As múmias do Senado

O povo está com Dilma. E não com o trio parada dura de Renan, Sarney e Jucá. Ela sabe disso



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De repente, bateu nos chamados formadores de opinião um medo de crise institucional no País. Tudo porque a presidente Dilma Rousseff, cansada da chantagem permanente que lhe é imposta pelo Legislativo, decidiu enfrentar as múmias do Senado. Na linguagem popular, pagou pra ver quem pode mais: se ela ou aqueles que tentam intimidá-la. O primeiro a cair foi o senador Romero Jucá (PMDB/RO), que era líder do governo na casa havia 14 anos. Portanto, um parlamentar capaz de servir a qualquer governo, tendo passado por FHC, Lula e Dilma. Nada de coerência. Apenas o jogo miúdo da baixa política e da exploração fisiológica do Estado. De quebra, ela ainda enquadrou Renan Calheiros (PMDB/AL), que pretendia presidir o Senado, e José Sarney (PMDB/AP), que se julga o eterno dono da casa.

Dizem as más línguas que os três já preparam o troco e querem pegar a presidente na próxima esquina. Houve até quem lembrasse o caso do ex-presidente Fernando Collor, que tratou mal o Congresso e acabou impichado – aliás, o próprio Collor, com ar de homem maduro, se prontificou a aconselhar a presidente a não repetir seus erros. Ocorre que Dilma pode e deve ousar mais. O povo brasileiro espera uma mudança de costumes na política e está 100% ao lado dela neste embate – e não do trio parada dura que se julga mais poderoso do que realmente é. Até porque nenhum dos três senadores citados resistiria a investigações mais aprofundadas sobre seu passado e suas práticas atuais. Fora o fato de que Dilma não é Collor. Ele caiu porque não soube dividir. No caso dela, simplesmente não há o que se dividir.

Até agora, a chamada base de apoio no Congresso não se deu conta da mudança nas regras do jogo desde a eleição de Dilma. A transformação começou pelos ministérios e estatais, onde quadros políticos foram substituídos por técnicos, e chega agora à relação entre Executivo e Legislativo. PT, PMDB, PP, PR... todos podem chorar e espernear. O fato é que Dilma não combinou com nenhum líder de qualquer desses partidos que era permitido roubar. E não parece disposta a ceder a nenhum tipo de pressão ou chantagem.

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O Congresso pode revidar? Sempre pode. Mas Dilma não tem nenhuma agenda de reformas constitucionais pela frente. E se abrirem CPIs, nada indica que ela será afetada diretamente. Se ainda tentarem travar iniciativas do dia-a-dia, como a aprovação do orçamento, basta lembrar do caso recente dos Estados Unidos, onde o presidente Barack Obama quase teve que fechar hospitais diante da irresponsabilidade dos congressistas. Quando ele explicou ao povo americano quem eram os verdadeiros responsáveis pelo possível caos, os chantagistas do parlamento americano também recuaram.

Há quem diga que Dilma deveria ter medo dos senadores, que são verdadeiras raposas em peles de cordeiro. Nos dias de hoje, talvez eles é que devam ter medo dela. Dilma nasceu na conciliatória Minas Gerais, mas se formou politiciamente no rebelde Rio Grande do Sul. Sua certidão de nascimento é mineira, mas sua alma é gaúcha. E ela ainda é revolucionária.

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