pessoas começaram a se reunir com objetivo de fazer visitas aos domingos no presídio do Barro Branco. Essas visitas tinham o objetivo de proteger um pouco, né, sei lá, vinte ou trinta pessoas que estavam lá, com o tempo inclusive aconteceu um fato interessante, o Oswaldo Mendes um dos nossos diretores, atores, jornalistas fez uma entrevista comigo. Eu não sei se eu botei a boca no mundo, proibiram minha entrada no presídio. E aí os presos fizeram uma greve de fome por causa disso. Daí voltaram a permitir que eu entrasse junto com essa comitiva. Essa mobilização foi importante porque acabamos realmente redigido um pequeno documento e o levamos a Brasília, nisso já estávamos perto da anistia.

    Uma das presas políticas da época hoje é presidente da República. Como você vê isso?

    Como é que eu vejo a mobilização atual, não é? O PMDB versus PT, etc etc. Eu me considero apartidária e acompanho atentamente toda essa mobilização. As manifestações populares são a coisa mais importante que acontece. Vários pensadores de esquerda estão aí. Eu brinco que a gente deve ser centro-radical. Mas eu acho que você não pode dizer que uma pessoa que pertenceu à oposição dentro da luta armada no passado não tenha competência política para exercer um cargo importante como é o da presidência da República, não pode dizer isso. Tem que acompanhar o processo de trabalho dessa pessoa.

    Você não acha que estão pegando pesado demais com ela?

    Acho sim. Acho sim. Isso é uma luta do PMDB com o PT e é uma coisa que a gente não sabe o que está acontecendo de pior nisso além do Eduardo Cunha na parada, que é uma coisa revoltante. Eu não sei, eu acho que de todas as maneiras é difícil a repetição pela terceira vez de um partido no poder, seja ele qual for.

    Concordo, tem que haver alternância, mas respeitando o calendário eleitoral.

    Isso mesmo. Está certíssimo.

    Perdemos o ano todo discutindo o tal do impeachment.

    Essa luta a gente tem que acompanhar porque tem que saber opinar.

    Você vê algum sentido no impeachment? A gente viu o impeachment do Collor...

    Eu já te expliquei: isso é um problema PMDB contra o PT, é um problema quase pessoal e eu não concordo com ele.

    É uma luta pelo poder que está prejudicando o país.

    É verdade!

    Essa incerteza... a Dilma cai, a Dilma não cai bagunça a economia.

    Olha, eu li umas declarações muito brilhantes de uma cabeça pensante da nossa categoria que é a Fernanda Torres e ela realmente se expressou politicamente, ela disse que não é o impeachment que vai resolver os problemas, não.

    Só pode começar impeachment quando ele é claro, sem discussão, como foi com Collor. Não pode ser uma coisa mais ou menos clara. Ah, não foi isso? Então foi aquilo...

    Exatamente...Não pode um ex-presidente da República sentar e responder por tudo que se fez no país.

    Foi presidente do Brasil, por oito anos, tem que respeitá-lo.

    Não se pode esquecer que essa pessoa colaborou tanto para a anistia! E a competência dessa pessoa! Tem que haver respeito!

    Quando eu vejo notícias como "ah, instalaram uma antena para o presidente"...

    Sabe o que é isso? Caça às bruxas!

    É um clima de Inquisição!

    Exatamente. Estamos voltando a uma inquisição por enquanto sem violência. A violência é só verbal e emocional.

    Você abre o Facebook e lê até pessoas inteligentes tratando a presidente e o ex-presidente como se nem fossem gente!

    Mas você não disse que queria falar comigo sobre o Hitchcock?

    Tinha que ter um suspense antes. Agora é a hora de falar nele.

    Tõ aqui lendo os jornais... eu leio o estadão, a Folha e me mantenho informada...Mas, voltando àquela viagem aos Estados Unidos, que nos causou alguns problemas, enfim, patrulhas ideológicas, naquela época nós todos fomos vítimas de patrulhas ideológicas.

    Só porque vocês foram aos Estados Unidos?

    Exatamente.

    É como hoje que é "proibido" ir a Israel! As pessoas estão malucas.

    Nessa viagem nós visitamos os estúdios da Universal. Durante um almoço um agente nos perguntou se eu não toparia umas fotos porque Hitchcock estava procurando uma atriz latino-americana para o filme "Topázio". Quando retornamos ao Brasil o agente nos telefonou dizendo que Hitchcok tinha visto as fotos e que ele pedi currículo e material filmado. Mandamos. E mais um tempo depois disseram para vir fazer o teste. E lá fui eu...

    Você já tinha feito São Paulo S.A. ou foi antes?

    Já... você está perguntando datas... você quer fundir minha cuca? Já tinha feito sim. Eu fui sozinha e nunca tinha ido sozinha até Pirituba. Estavam me esperando, me levaram para um super hotel, a primeira coisa que eu vi, estarrecida, foi Merlin Oberon, uma atriz antiga passeando no hall do hotel com um cachorrinho no colo. Exausta da viagem, entre tantas emoções, o agente marcou para a tarde o primeiro encontro com Hitchcock. Que tinha uma casa, que era um palacete meio de filme de suspense mesmo dentro da Universal. Era dele, exclusivamente dele. E lá fomos nós. Eu fiquei muito ansiosa pelo que iria acontecer. E até que enfim apareceu a turma, eu digo a turma porque era Hitchcock cercado por umas dez pessoas que era a equipe de criação dele eu me virava muito bem no inglês eu percebi que ele perguntou pro chefe de maquiagem que era o Buddy Westmor, o que que é a gente vai fazer com o dente dela? Eu pensei meu Deus vão arrancar meu dente. Eu tinha... eu ainda tenho, aliás, um dentinho um pouquinho pra trás dos outros, não aparece tanto, mas tem. O Chefe de maquiagem respondeu que tudo bem, que ele ia tomar providências, enfim, foi uma entrevista emocionante e no dia seguinte começou a preparação dos testes. Aí o Buddy Westmore me levou para visitar o departamento de efeitos especiais de maquiagem. Fiquei estarrecida. Coisas que hoje em dia você visita aí a Globo, é igual ou superior ao que havia naquela época em Hollywood. Postiços. Narizes... orelhas... rostos... cabelos... dentes... seios... e foi uma das coisas com que me revoltei, que iam fazer seios postiços para mim. Eu quase me recusei, mas o maquiador encarregado disso dialogou comigo bem suavemente, dizendo, "olha, a Audrey Hepburn também teve ataques, mas ela acabou entendendo e depois de dois anos ela conquistou o direito de trabalhar sem os seios postiços. Eu falei: tá bom, dois anos, quem sabe eu aguento.

    Mas porque eles queriam seios postiços para as atrizes?

    Tem que perguntar para eles é a coisa do sexy. A coisa do sensual. Era, não, continua sendo, tem muita maluca pondo botox, sei lá, é uma coisa distorcida.

    Tem mulheres cujas pernas são tão musculosas que parecem pernas de cavalo...

    Os homens também.

    Mas as mulheres mostram mais as pernas que os homens.

    É, elas permitem ser mais exploradas, infelizmente. Bem, foram seis ou sete dias de preparativos. E chegou o grande dia do teste. Que iria constar de três etapas, todas no mesmo dia. A minha surpresa gratificante é que dentro do estúdio tinha um trailer com o meu nome. Eu pensei: meu Deus, como eu sou importante. E aumentou meu medo.

    Foi uma gentileza muito grande da parte deles...

    Pois é, eles acharam que eu merecia. Eles tinham lido meu currículo e tinham recebido o material filmado. Uma coisa que eu achei maravilhosa foi a equipe grande que tinha, inclusive, técnicos de cabelinhos brancos, uma coisa que no Brasil é rara. A maturidade, essa fase da vida, a maior parte das pessoas é demitida. Lá, eles estavam a postos, competentíssimos, com todos os jovens e pessoas de todas as idades. Me chamaram de dentro do trailer, já pronta, para a primeira parte do teste, não me lembro com que tipo de roupa e me puseram dentro do cenário. De repente eu ouvi todo mundo aplaudindo. Eu pensei: eu não fiz nada, o que é que foi? Era o Hitchcock entrando no estúdio. Um estúdio enorme, ele vinha vindo lá do fundo.

    Que cena!

    Ele adorava! Ele era extremamente vaidoso e ligeiramente sádico. Mas principalmente tinha muito humor. Com toda aquela coisa maquiavélica do suspense como aquela cena do chuveiro com Janet Leigh se não me engano. Cada uma das etapas do teste foi com roupa diferente. A segunda roupa era um super negligée transparente e eu dei graças a Deus porque estava com seios postiços, porque além disso eu estava com maiozinho cor da pele, então a tal da nudez era falsa...e a terceira etapa do teste... essas etapas quase não tinham falas, ele propunha o que seria a cena e eu me movimentava de acordo com a proposta... "entrou tal pessoa pela porta e você vai recebê-la"... tudo isso era a primeira e a segunda parte. A terceira parte é que ele aproximou muito a câmera, se sentou ao lado da câmera, pediu que eu me sentasse, a câmera ligada e ele dialogando comigo, me provocando. Uma hora eu fiquei brava e falei: " Eu tô aqui num país que não é o meu, falando uma língua que não é a minha e tenho que aguentar as suas provocações"?! Eu me lembro que ele falou assim: "Responde na sua língua"! Aí eu respondi não me lembro o que em português. No dia seguinte fui comprar presentes de Natal para os meus filhos antes de voltar ao Brasil. As minhas amigas que me salvaram lá foi a mulher do Edu Lobo, a mulher do Pery Ribeiro, os músicos brasileiros, as esposas me apoiaram e me acompanharam nas compras e quando elas souberam que eu estava com a passagem marcada elas disseram "não, você não pode ir, porque vai ter uma festa, uma recepção super importante dos executivos todos da Universal etc etc eu falei "eu não quero festa nenhuma". Eu conto essa história para me conformar porque era dezembro e o agente telefonou em janeiro dizendo que as filmagens tinham sido suspensas porque Hitchcock teve uma gripe muito forte. Depois de mais dois meses o agente ligou dizendo que os testes tinham sido retomados e outra atriz tinha sido aprovada. Eu acabei sabendo que era uma atriz alemã. Para fazer o papel da latino-americana. Mas o mais importante para mim é que quando eu assisti "Topázio", sinceramente, não foi um dos bons filmes do Hitchcock. Eu digo isso só para me conformar, porque, bom ou mau, eu gostaria de ter feito.

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