Regresso à revolução francesa

Uma descrição sobre o cenário na França em 1789, quando decisões políticas equivocadas foram tomadas para manter os privilégios de 1% da população



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O rigoroso inverno de 1788-1789 no hemisfério norte foi de um frio intenso nunca visto. As colheitas no verão de 1788 haviam sido prejudicadas pelas condições climáticas e a inquietação social aumentava na França. Não havia como se esquecer da tempestade de granizo que atingira todo o país em 13 de julho de 1788. A agitação social começara a provocar rebeliões e cenas de pilhagem.

Os efeitos da erupção do vulcão Laki da Islândia, ocorrida em 8 de junho de 1783 e que durara oito meses até 7 de fevereiro de 1784, haviam chegado à França. A lava e os gases tóxicos provocaram uma devastação na agricultura e a morte de um quarto da população da Islândia. Os efeitos da erupção atingiram a Noruega, a Holanda, a Grã-Bretanha, a Espanha, a França e as regiões que formaram posteriormente a Alemanha e a Itália. Do outro lado do Mar Mediterrâneo, a população do Egito sofreu com a fome. Do outro lado do Oceano Atlântico, um nevoeiro chegou aos Estados Unidos. Os padrões de clima sofreram efeitos de dois a quatro anos após a erupção causando consequências econômicas e sociais e um profundo impacto político.

A Monarquia Absolutista na França tinha um orçamento constantemente deficitário que era resultado dos gastos militares na guerra de independência dos Estados Unidos (1776-1783) contra a Inglaterra e também por causa da manutenção da ostentação do clero e da nobreza que controlavam as terras. O ministro das finanças tentara solucionar a crise com sucessivos empréstimos, mas quando não conseguiu mais renová-los, viu-se diante da necessidade de reformas: os privilegiados deveriam pagar impostos. A medida foi tentada, mas rejeitada várias vezes enquanto se agravava a crise econômica. A substituição do ministro das finanças tampouco ajudou na aprovação de medidas necessárias como a instituição do imposto territorial.

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Após a queda de dois ministros das finanças, o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais, fato que não ocorria desde 1614, para deliberar sobre despesas e impostos. Na primeira sessão, enquanto o clero e a nobreza desfilavam ostentando sua riqueza, o Terceiro Estado parecia vestir luto. Após seguidos desentendimentos com o clero e a nobreza, os representantes do Terceiro Estado se declararam em Assembleia Nacional, soberana em matéria de impostos. Luís XVI hostilizou o Terceiro Estado e os conflitos levaram a Assembleia Nacional a declarar-se em Assembleia Constituinte.

A reação do rei Luís XVI foi de enviar tropas para Versalhes e Paris. Havia boatos de dissolução da Assembleia. O povo de Paris levantou-se em defesa da Assembleia. Em 13 de julho de 1789, um comitê permanente reuniu 12000 homens como uma milícia em defesa de Paris. No dia seguinte, a agitação social elevou-se e houve a invasão do Invalidés, local onde ficavam fuzis e canhões. Em seguida, a população dirigiu-se até a Bastilha. A Queda da Bastilha marcou o início da Revolução Francesa.

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A crise financeira levou a Assembleia Constituinte a lançar apólices que estavam lastreadas nos bens do clero. A livre circulação destas apólices como moeda só fez aumentar ainda mais o custo de vida. A agitação social continuava e chegavam a Assembleia propostas como sufrágio universal, ideais republicanos e a questão agrária.

A tentativa de manutenção de privilégios pela elite, uma crise econômica que afetava duramente a população e os efeitos da mudança climática formaram um conjunto de fatores que propiciaram a queda do Antigo Regime. Pessoas de diferentes regiões encontraram-se e trocaram experiências e perceberam que seus problemas eram os mesmos em todas as regiões. A tomada de consciência da sociedade civil forçou mudanças tanto políticas como econômicas com o objetivo de atingir uma sociedade mais justa e igualitária (embrião das ideias da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

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Decisões políticas equivocadas foram tomadas para manter os privilégios de 1% da população. A ampla demanda de 99% da sociedade francesa sacudiu o país durante mais de uma década até a entrada em vigor do Código Civil em 1804. O código napoleônico sedimentou e deu forma jurídica às principais conquistas da Revolução Francesa de 1789.

Luiz Roberto Da Costa Júnior é mestre em ciência política e autor do ensaio "A Luta de Classes na França e a Não Institucionalização da Segunda República" (Editora Bookess)

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