Ataques e ameaças de negacionistas contra cientistas crescem no Brasil e no mundo, diz Nature
Estudo feito pela renomada revista científica Nature aponta que "os ataques negacionistas são constantes” e que "o Brasil foi o primeiro país do mundo que realmente promoveu a pseudociência como política pública" no combate à Covid-19
Gabriel Valery, Rede Brasil Atual - “Espero que você morra”. Esta é a frase inicial da publicação, hoje (15), de um estudo pela renomada revista científica Nature que monitora os ataques de negacionistas e adeptos de teorias conspiratórias contra pesquisadores. Em todo o mundo, de um lado relatos de ameaças de morte e violência. De outro, uma explosão de casos de ansiedade. “Cientistas que estudam a covid-19 e estão sob o olhar público precisam de proteção contra ameaças”, anuncia o editorial da revista. “Em vários lugares do mundo o comportamento é semelhante e estamos exaustos. Os ataques negacionistas são constantes”, concorda a epidemiologista e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel.
Passados 19 meses desde o começo da pandemia, em março de 2020 – e ao contrário do que os negacionistas ainda pregam, vacinas, máscaras e distanciamento social salvam vidas. Paralelamente, o governo negacionista de Bolsonaro, que rejeita a ciência e despreza as medidas de combate à covid, é apontado como responsável direto por centenas de milhares de mortes que seriam evitáveis. Também hoje, o país chega a 602.669 óbitos pela pandemia e é aqui que o vírus fez mais vítimas em 2021.
Negacionismo desastroso
O Brasil registrou nesta sexta-feira mais 570 mortes causadas pela covid-19 em um período de 24 horas. Também foram reportados 15.329 novas infecções, totalizando 21.627.476 casos desde o início do surto. Além das mortes, grande parte evitáveis, a doença já deixou mais de 10 milhões de pessoas com sequelas de diversos tipos.
Enquanto as crises sanitária e econômica avançam no Brasil, países que adotaram medidas mais responsáveis de proteção à população, com isolamento social mais rígido, políticas amplas de testes e rastreio de contágios apresentam desempenho superior em todos os aspectos. Entre eles a China, a Nova Zelândia, a Austrália e outras nações asiáticas, como Vietnã e Coreia do Sul, que contam com menos de 10 mil mortos.
No estudo publicado pela Nature, há referências explícitas ao negacionismo bolsonarista. “O Brasil foi o primeiro país do mundo que realmente promoveu a pseudociência como política pública, porque promoveu o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19”, resume a microbiologista Natalia Pasternak, em referência à defesa, por exemplo, de cloroquina e ivermectina, ambos ineficazes e potencialmente perigosos para os pacientes. “Tratamentos promovidos pelo governo brasileiro que incluíram ivermectina (um vermífugo) e uma droga contra malária, a hidroxicloroquina, além do antibiótico azitromicina”, completam os pesquisadores.
Não é caso isolado
“Alguns difamadores também tentaram usar da lei do silêncio contra seus alvos. Grupos de apoiadores de Bolsonaro tentaram processar Pasternak com ataques pessoais por tê-lo difamado quando ela ligou sua política à praga da covid; os tribunais a inocentaram”, completa o estudo. Outro caso que ilustra a perseguição aos acadêmicos que combatem a pandemia e o negacionismo ao mesmo tempo é o do epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) Pedro Hallal. Ele foi censurado ao apresentar um estudo ao Ministério da Saúde. “Tive suprimido dos meus slides a demonstração de desigualdade étnica e racial da covid-19 no Brasil. Imagine a sensação. Chegar para apresentar um estudo e ser informado pelo ministério que eles resolveram deletar um dos slides” disse.
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