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    Ombudsman aponta sensacionalismo da Folha no mensalão

    Suzana Singer argumenta que Folha usou título com corpo 117% maior, uma palavra com juízo moral e uma imagem fantasmagórica do ex-ministro José Dirceu; Globo e Estadão foram mais sóbrios

    Ombudsman aponta sensacionalismo da Folha no mensalão

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    247 – Eis o que diz Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo, sobre a capa do jornal na última quarta-feira, após a condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares: “A capa com a condenação de Dirceu parecia jornal sensacionalista no dia seguinte à prisão de assassino conhecido”. Leia o texto de Suzana:

    Endurecer sim, mas sem perder a razão

    A capa com a condenação de Dirceu parecia jornal sensacionalista no dia seguinte à prisão de assassino conhecido

    Em dias especiais, a "Primeira Página" precisa mudar para mostrar que tem notícia importante. Subir o tom sem cair na histeria é um desafio que a Folha não venceu na quarta-feira passada.

    A capa com a condenação de José Dirceu no Supremo Tribunal Federal lembrava jornal sensacionalista no dia seguinte à prisão de um assassino conhecido.

    A fotografia enorme no alto mostra um Dirceu "fantasmagórico", na definição de um leitor que gostou da capa. A luz vinda por baixo ilumina apenas o rosto do ex-ministro, em uma imagem obtida no domingo passado, quando ele foi votar.

    As letras da manchete cresceram muito: de corpo 80 para 174, um aumento de 117%. Em vez de título, apenas uma palavra: "culpados" -e não "condenados", que seria a reprodução fiel do que havia sido decidido no STF e não carregaria um juízo moral.

    A composição parecia refletir um clima de comemoração. "Dava para ouvir os fogos de artifício estourando ao fundo", disse outro leitor, este ofendido com a capa.

    Quando houve o impeachment de Fernando Collor, fato histórico mais importante que o mensalão, a "Primeira Página" também "falou mais alto" e até deixou transparecer a satisfação com o ocorrido na tarja "vitória da democracia".

    O contexto era outro, havia mobilização de rua e a Folha torcia explicitamente pelo impeachment. Mesmo assim, o foco não estava no presidente deposto. A foto principal nem é a de Collor, mas a da festa dos deputados na Câmara.

     

    Usados os mesmos parâmetros da quarta-feira passada, a capa de 30 de setembro de 1992 teria uma daquelas fotos em que Collor parece diabólico e apenas uma palavra em letras gigantescas: "Expulso".

    Resumir o escândalo do mensalão às figuras de Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério é reduzir a importância do caso. O fundamental do julgamento no Supremo não é a punição de "fulano", mas ter deixado uma mácula histórica no governo Lula. Seria melhor uma manchete que dissesse "José Dirceu, homem forte do governo Lula, é condenado por corrupção".

    A Secretaria de Redação diz que "a importância histórica do julgamento justifica o espaço dado à manchete". "É a condenação por corrupção de políticos de mais alta patente já realizada pelo Judiciário brasileiro, que terá enorme repercussão em decisões futuras."

    Foi uma pena o jornal ter derrapado bem no ápice do julgamento, porque houve, durante a cobertura, um esforço de manter a neutralidade, diferenciando-se de outros jornais e revistas que embarcaram em uma campanha condenatória.

    Mas, apesar de desastrada, a capa de quarta-feira não prova, como querem muitos, que a Folha persegue o PT. Quem espalha essa tese esquece que o jornal bateu forte no governo Fernando Henrique Cardoso, como se pode aferir revendo as reportagens sobre a denúncia de compra de votos da emenda da reeleição (1997) e sobre o escândalo do leilão da Telebrás (1999).

    Nesses 20 anos, o jornal não abriu mão do apartidarismo, mas parece ter se esquecido como ser eloquente sem perder a elegância.

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