Ayres Brito deixará STF com iceberg de tristeza
Presidente da corte esperava proclamar a sentença de condenação dos réus antes de sua aposentadoria no próximo dia 18, o que já é praticamente impossível; nos bastidores, o presidente da corte fez de tudo para que o julgamento coincidisse com o processo eleitoral e para que a dosimetria ocorresse antes que ele pendurasse a toga; Britto diz que sai com uma "pontinha de tristeza", mas há um mar de melancolia no seu semblante perdido
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247 - Único ministro do Supremo Tribunal Federal com passagem pela vida político-partidária, Carlos Ayres Britto está tão ou mais amargurado do que a maioria dos réus já condenados. Dentro de uma semana, ele estará aposentado sem ter conseguido realizar seu último e maior desejo na suprema corte. Ayres Britto sonhava em entrar para a história com a leitura da decisão daquilo que o jornal O Globo define como "um julgamento para a história".
Como presidente da corte, caberia a ele proclamar a sentença que mandará para a prisão políticos como José Dirceu e José Genoino -- curiosamente, dois ex-presidentes do partido que a ele emprestaram a legenda. Em 1990, Ayres Britto concorreu a deputado federal por Sergipe, seu estado natal, pelo Partido dos Trabalhadores, como "Carlim do PT", mas não conseguiu se eleger nem como suplente. A experiência foi tão frustrante que Ayres Britto praticamente apagou esse dado da sua biografia.
Como faltam apenas duas sessões antes de sua aposentadoria, uma na segunda-feira 12 e outra na quarta-feira 14, o julgamento não será concluído a tempo do planejamento traçado por Britto. Um planejamento documentado, que previa a sincronicidade com o processo eleitoral e a leitura da dosimetria antes do dia 18.
Britto tinha tanta pressa em concluir que tentou até marcar uma sessão para a sexta-feira 16, dia posterior ao feriado da Proclamação da República -- proposta que foi rechaçada pelos colegas. "Meu último dia de trabalho será dia 16, a última sessão, dia 14. A menos que haja condições para uma extra no próprio dia 16", disse ele, dias atrás. Praticamente todos os ministros rechaçaram o pedido.
Ciente da impossibilidade de "entrar para a história" com a leitura da sentença do "julgamento para a história", Ayres Britto passará o bastão para o ministro Joaquim Barbosa, que desfrutará o duplo "privilégio" de ter relatado a Ação Penal 470 e de mandar os condenados para prisão.
Britto acusou o golpe e disse que deixará a corte com uma “pontinha de tristeza”. Mas quem o conhece de perto vê um semblante apagado e a frustração de um homem marcado pela melancolia. O jurista que bancou sua indicação para o STF, Celso Bandeira de Mello, hoje espalha aos quatro ventos seu arrependimento por ter sugerido ao ex-presidente Lula o nome de Ayres Britto.
Sem a leitura da sentença condenatória, o atual presidente da corte também vê enfraquecidos seus eventuais projetos de retorno à política. Segundo o colunista Claudio Humberto, o presidente do PSB, Eduardo Campos, ofereceu a ele a legenda para que concorra ao Senado pelo Distrito Federal em 2014. Oficialmente, Britto descarta a ideia. “O livro da vida nos ensina a virar página. A página da política partidária está definitivamente virada.”
Britto diz que voltará a advogar. E seu grande momento não chegou ao fim exatamente como ele planejou.
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