Folha e Estado saem em defesa de Policarpo, da Veja

Em editorial, Folha diz que, por provável pressão da ala liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Odair Cunha aceitou "desmoralizar de vez a CPI"; Estadão afirma que pedido para indiciar Policarpo decorre do simples fato de seu nome constar da agenda de Cachoeira, o que não corresponde à realidade

Folha e Estado saem em defesa de Policarpo, da Veja
Folha e Estado saem em defesa de Policarpo, da Veja


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247 – Policarpo Junior, redator-chefe e diretor da sucursal de Brasília da revista "Veja", ganhou novos aliados contra o relator da CPI do caso Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PT-MG). Em editorial, o jornal "Folha de S. Paulo" fala em vingança política para contestar a decisão. O Estado disse que, para o pedido de indiciamento, bastou que o nome do jornalista estivesse na lista de Cachoeira – o que não é verdade. Leia aqui o trecho do relatório em que Policarpo e outros jornalistas são citados:

Leia ainda o editorial da Folha:

CPI da insensatez

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Quando nada mais se esperava da CPI do caso Cachoeira, o deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da comissão, encontrou um modo canhestro de surpreender a todos.

No relatório final que começou a ler ontem, Cunha conferiu a essa CPI duas características inusitadas: as conclusões atestam que os parlamentares foram incapazes de avançar em relação às apurações da Polícia Federal; e seu relator lhe dá o arremate insensato de pedir o indiciamento de pessoas que nem sequer foram investigadas.

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Esse é o caso de Policarpo Junior, redator-chefe e diretor da sucursal brasiliense da revista "Veja". Cunha alegou que as "investigações" sobre Junior teriam permitido estabelecer que a relação entre ele e Carlos Cachoeira (condenado anteontem, em primeira instância, por formação de quadrilha e tráfico de influência) não era apenas a de um jornalista com sua fonte.
Como o deputado chegou a essa conclusão é difícil dizer, já que Policarpo Junior, repita-se, não foi investigado nem chamado a depor no Congresso -o que seria uma inaceitável tentativa de intimidação.

O mais provável é que o petista estivesse fazendo uma mesura à ala liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ávida por fustigar opositores e imprensa.

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Se essa razão explica o desatino, em nada contribui para melhorar a imagem de Cunha. O deputado aceitou desmoralizar de vez a CPI, rebaixando um poderoso instrumento de investigação a mecanismo de vingança política.
Não é por outro motivo que o relatório final pede o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas poupa o do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).

A mesma lógica decerto presidiu a inclusão, no documento, do procurador-geral da República, Roberto Gurgel -ele redigiu as alegações finais da denúncia do mensalão.

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Com tanto desequilíbrio, não surpreende que diversos parlamentares tenham pedido a interrupção da leitura do relatório. Diante das discordâncias, Cunha admitiu alterar alguns pontos de sua peça.

É bom que o faça. Seria ingenuidade, porém, esperar que o documento afinal venha a espelhar o propósito oficial dessa CPI: averiguar as ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos de várias legendas -algo que não interessa a quase ninguém no Congresso.

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O que não interessa à sociedade, contudo, é ver a desfaçatez institucionalizada: a irrelevância já é um final lamentável para a CPI, mas seu completo desvirtuamento será um desserviço ainda maior.

E o editorial do Estado:

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O triste fim da CPI do talião - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 22/11

O triste fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dita do Cachoeira foi anunciado desde o princípio. Em abril, quando foi noticiada sua instalação, cumpridas as formalidades burocráticas para tanto, sabia-se que ela tinha tudo para morrer pagã como nasceu: sem a simpatia das bancadas de apoio ao governo nem a aprovação dos partidos da chamada oposição. Logo se percebeu, contudo, que ela tinha padrinho forte: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, respaldado pela presidente Dilma Rousseff, que ele escolheu e elegeu para o lugar que deixava, e temido pelos oposicionistas por causa de seus astronômicos índices de popularidade. Já então se sabia que o patrono faria dela um instrumento pessoal de vingança contra um dos políticos comprometidos na cadernetinha do bicheiro goiano Carlinhos Cachoeira - o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. Lula nunca escondeu os ressentimentos guardados contra Perillo, que havia tornado público o fato de haver alertado o então presidente para a compra de votos para apoio ao governo no Congresso, que se tornaria conhecida como o escândalo do mensalão.

Àquela ocasião, já se conhecia a desgraça em que havia caído outro desafeto de figurões petistas, o senador Demóstenes Torres (então do Democratas de Goiás), que escondia atrás de seu desempenho de caçador de corruptos a condição de despachante de luxo do meliante flagrado pela Polícia Federal (PF) na Operação Monte Carlo. Lula não se deixou deter pelas evidências de que uma CPI daquelas poderia revelar relações espúrias entre altos hierarcas do governo federal e a construtora Delta, de Fernando Cavendish, amigo de todas as horas de um poderoso chefe político aliado, o governador fluminense Sérgio Cabral, do PMDB.

Nestes últimos meses, em que Perillo teve sua conexão com o bicheiro influente devassada, outros elementos foram sendo acrescentados à retaliação petista. Em nenhum momento a CPI se mostrou interessada em desvendar o propinoduto óbvio da Delta, azeitando as engrenagens do poder na máquina pública. Mas não perdeu uma oportunidade de focar também personalidades que, de alguma forma, contribuíram para revelar os malfeitos da companheirada.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, autor do libelo acusatório do escândalo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), caiu nesta malha grossa por não ter autorizado a continuação das investigações da Operação Vegas, da mesma PF, que apontou os primeiros indícios de ligação do contraventor com parlamentares, entre os quais o citado Demóstenes Torres.

Um dos membros da CPI, o senador Fernando Collor, fez o que pôde para desqualificar o trabalho de Gurgel no julgamento histórico e delatou outro desafeto importante dos antigos inimigos petistas, o chefe da Sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Junior. A existência do número do telefone de Policarpo na memória do celular do bicheiro bastou para que o jornalista, autor de várias reportagens que desagradaram ao PT, Lula e à cúpula do governo Dilma, passasse a ser réu em potencial.

Sem nada ter apurado sobre as evidências da ação nefasta da Delta, o relator governista Odair Cunha (PT-MG) recomendou que o assunto seja tratado por outra CPI. Ainda assim, optou pelo caminho mais cômodo de pedir o indiciamento do proprietário da empresa, que, apesar de considerada inidônea pelo Tribunal de Contas da União, é vice-campeã entre contratados para obras federais.

Na companhia dele e de mais 46 indiciados não estão os governadores ligados à base governista Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), mas Perillo, Demóstenes, é claro, e o prefeito petista de Palmas, Raul Filho, na certa para disfarçar a impunidade garantida a outros companheiros e aliados mais poderosos. Policarpo foi indiciado pelo relator Odair Cunha por "formação de quadrilha", porque "sabia dos interesses da quadrilha".

O relatório prova que Cachoeira foi só pretexto. Seu nome não deveria ter sido invocado. O título correto seria CPI do talião: olho por olho, dente por dente.


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