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    Luis Cosme Pinto

    Luis Cosme Pinto é carioca de Vila Isabel e vive em São Paulo. Tem 63 anos de idade e 37 de jornalismo. As crônicas que assina nascem em botecos e esquinas onde perambula em busca de histórias do dia a dia.

    65 artigos

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    O que você vai fazer hoje?

    Há algo de novo na sala de cinema, nos lançamentos de livro, na espera do teatro

    Livro (Foto: Divulgação/Fenae)

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    Dizem que título ajuda a vender livro, sem esquecer da importância de quem escreve e da força da capa, eu concordo.

    Lembro de minha curiosidade ao ver na vitrine Jangada de Pedra. Que embarcação será essa, logo pensei.

    Deus é inocente, me provocou a adivinhar como seria essa “pureza divina”. O livro assinado por um jornalista dos bons revela a censura na imprensa durante uma guerra.

    A sonoridade de Malagueta, Perus e Bacanaço, me fez repetir essas três palavras como refrão de música.

    Aprendi também que tamanho pouco importa nos títulos.

    O Último Sábado de Julho Amanheceu Quieto, com 35 letras; e Fim, com 3, são daqueles livros que a gente, quando sente que vai terminar, diminui o ritmo e até reserva um horário pra página final.

    Aposto que livreiros e livreiras pensam da mesma maneira sobre o próprio negócio. Levam meses, talvez anos, matutando antes de escolher o que vai no letreiro da loja. A carioca Folha Seca, a pernambucana Jaqueira, a santista Realejo ou a Livre, da cidade de Monteiro Lobato, mais que nomes são convites. A gente bate o olho e quer entrar.

    Aqui na vizinhança, começou com a Ponta de Lança. Perto, abriu Sentimento do Mundo. A gente anda um tico e encontra a Na Nuvem. Outro tanto e entra na Gato sem Rabo.

    Todas livrarias de rua. Xeretando por elas não vejo nenhuma vazia. Há sempre um ou outro a ler, a comprar, a puxar conversa fiada.

    Outro dia, peguei um papo pelo meio.

    - O brasileiro lê pouco, né?

    - Lê pouco porque o livro é caro ou o livro é caro porque vende pouco?

    - Quer mais um café?

    -....

    Livro é mais barato que uma bola de futebol, que uma bolsa. Aliás, a depender da bolsa você pode levar até 10 livros. O mesmo pro vinho, calça jeans. Deixo pra você pensar e decidir o que é melhor. Nunca fui bom de preço e se comerciante fosse já teria fechado a porta, vendendo bolas ou livros.

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    Capa do livro Birinaites, Catiripapos e Borogodó, de Luís Cosme Pinto(Photo: Reprodução)

    Não tenho estatística mas percebo que as livrarias crescem em número e em importância. Organizam mais lançamentos e agora com uma novidade: antes dos autógrafos tem bate papo com o autor e uma convidada ou convidado. Os leitores passam a saber mais da obra, ouvem novas histórias, descobrem curiosidades. Em vez de um escritor conhecem dois.

    No dia a dia, tem gente que entra para beber ou comer algo e já folheia livros, se informa dos lançamentos, busca promoção. Há o clube de leitura em que um grupo elege um livro e depois se reúne para discutir a obra.

    No Brasil mesmo um percentual baixo significa milhões de leitores. E isso pode aumentar com mais incentivo às bibliotecas públicas e à literatura infantil.

    Assim, como temos a sensação, diante da multidão conectada, que o celular condenou o livro a uma prateleira empoeirada, filmes e séries vistos em casa poderiam anunciar o fim do cinema.

    De novo, não me arrisco em palpite. Porém, posso garantir: os cinemas estão cheios. Em São Paulo, há muitas salas de rua e a fila se espalha pela calçada. Há alguns dias, cheguei quase uma hora antes e só tinha lugar na primeira fila. Detalhe: a sala tem 116 poltronas.

    No dia seguinte vi outro filme, novamente sessão lotada. O melhor: filmes bons, público feliz a comentar as cenas e diálogos em botecos vizinhos. Noite e conversa se esticam com a nova história.

    É a Cultura a respirar e a inspirar depois do sufoco. No próximo filme, fique um pouco mais na sala. Espere pelos créditos e veja quantos profissionais trabalham numa produção. Preste atenção ao número de músicas que compõe a trilha e também à quantidade de motoristas, técnicos, editores, figurantes, cozinheiros. Cultura é progresso, é emprego.

    Vejo adultos, vejo jovens e também idosos, amigos, namorados. O cinema tá vivo, como os livros, como o teatro, como a dança.

    Divido com os poucos leitores e as escassas leitoras uma opinião mais ousada. Acredito que uma valente minoria começa a cansar da Rede Social, da Internet, do jogo no computador. Repito, é minoria, mas talvez entediada das Fake News, extenuada da tela do celular, exausta da enxurrada de mensagens.

    Uma plateia interessada em outras emoções.

    E você, já pensou em visitar uma livraria ou ir a um cinema hoje, ou no próximo fim de semana?

    *Luis Cosme Pinto é autor de Birinaites, Catiripapos e Borogodó, da Kotter

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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