Quando o investidor vira benchmark

Redes sociais para investidores apostam no crowdtrading, comparao de rentabilidades e estratgias compartilhadas para otimizar desempenho real no mercado financeiro

Quando o investidor vira benchmark
Quando o investidor vira benchmark (Foto: Shutterstock)


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Luciane Macedo _247 - As redes sociais e plataformas colaborativas direcionadas especialmente a investidores começam a decolar no Brasil. Juntas, quatro das principais redes já reúnem quase 100 mil usuários cadastrados, número expressivo considerando-se que são segmentadas e estão no ar há pouco tempo, ao contrário de Facebook e Twitter.

Mas foi nestas duas gigantes que as novas plataformas foram buscar inspiração para inovar no modo como os investidores interagem online e como consomem informação sobre o mercado financeiro. Cabe ao investidor o teste, para saber se o engajamento nas redes e o uso de suas ferramentas e recursos podem ou não ajudar a otimizar seu desempenho real no mercado.

Meivox

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Lançada em fevereiro, a Meivox conta com 6 mil usuários com foco no mercado de ações. O compartilhamento de trades é baseado no preço real dos papéis na Bolsa. A soma de todos os trades de compra e venda, o crowdtrading, fica disponível na rede, refletindo o sentimento de mercado dentro da plataforma e permitindo que os usuários sejam, eles mesmos, benchmarks: é possível seguir quem tem as melhores rentabilidades ou um perfil de investidor semelhante.

"O objetivo não é apontar quem é o melhor trader, mas permitir que o usuário descubra qual o melhor benchmark para ele, que encontre pessoas com estratégias ou perfis de investimento parecidos", diz Rodrigo Terni, CEO da Meivox. "As operações de compra e venda estão conectadas à Bovespa, então não dá para manipular uma cotação ou dizer que ganhou 600%", explica Terni. "O grande diferencial é a transparência, mas sem expôr os usuários, porque o trade compartilhado na rede não mostra o volume negociado".

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Em cada trade compartilhado, o investidor pode explicar por que está negociando aquela ação e receber comentários. Fica no perfil a quantidade de trades e o número de acertos, entre outros indicadores de performance. "Os usuários podem saber o que os outros estão fazendo para conseguir uma boa rentabilidade e aprender com eles", assinala Terni. "A comparação também ajuda nesse sentido, e as pessoas são muito abertas a discutir".

Analistas profissionais, sejam independentes, de corretoras ou de outras instituições financeiras participantes do mercado, também começam a interagir na Meivox e nas outras redes, o que enriquece o diálogo e proporciona ao investidor ter acesso a conteúdo de diversas fontes credenciadas reunidas em um só lugar. "Quanto mais os analistas mostram o seu trabalho, mais as pessoas se interessam", comenta Terni. "É uma forma de interação muito positiva tanto para os profissionais do mercado, quanto para os investidores".

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A partir do final do mês, os profissionais terão uma página institucional na Meivox, para diferenciá-los dos outros usuários. "Nosso objetivo não é ser uma fonte de conteúdo, mas uma plataforma aberta, que tenha conteúdo de todos", diz o CEO da Meivox. "Mas o perfil institucional permitirá aos profissionais compartilhar vídeos, análises, relatórios e tendências de mercado, além dos trades", explica. "Vai facilitar para o usuário decidir quais fontes de conteúdo ele quer seguir".

A Meivox também incentiva os investidores a saírem de sua zona de conforto e testarem estratégias diferentes, que não estão acostumados a usar no mercado, participando de desafios. É um outro estímulo para que o tempo na rede enriqueça o arsenal de conhecimento dos usuários, e para que ele possa se traduzir em ganhos reais no mercado.

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"Quando criamos a Meivox, pensamos em uma plataforma ágil e transparente, que também mudasse a percepção das mídias sociais e como elas podem ser úteis no mundo dos investimentos", observa Terni. "Mas não basta escolher uma rede para participar, ela precisa contribuir para melhorar o desempenho do usuário no mercado".

Ampliando o leque de possibilidades além do Ibovespa, ainda este ano, a Meivox terá outros índices, entre eles small caps e dividendos, segundo Terni. Também está nos planos do CEO trazer a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) à rede.

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Investmania

Com 30 mil cadastrados, o Investmania, lançado em dezembro do ano passado, tem seu ponto forte na interação dinâmica, em tempo real, entre investidores e analistas de mercado, e vai além da Bolsa.

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Os usuários participam de chats diários em vídeo com especialistas, têm acesso a gráficos e cotações, relatórios e análises. Várias modalidades de investimento em renda fixa e variável estão representadas, entre elas ações, câmbio, títulos, fundos e poupança. Tudo é traduzido do "economês" para uma linguagem mais acessível, que estimule as discussões e o aprendizado.

As ferramentas de interatividade do site permitem aos usuários interagirem seguindo a própria dinâmica do mercado, o que está acontecendo em determinado momento. Se as ações estão subindo ou descendo, se há acontecimentos relevantes no mercado, as discussões já começam e podem ser acompanhadas na hora com a participação de especialistas. É possível identificar os assuntos mais comentados do dia e acompanhar as análises no mesmo lugar. Além do diálogo com outros usuários e analistas, os usuários também podem acompanhar de perto a situação de seus ativos preferidos.

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"Havia uma lacuna no mercado relacionada à informação voltada ao investidor pessoa física", diz Thiago Pessoa, coordenador do Investmania. "O problema não é a falta de informação, mas faltava um lugar para debater, entender, interagir com outros investidores e analistas, isso enriquece o conhecimento".

O Investmania também permite encontrar e seguir usuários com o mesmo perfil de investimento. Um ranking mede o feeling dos usuários em relação ao mercado e mostra os mais assertivos, com as maiores pontuações no site. "O usuário pode votar em tendência de alta ou baixa para o próximo pregão", explica Pessoa. "Quem acerta ganha um ponto e sobe no ranking".

Para estimular o uso do ranking como uma maneira de mostrar a percepção de mercado dos usuários, o Investmania também propõe desafios. Quem tiver a melhor pontuação no desafio deste mês ganhará um iPad 2.

"Ainda se discute muito sobre ações, mas queremos estimular o diálogo sobre investimentos como um todo, trazendo cada vez mais conteúdo", diz Pessoa. "Nosso objetivo é que o Investmania possa ser um ponto de referência no mercado e um ponto de encontro para os investidores".

Guiainvest

O Guiainvest se define, desde meados de 2009, como uma rede social de investidores. Com 60 mil usuários, reúne ferramentas de mercado com recursos das redes sociais e shopping financeiro. Os usuários seguem uns aos outros, além de perfis de empresas e corretoras, e cada um tem seu mural. Quando há atualizações, os usuários as recebem em seus feeds de notícias, de modo bem similar ao Facebook.

As ferramentas do Guiainvest facilitam a busca de informações que mais interessam. "O investidor pode encontrar só as ações das empresas que estão subindo no ano, descobrir quais as empresas com maior valor de mercado ou setores com melhores desempenhos", explica André Fogaça, sócio-fundador do site. "Incorporamos recursos do Facebook e do Twitter que faziam sentido para os investidores, queríamos um ambiente de interação que fosse amigável e fácil de usar".

Segundo Fogaça, o ponto forte do Guiainvest é possibilitar a interação e o acesso a ferramentas e indicadores, que os investidores já usam para auxiliar em sua tomada de decisões, em um único lugar.

"Para cada empresa, existe um raio-x, o investidor também pode ver as oscilações dos papéis na Bolsa e acessar análises fundamentalistas e técnicas sobre cada ação", assinala Fogaça. "Em uma única tela, o investidor consegue ter uma boa noção de como está aquela empresa e avaliar uma possível aplicação".

O Guiainvest ainda não tem rankings ou um sistema de pontuação para distinguir os usuários. "É uma ideia que pensamos em implantar", diz o sócio-fundador. "Os investidores gostam de saber a opinião dos outros antes de tomar uma decisão, é uma realidade de mercado, mas vai do critério de cada um avaliar as opiniões e confrontá-las com as fontes oficiais, dos balanços das empresas e da própria Bolsa", observa. "Os analistas de corretoras e profissionais do mercado, que têm um conhecimento técnico mais avançado e podem avaliar de forma mais apurada se determinada ação ou empresa vale a pena comprar ou não, também são fontes de informação disponíveis aos investidores".

Tapix

Mais parecido com o Twitter, o Tapix foi concebido pelo engenheiro de software e investidor Marcelo Mayworm e mais dois sócios. Lançado em agosto de 2011, tem 1.200 usuários. É uma plataforma voltada para quem busca o minimalismo e a agilidade de um microblogging para trocar informações sobre o mercado financeiro.

"Somos todos investidores que trocávamos muitos emails e mensagens pelo celular ao longo do dia, e isso nos motivou a criar uma plataforma de comunicação rápida, ágil, curta e direta, que tivesse um histórico das nossas conversas", conta Mayworm.

Os usuários podem criar grupos no Tapix, públicos ou fechados, e assim trocar mensagens com toda a rede, só com amigos ou ambos. "O foco está na simplicidade e agilidade, é uma ferramenta para quem precisa se comunicar rapidamente", diz o criador do Tapix, que já tem um aplicativo no Facebook. Ainda este ano, Mayworm pretende lançar aplicativos para tablets e celulares.

"Nosso grande desafio é vencer barreiras e buscar parcerias, mostrar aos analistas e outros players do mercado que podem usar o Tapix", diz Mayworm. "A maioria dos investidores pessoa física ainda fica nas corretoras e no homebroker, este é outro grande desafio para as redes sociais".

Avaliação de especialistas em educação financeira

Para Antonio De Julio, especialista em finanças pessoais da MoneyFit, as redes sociais para investidores são uma evolução natural dos tão conhecidos fóruns, visto que a tecnologia vai evoluindo e vão surgindo mais ferramentas que possibilitam uma interação muito mais ágil. Mas as redes não são para todos, e é preciso saber usá-las para que elas não atrapalhem, em vez de ajudar.

"O que vejo de positivo nas redes é que o investidor tem mais um espaço para compartilhar estratégias e experiências, se for um espaço bem 'policiado', pode ser uma ótima ferramenta de auxílio", avalia De Julio. Segundo Conrado Navarro, MBA Executivo em Finanças e sócio-fundador do Dinheirama, outro aspecto positivo é que a troca de informações e opiniões sobre o mercado nas novas plataformas também contribuirá para a popularização do tema.

"Meu medo é que as redes sociais mantenham os mesmos 'vícios' dos fóruns", alerta De Julio. "Muitas pessoas, ao invés de estudar, vão atrás de dicas de terceiros, e outras, que não operam, adoram 'alimentar" seu ego nesses locais virtuais". Navarro faz outra ressalva importante: "Como qualquer investidor (e não só especialistas e operadores) pode discutir suas estratégias, o risco está em tomar caminhos diferentes daqueles condizentes ao seu perfil".

De Julio também chama atenção para as plataformas que oferecem serviços financeiros. "Cabe ao investidor tomar cuidado para não colocar seu dinheiro em aplicações sem saber seu perfil, grau de risco ou algo que possa lhe prejudicar depois", orienta. "Apesar dos fóruns, chats ou rede sociais, cada investidor deve ser responsável pela sua tomada de decisões", lembra o especialista da MoneyFit.

"Antes de aplicar uma estratégia, o investidor deve desenvolvê-la, testá-la e validá-la, mas o excesso de informações e ferramentas pode até atrapalhar", diz De Julio. Navarro concorda, e acredita que o excesso de dados disponíveis pode ser especialmente perigoso para quem está começando no mundo dos investimentos. "O número de informações pode ser tão elevado a ponto de paralisar o investidor menos preparado", avalia o sócio-fundador do Dinheirama. "Quem se lembra dos pregões presenciais da Bolsa, com aquele monte de operadores comprando, vendendo e tentando aproveitar oportunidades?"

De Julio assinala, ainda, que as próprias corretoras, muitas já presentes nas redes sociais e novas plataformas direcionadas a investidores, dão um bom leque de informações, boletins técnicos e carteiras recomendadas. "As redes sociais procuram 'diferenciais' para se posicionar no mercado", avalia o especialista em finanças pessoais. Ao entrar nas redes para conhecê-las e explorar suas possibilidades e recursos, De Julio sugere que o investidor se pergunte: "Eu realmente preciso disso ou preciso me preocupar mais em desenvolver minha estratégia e cuidar da minha disciplina como operador no mercado financeiro?"

Navarro acredita que também é importante que o investidor conheça as opiniões e recomendações das instituições que regem e vigiam o mercado, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sobre o assunto. "Afinal, a responsabilidade pelas informações, dicas e opiniões compartilhadas nas redes sociais é de cada membro que as publica?", indaga. "E que papel tem o responsável pela rede social, muitas vezes uma corretora?"

O que diz a CVM

"É importante que o investidor não baseie sua decisão exclusivamente em opiniões manifestadas na internet, em redes sociais, blogs, chats etc., nem acredite em ofertas de investimentos acompanhadas de promessas de ganho rápido ou sem risco.

Os analistas de valores mobiliários são profissionais que elaboram relatórios de análise destinados à publicação, divulgação ou distribuição a terceiros, ainda que restrita a clientes. Tais relatórios podem estar na forma de textos, relatórios de acompanhamento, estudos ou análises sobre valores mobiliários específicos ou sobre emissores de valores mobiliários determinados que possam auxiliar ou influenciar investidores no processo de tomada de decisão de investimento, segundo definição da Instrução CVM nº 483/10, que regula a atividade.

Esse tipo de opinião envolve um aprofundamento técnico e o exercício da atividade, pela sua importância, é objeto de regulação pela Comissão de Valores Mobiliários, bem como da autorregulação do próprio mercado, neste caso por meio da APIMEC Nacional, que desde 2010 exerce a função de autorreguladora dos analistas de valores mobiliários.

O analista, além de ser aprovado na prova de qualificação técnica, deve obedecer ao código de conduta profissional da entidade que o credenciou, evitando situações de conflito de interesse, buscando informações idôneas e fidedignas, para usar como base de suas análises e recomendações, e mantendo independência em relação à pessoa ou instituição à qual estiver vinculado.

Em fóruns e redes sociais, onde a manifestação é livre, entende-se que a disponibilidade de opiniões nesses ambientes livres e gratuitos de discussão online, desde que sem qualquer remuneração ou benefício econômico em favor dos emissores dessas opiniões, não configuraria, a princípio, o exercício profissional da atividade de análise de valores mobiliários.

Vale lembrar que, nesses ambientes, podem ser apresentados comentários e opiniões pessoais sobre investimentos (inclusive sobre valores mobiliários diversos), notadamente ações admitidas à negociação em bolsa de valores. Alguns desses sites se destinam a oferecer simulações, envolvendo situações ou carteiras hipotéticas, com fins meramente educacionais, enquanto outros, destinam-se a troca de experiências entre investidores.

Poderá ficar configurada infração às disposições da Instrução CVM nº 483/10, pelos participantes do site, se envolver análise profissional sobre valores mobiliários. Em casos concretos anteriores, entendeu-se que apoios ou 'votos' em relação a um determinado papel, por exemplo, não caracteriza o exercício 'em caráter profissional' da atividade de analista de valores mobiliários, mas sim mero palpite. A troca de informações e opiniões pessoais sobre valores mobiliários só se transforma em análise profissional na hipótese de haver algum benefício econômico ou remuneração, o que certamente envolveria informações mais elaboradas e embasadas do que mero palpite.

A situação é diversa quando o objetivo da divulgação da opinião ou análise pessoal de um determinado valor mobiliário busca manipular o papel. Em casos anteriores, adotou-se a orientação de identificar os participantes do blog, de forma preventiva, como forma de coibir eventual manipulação.

Deve-se ressaltar que o uso da internet, em redes sociais, blogs, microblogs e outros canais, não desobriga os usuários/participantes da necessidade, quando aplicável, de estarem devidamente autorizados para ofertarem publicamente valores mobiliários (ações, cotas de fundos etc.), emitirem opinião em caráter profissional sobre esses valores ou exercerem qualquer outra atividade que exija autorização ou registro prévio junto à CVM.

Havendo dúvida, deve-se consultar a página da CVM na internet, seja para consultar se o ofertante possui registro junto à autarquia (link 'Participantes do Mercado') ou se há ato anterior da CVM sobre a pessoa, física ou jurídica."

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