Cardozo: Rosegate "é uma operação como outras"
Em entrevista, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se defende da crítica de que deveria ter maior conhecimento sobre o que faz a Polícia Federal, depois da operação que atingiu a própria presidência da República. "Nunca fui cobrado por isso", afirma. "Vou chegar e dizer para não cumprir o mandado porque é do meu partido? Tenho que avisar para ele fugir?", indaga. Ele diz ainda que outras ações do tipo virão pela frente

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247 - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, decidiu se defender das críticas que vem sofrendo, dentro e fora do PT, por não ter sido informado – e, por consequência, não ter informado a presidente Dilma Rousseff – sobre a operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que atingiu o gabinete da própria presidência da República, em São Paulo. Na sexta-feira, quando policiais cumpriam mandados no gabinete da presidência, Cardozo estava em Fortaleza e foi chamado às pressas a Brasília.
Falando à jornalista Rosângela Bittar, que chefia o jornal Valor Econômico, em Brasília, Cardozo, que, como ministro da Justiça, é superior hierárquico da Polícia Federal, abordou vários pontos. "Qualquer interferência mesmo da direção geral da PF numa operação é crime", diz ele. "O ministro não pode e não deve ter ciência de uma ação sob sigilo que só o delegado, promotor ou juiz pode saber".
Ele afirmou ainda que não foi repreendido por não ter prestado informações à presidente Dilma. "Nunca fui cobrado por isso", afirma. Ele também diz que não perdeu o controle sobre a Polícia Federal, até porque, na prática, nunca teve. "Nunca se perde o que não se tem nem se deve ter. Tenho o controle hierárquico. Se houver abuso, tenho que tomar medidas. Mas uma operação que se processa dentro da lei, com ordem judicial, não tenho como ter controle nem devo ter."
O ministro também atribuiu as críticas que tem recebido aos que defendem a cultura da impunidade. "O que eu tenho que fazer? Que se cumpra a lei. Vou chegar e dizer para não cumprir o mandado porque é do meu partido? Tenho que avisar para ele fugir? Não tem cabimento", diz ele.
Embora atinja a ex-chefe de gabinete do ex-presidente Lula, Rosemary Novoa de Noronha, Cardozo diz que se trata de uma operação corriqueira. "Foi um caso em que houve grande divulgação, tinha a chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, um advogado da União, sinceramente é uma operação como tantas outras se fez e se fará", afirma.
Cardozo afirma que a diferença das administrações petistas em relação ao passado é que "estamos sendo implacáveis". "Se tivéssemos um ministro que tentasse obstaculizar a ação da PF, um Ministério Público dirigido por um engavetador-geral da República, ou a inação colocada no Palácio, poderia dizer que o governo era conivente", afirma.
O ministro também voltou a usar o bordão de Polícia Federal "republicana", criado pelo ex-ministro Marcio Thomaz Bastos. "Quando a ação da Polícia Federal se dá em relação a membros do governo, diz-se que o ministro da Justiça perdeu o controle. Quando se dá em relação à oposição, o governo está instrumentalizando politicamente a Polícia Federal. O que as pessoas não percebem é que a situação é republicana".
Críticos de Cardozo, no entanto, argumentam que, mesmo em democracias consolidadas, como os Estados Unidos, uma investigação sobre a presidência da República não ocorreria sem que antes o próprio presidente fosse alertado por órgãos de inteligência – não para conter ou para determinar a fuga de eventuais corruptos, mas apenas para agir de maneira preventiva (leia mais aqui).
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