Tesouro sob risco de ter micos do Pan e Votorantim

Grupo de técnicos do governo estuda vender ao Tesouro créditos duvidosos acumulados pelos bancos públicos; alquimia começou sob a intenção de capitalizar a Caixa e avançou para absorção de bilhões em barbeiragens feitas nos incorporados Votorantim e Panamericano; manobra pode alterar equilíbrio do sistema financeiro

Tesouro sob risco de ter micos do Pan e Votorantim
Tesouro sob risco de ter micos do Pan e Votorantim (Foto: Edição/247)


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Marco Damiani _ 247 – Avança a gestação, entre técnicos do governo, do plano para limpar de créditos podres, duvidosos ou indesejáveis os balanços dos bancos públicos. O que, inicialmente, era apenas uma discussão sobre a capitalização da Caixa Econômica Federal, ascendeu para o rascunho de um plano maior, que agora ganha contornos mais polêmicos e, apesar da tentativa de se fazer segredo, maior repercussão.

Basicamente, a idéia consiste em transferir para o Tesouro, e daí para a Emgea – a estatal Empresa Gestora de Ativos –, os prejuízos de operações feitas em instituições como a própria Caixa, o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste e até mesmo o BNDES (leia mais aqui). O Tesouro compraria as carteiras ruins desses bancos e as repassaria para a Emgea, que trataria das cobranças no mercado.

Neste momento, cresce a tentação, entre os alquimistas da fórmula, de ampliar ao máximo o raio de alcance dessas transferências para o Tesouro. Cogita-se incluir, no que toca à limpeza do balanço do Banco do Brasil, até mesmo os altos prejuízos do incorporado Banco Votorantim. Repleta de problemas em sua carteira de financiamento de automóveis, fatia central do banco, a instituição fundada pela sempre poderosa família Ermírio de Moraes puxou para baixo em R$ 597 milhões o último balanço do BB. A compra de metade da instituição, por R$ 4,2 bilhões, em 2009, pelo BB, se mostrou, como apontam as perdas recentes, um desastre. Mesmo assim, paradoxalmente, há fortes rumores de que o BB negocia neste momento a compra da outra metade do Votorantim. Uma operação de transferência de créditos podres para o Tesouro, como esta que o grupo de técnicos traça, viria, sem dúvida, a calhar. O Banco do Brasil limparia seu balanço das barbeiragens antigas e recentes, cujos prejuízos recaíriam sobre o Tesouro.

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Em relação à Caixa, o que se sabe é que pesados lotes das carteiras de créditos de recebimento duvidoso formadas no seio do Banco Panamericano, comprado em sociedade com o privado BTG Pactual, também poderiam ser jogados diretamente para o Tesouro.  A sucessão de facilidades já levou um executivo de banco privado a declarar ao jornal Valor Econômico: "Eu também quero".

Nos bastidores, os técnicos do próprio Tesouro, diante da conta que já se insinua bilionária a ser espetada, lutam contra o plano. Sustentam que, além de uma difícil justificativa técnica para uma operação desse tipo, na qual, de saída, os cofres públicos saem perdendo - as cobranças a serem feitas pela Emgea demandam tempo para serem efetuadas --, poderia também ocorrer, no mercado financeiro, um indesejável, e perigosíssimo, efeito colateral. Bancos privados, diante de tanta bondade oficial com as instituições públicas, poderiam solicitar, educadamente, ou pressionar, publicamente, para terem a mesma regalia em relação ao que consideram ruim em seus balanços. Seria a efetivação do 'eu também quero' dito pelo executivo. No limite, esse tipo de reação poderia desnudar uma série de fraquezas das bancas privadas, especialmente as médias. Isso abriria espaço, sempre pelo raciocínio da pior repercussão sobre o plano, para até mesmo uma desorganização em todo o sistema bancário. O momento, para isso, não poderia ser pior. Nos Estados Unidos e na Europa, os balanços dos bancos já não são mais nenhum modelo de higidez e sanidade. Vide perdas mal explicadas superiores a US$ 2 bilhões anunciadas esta semana pelo J.P. Morgan. Na Espanha, de uma só vez, na quinta-feira 17, a agência Moody´s rebaixou a nota do gigante privado Santander e de mais 15 outros bancos. Na Grécia está havendo corrida aos caixas.

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No Brasil, enquanto isso, um grupo de técnicos que começou estudando como fazer a capitalização da Caixa Econômica Federal e abrir espaço para os juros baixarem mais, acena agora com a cartada de uma mexida bilionária nos balanços de todos os bancos públicos com a conta a ser paga pelo Tesouro. Tem gente que gosta mesmo de brincar com fogo.

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