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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Marielle Franco - a anatomia de um escândalo

A tolice na truculência dos deputados está em imaginar que podem matar Marielle uma segunda vez. Trata-se de um erro infantil pelo qual ainda pagarão caro

(Foto: Reprodução/X)
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Ao contrário do que se poderia supor, o escândalo provocado pelo nome de Marielle Franco junto a deputados da extrema direita, conhecidos pela sua agressividade, não se reduz a um momento circunscrito. Vai muito além, ultrapassando os limites do tempo a ponto de chegar ao fato crucial do assassinato da vereadora e de seu motorista Anderson Gomes. Como toda morte injusta e não bastante esclarecida, arrepia os cabelos de gregos e troianos, uns porque desejam saber o que realmente aconteceu e outros exatamente porque não desejam saber. É o caso dos parlamentares cuja histeria chocou a sensibilidade do país, expondo aos olhos de todos o volume da sua contundência, chegada à violência. Eles reagiam ao nome de Marielle espantados, como se quisessem exorcizar o espectro de uma política talentosa, com uma carreira pela frente e sucesso, muito sucesso, mais do que seriam capazes de reunir. O que se passou no dia fatídico de sua morte, como os esforços para fugir à justiça e não esclarecer os mandantes, paira sobre a mente dos mesmos e de seus seguidores, incapaz de ser sufocado.

Não se necessita dizer que, pela primeira vez, com a instalação do governo Lula, e Flávio Dino à testa do Ministério da Justiça, iniciou-se uma etapa nova nas investigações. As mil formas de emperrá-las foram se azeitando e, aparentemente, falta pouco para demonstrar que aqui também existe um sistema judicial respeitável. Esta novidade mais recente leva aqueles parlamentares, o tal do Eder Mauro e o outro, o Gilvan da Federal, ao estado de histeria que exibiram sem pudor em frente aos seus colegas, quase se arriscando a submeter-se ao Conselho de Ética. No chamado ambiente civilizado, ainda que os mortos hajam passado a um plano secundário, constitui, no entanto, um entendimento aceito segundo o qual cumpre respeitar os que aqui não se encontram. Por motivos políticos e por uma tendência natural ao desrespeito, eles não fizeram isso. O clamor ultrapassou os limites da sala da comissão, feriu os ouvidos do país e repercute ainda no espírito dos cidadãos comuns.

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Roubada em sua cena, Marielle não abandonou o espaço que lhe era devido. Em vez disso, cresceu, avolumou-se, chamou a atenção de adeptos e de adversários, acentuando e fazendo sangrar a natureza do crime. Em sua homenagem, até em Paris inauguraram uma rua com o seu nome. Na oposição, os que lhe quebraram a placa se deram mal e terminaram se calando, pondo o rabo entre as pernas. Anielle Franco, no Ministério da Igualdade Racial, se alguém pretendesse esquecer a irmã, ali está no governo para provar que também tem fibra. E o governo se sente bem com ela.

D. H. Lawrence, o escritor inglês, nos seus relatos de viagem, reconhece a matança dos indígenas e vaticina que um dia aquelas vítimas da brutalidade voltariam de seus túmulos para obcecar os vivos. A tolice na truculência dos dois deputados está em imaginar que podem matar Marielle uma segunda vez. Trata-se de um erro infantil pelo qual ainda pagarão caro. À sua maneira, talentosa e cheia de beleza, Marielle vive.

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