Pimentel é acusado de lobby pró-Eike
Luís Fernando Serra, embaixador brasileiro lotado em Cingapura, contou ao site da revista Época que sofreu pressão do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e de um lobista do empresário Eike Batista, para que conseguisse um encontro com executivos da empresa SembCorp; objetivo era convencê-los a transferir o estaleiro Jurong, no Espírito Santo, para o Porto Açu, de Eike Batista; por nota, Pimentel confirma o encontro, mas diz que "em nenhum momento se discutiu a transferência"
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
247 – O embaixador Luís Fernando Serra, que fica em Cingapura, revelou ter sofrido pressão do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e de um lobista do empresário Eike Batista para conseguir um encontro entre eles e executivos da empresa SembCorp. Segundo o que ele ouviu de Amaury Pires, diretor de Relações Institucionais do grupo EBX, que pertence ao bilionário, o objetivo do governo era fazer com que a empresa transferisse seu projeto em obras no Espírito Santo, o estaleiro Jurong, para o Porto Açu, no Rio de Janeiro, de Eike Batista.
As revelações foram feitas à reportagem da revista Época. Serra conta que recebeu um email de Pires no dia 4 de fevereiro, e dois dias depois, um telefonema, pelo qual o diretor da EBX pediu para que o embaixador "viabilizasse" o encontro de um representante da SembCorp com "um ministro" do governo, sem citar o nome. De acordo com Serra, Pires já deixou claro na ligação que o objetivo era convencer os empresários da transferência. Dois dias depois, o telefonema veio de Pimentel, que deixou implícita a intenção da transferência, diz a revista.
Serra detalhe que, mesmo depois do telefonema de Pimentel, o diretor da EBX continuava a telefonar e a mandar emails para o embaixador. Segundo ele, foram "inúmeras" e "incontáveis" vezes. "O assunto era sempre o mesmo: acertar o encontro entre o executivo da SembCorp e o ministro. Em todas as ocasiões, ele (Amaury Pires) mencionava que o objetivo era levar o investimento para o Porto Açu. Meu trabalho foi, a pedido do ministro Pimentel, viabilizar o encontro", disse Serra à Época. Na semana passada, Pimentel recebeu representantes da empresa sediada no país asiático.
Eike enfrenta uma série de dificuldades financeiras em suas empresas. O porto de São João da Barra, por exemplo, seria um empreendimento ousado, mas começou a passar por problemas quando a principal empresa que se instalaria no local, o grupo chinês Wisco, desistiu alegando falta de insfraestrutura. Outro imbróglio envolve o Ministério Público Federal, que questiona na Justiça o fato de o porto ter recebido um terreno indevidamente do governo do Rio de Janeiro.
Outro lado
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do ministério do Desenvolvimento informa que Pimentel recebeu no dia 13 de março o vice-presidente-executivo da Sembcorp Cingapura, Tan Cheg Guan, e o diretor financeiro, Tan Cheng Tat, "para discutir a ampliação dos investimentos da companhia no Brasil". Segundo o comunicado, "em nenhum momento se discutiu a transferência do investimento no estaleiro Jurong Aracruz (...). A política de atração de investimentos do governo federal não inclui a discussão sobre a localização territorial desses investimentos, decisão que cabe aos governos locais e à iniciativa privada".
Denúncia no Senado
Quando soube do encontro entre os empresários e o ministro Pimentel, o senador Ricardo Ferraço, que é do Espírito Santo, pediu para que se apurasse a conduta do embaixador, que teria interferido a favor da transferência pelo benefício de Eike Batista (leia mais). Serra diz que "não tomaria nenhuma iniciativa sem instruções superiores. Marquei a reunião a pedido do ministro Pimentel". E responde a atitude de Ferraço: "Estão batendo na porta errada".
Na semana passada, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, procurou os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Fernando Pimentel para questionar o suposto apoio. Os dois negaram a interferência do governo no caso e Casagrande definiu o episódio como um resultado de "ruídos" de comunicação (leia mais). O Itamaraty convocou o embaixador a vir ao Brasil imediatamente para explicar o caso.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247