Identidade de gênero. Por que as crianças precisam aprender sobre sexualidade
Lindsay Amer, educadora e líder LGBTQ+ nos Estados Unidos, é a criadora do “Queer Kid Stuff”, uma série de vídeos educativos que derruba ideias complexas sobre gênero e sexualidade através de canções e metáforas. Ao dar às crianças e suas famílias um vocabulário para se expressarem, Amer espera criar adultos mais empáticos, e espalhar uma mensagem de aceitação radical em um mundo onde às vezes é perigoso ser apenas você mesmo. “Eu quero que as crianças cresçam e se sintam orgulhosas de quem elas são e quem elas podem ser”, diz Amer.
Vídeo: TED Ideas Worth Spreading
Tradução: Carolina Ragazzi de Aguirre.
Revisão: Maricene Crus
A educadora e produtora de mídia digital Lindz Amer escreve, produz e co-patrocina Queer Kid Stuff, uma série de programas originais sobre o tema LGBTQ+ destinada a um público de crianças e adolescentes a partir dos 3 anos de idade. Ela desenvolve também um intenso programa de palestras e eventos em escolas públicas e particulares norte-americanas, museus, bibliotecas e centros públicos LGBTQ+.
Vídeo da palestra de Lindsay Amer no TED:
Tradução integral da palestra de Lindsay Amer:
Tudo bem, vamos começar?: Não há problema em ser gay ? ? Somos diferentes em muitos aspectos ? ? Não importa se você é menino, menina ou alguma coisa no meio ? ? Todos somos parte de uma grande família ? ? Gay significa “feliz” ? ? Queer Kid Stuff ? ? Você é o suficiente ? ? Aqui no Queer Kid Stuff ?
Abrir uma apresentação com letras como “It’s OK to be gay” pra uma sala cheia de adultos é uma coisa, mas é completamente diferente numa sala cheia de alunos do jardim de infância. O que acabaram de ouvir é a música tema da minha série da web “Queer Kid Stuff”, em que faço vídeos LGBTQ+ e de justiça social para todas as idades. E quando digo todas as idades, quero dizer desde bebês até as tataravós de vocês.
Sei o que vocês estão pensando: “Nossa, eles estão falando sobre coisas gays com crianças”. Mas conversar com as crianças sobre coisas gays é realmente crucial. A Academia Americana de Pediatria descobriu que as crianças têm uma sólida compreensão da identidade de gênero delas com quatro anos de idade. É quando as crianças desenvolvem o seu senso de identidade. Elas estão observando o mundo ao redor, absorvendo essa informação e internalizando isso. A maioria dos pais quer que os filhos se tornem adultos gentis, empáticos, autoconfiantes, e a exposição à diversidade é uma parte importante desse desenvolvimento social e emocional. Não-conformidade de gênero na infância, crianças transgêneros e crianças com pais transgêneros, não-binários e homossexuais estão em toda parte.
Na série, meu urso de pelúcia co-anfitrião e eu falamos sobre a comunidade LGBT, ativismo, gênero e pronomes, consentimento e positividade corporal. Abordamos esses temas através de músicas, parecidas com a que acabaram de ouvir, definições simples e metáforas. Nós abordamos essas ideias, roubando uma expressão de um antigo professor meu, “abaixo da maçaneta”; descendo até a altura da criança e olhando para o grande mundo através dos olhinhos minúsculos delas, pegando essas ideias aparentemente complexas e simplificando-as; sem subestimá-las, mas concentrando-as no conceito central. O gênero diz respeito a como nos sentimos e como nos expressamos. A sexualidade tem a ver com amor, gênero e família, não com sexo. E são todas ideias que crianças podem entender.
Num dos meus primeiros episódios sobre gênero, usei a ideia de pronomes pra sublinhar a definição e introduzi-los com neutralidade de gênero como “eles” e “deles”. Encorajo as crianças a pensarem sobre os próprios pronomes e perguntar aos outros sobre o deles. Em episódios posteriores, construo sobre essa base e introduzo palavras extravagantes como “não-binário” e “transgênero”. Recebo e-mails de espectadores de 20 anos que usam meus vídeos para explicar o gênero não-binário aos avós.
Mas recebo um comentário repetidas vezes: “Deixe as crianças serem crianças”.
Bem, isso é um bom sentimento e tal, mas apenas se incluir todas as crianças. Apenas algumas semanas atrás, um jovem de 15 anos em Huntsville, Alabama se suicidou depois de ser intimidado por ser gay. Em 2018, foi uma criança de sete anos em Denver, Colorado. Houve e haverá muitos mais. Adolescentes lésbicas, gays e bissexuais são mais de três vezes mais propensos a tentar o suicídio do que os pares heterossexuais, e adolescentes transgêneros são quase seis vezes mais propensos. De acordo com um estudo, cerca de um terço dos jovens desabrigados se identificam como lésbica, gay, bissexual ou se questionando, e cerca de 4% dos jovens sem-teto se identificam como transgênero, em comparação com 1% da população geral de jovens pesquisados. Conforme a Campanha de Direitos Humanos, houve 128 assassinatos de pessoas trans em 87 cidades em 32 estados, desde 2013. E esses são só os casos relatados. E 80% desses assassinatos foram de mulheres trans de cor. O cenário da homossexualidade é desolador, para dizer o mínimo.
Os comentários do YouTube nos meus vídeos não são muito melhores. Estou acostumada com a hostilidade. Recebo mensagens diariamente me dizendo que sou uma pedófila e que eu deveria me matar de maneiras cada vez mais criativas. Uma vez coloquei a palavra “caminhão” na lista de bloqueio porque alguém queria que eu fosse atropelada por um caminhão. “Chuveiro” e “forno” estão lá também, para a referência menos criativa e mais perturbadora ao Holocausto. Quando neonazistas marcharam em Charlottesville, não fiquei surpresa ao saber que o criador de um violento meme Reddit sobre um dos meus episódios estava na multidão com uma tocha tiki. Essa barreira de negatividade é o que estamos enfrentando: as estatísticas esmagadoras, a violência, os riscos para a saúde mental, a resposta bem-intencionada mas falha que meus pais me deram quando me assumi, que não queriam que minha vida fosse mais difícil. É contra isso que lutamos.
Mas diante de tudo isso, escolho a alegria. Eu escolho arco-íris, unicórnios e brilho, e canto que não há problema em ser gay com meu ursinho de pelúcia infantil. Faço mídia homossexual pra crianças, pois queria ter tido isso na idade delas. Faço para que os outros não tenham que passar pelo que passei, não entendendo minha identidade porque não tive nenhuma orientação sobre quem eu poderia ser. Ensino e divulgo esta mensagem através da alegria e positividade, em vez de enquadrá-la em torno das dificuldades da vida homossexual. Eu quero que as crianças cresçam e sejam elas mesmas com orgulho de quem são e quem podem ser, não importa quem elas amam, o que vestem ou que pronomes usam. E eu quero que elas amem os outros por suas diferenças, não apesar delas. Acho que promover esse orgulho e empatia fará do mundo um lugar mais amável e igualitário e combaterá a intolerância e o ódio que infestam nosso mundo.
Então, falem com uma criança sobre gênero. Falem com uma criança sobre sexualidade. Ensine-as sobre o consentimento. Digam-lhes que é bom para os meninos usarem vestidos e para as meninas aprender a se defenderem. Vamos espalhar alegria homossexual radical.
Obrigada.
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