Desaforos de Cunha põem em risco aliança com PMDB
Depois de fustigar MP dos Portos e declarar em entrevista ao jornal Valor Econômico que o governo Dilma Rousseff é "avesso à política e tem o discurso da tecnocracia", líder do PMDB na Câmara está a um passo de resolver, da pior maneira, um problema político para a presidente; se Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não se retratar, Dilma irá se afastar do PMDB fluminense, dizer adeus ao relacionamento político com o governador Sergio Cabral e atuar firmemente pela eleição do senador Lindbergh Farias (PT) para o governo do Estado; vice-presidente Michel Temer e presidente da Câmara Henrique Alves igualmente serão informados da mudança de postura presidencial frente ao partido cujo líder parlamentar é o situacionista mais oposicionista com quem ela já teve de conviver politicamente

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Marco Damiani_247 – Da pior maneira, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, apresentou à presidente Dilma Rousseff a solução de um complicado nó político armado no Rio de Janeiro, terra natal do parlamentar. Caso Cunha não corrija a mira de sua atuação como artilheiro oposicionista em relação à MP dos Portos, e, especialmente, faça uma retratação cabal dos ataques desferidos contra o governo em entrevista publicada nesta sexta-feira 10 no jornal Valor Econômico, a presidente acaba de livrar-se de um problema. Ela deixará de uma vez de considerar a candidatura ao governo do Rio do vice-governador Luiz Fernando Pezão, chamará o governador Sergio Cabral para uma conversa definitiva e passará, no tempo certo, a tratar, sem os melindres de quem estará em dois palanques ao mesmo tempo, o senador Lindbergh Farias como seu candidato a governador no Estado. Segundo as pesquisas de opinião, Lindbergh, ao lado do ex-governador do Rio e hoje deputado federal Anthony Garotinho (PR) é um dos favoritos a ganhar a eleição, enquanto Pezão segura a lanterna em todos os levantamentos.
Dilma, como era de se esperar, ficou decepcionada com a maneira como Cunha operou pelo desfiguramento da MP dos Portos, na noite da quarta-feira 8, no plenário da Câmara, e surpreendeu-se, negativamente, com os termos que o líder do partido usou para se referir ao governo na entrevista aos jornalistas Raymundo Costa e Rosângla Bittar, do Valor.
Entre outras balas de grosso calibre, e baixo quilate de respeitabilidade, segundo a presidente comentou com auxiliares, Cunha afirmou que o governo Dilma "é avesso à política, tem o discurso da tecnocracia". Mas essa foi a parte mais branda. Sobre a MP dos Portos, o líder do segundo maior partido da base de sustentação do governo disse que "que quem escreveu essa MP nunca viu um contêiner na vida". No quadro geral da administração, Cunha afirmou que "o PMDB se sente absolutamente subrepresentado dentro do governo".
Não havia mesmo como Dilma gostar, mas a reação da presidente já é mais forte do que se podia prever. Caso não ocorra, nas próximas horas, uma retratação cabal de Cunha, ela responderá exercendo a opção clara de ficar com o candidato de seu partido nas eleições do próximo ano no Rio – e está pronta, ainda, a rever boa parte do relacionamento desenvolvido atualmente com outros próceres da legenda, entre eles o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Henrique Alves.
A prática e os termos da rebeldia de Cunha foram comparados na manhã de hoje, no gabinete presidencial, ao episódio, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, em que as costumeiras provocações do então senador Antônio Carlos Magalhães ultrapassaram a fronteira da divergência honesta para provocar, pelos subtemas que escondiam, o afastamento definitivo entre o presidente e o velho coronel da política baiana.
O governador Sergio Cabral será o primeiro a saber que a presidente não aceita o jogo de blefes que Cunha tenta impor. Clientelista até o último furo, o líder do PMDB não tem logrado mover-se nos bastidores do governo como gostaria, sem conseguir executar seu plano de tornar-se o melhor veículo de nomeações em ministérios comandados por políticos de seu partido.
Em tom de ameaça, Cunha disse ao Valor que o PMDB deverá rever, para 2014, sua política de alianças com o PT. "O PMDB, em 2006, disputou as eleições sozinho e se saiu como a maior bancada federal", lembrou ele. "Em 2010, foi para a aliança (com o PT) e virou a segunda maior bancada. Tem que saber como vai ser em 2014".
A presidente Dilma parece que já sabe. Com aliados como Eduardo Cunha ao seu lado, ela já demonstra preferir uma nova estratégia, com a qual possa, efetivamente, contar com seus apoiadores nos momentos mais decisivos de sua gestão. No caso da MP dos Portos, a presidente fez mais de um apelo para obter esse apoio. Para ter no maior partido de sua aliança uma fonte de traições, a presidente acha que o melhor é que esses criadores de problemas ao menos se retratem – ou sairá de perto deles. A quem presenciou a avaliação política da presidente sobre os episódios patrocinados por Cunha esta semana, a certeza é a de que Dilma não está nem blefando nem brincando.
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