O que você vai fazer hoje?
Há algo de novo na sala de cinema, nos lançamentos de livro, na espera do teatro
Dizem que título ajuda a vender livro, sem esquecer da importância de quem escreve e da força da capa, eu concordo.
Lembro de minha curiosidade ao ver na vitrine Jangada de Pedra. Que embarcação será essa, logo pensei.
Deus é inocente, me provocou a adivinhar como seria essa “pureza divina”. O livro assinado por um jornalista dos bons revela a censura na imprensa durante uma guerra.
A sonoridade de Malagueta, Perus e Bacanaço, me fez repetir essas três palavras como refrão de música.
Aprendi também que tamanho pouco importa nos títulos.
O Último Sábado de Julho Amanheceu Quieto, com 35 letras; e Fim, com 3, são daqueles livros que a gente, quando sente que vai terminar, diminui o ritmo e até reserva um horário pra página final.
Aposto que livreiros e livreiras pensam da mesma maneira sobre o próprio negócio. Levam meses, talvez anos, matutando antes de escolher o que vai no letreiro da loja. A carioca Folha Seca, a pernambucana Jaqueira, a santista Realejo ou a Livre, da cidade de Monteiro Lobato, mais que nomes são convites. A gente bate o olho e quer entrar.
Aqui na vizinhança, começou com a Ponta de Lança. Perto, abriu Sentimento do Mundo. A gente anda um tico e encontra a Na Nuvem. Outro tanto e entra na Gato sem Rabo.
Todas livrarias de rua. Xeretando por elas não vejo nenhuma vazia. Há sempre um ou outro a ler, a comprar, a puxar conversa fiada.
Outro dia, peguei um papo pelo meio.
- O brasileiro lê pouco, né?
- Lê pouco porque o livro é caro ou o livro é caro porque vende pouco?
- Quer mais um café?
-....
Livro é mais barato que uma bola de futebol, que uma bolsa. Aliás, a depender da bolsa você pode levar até 10 livros. O mesmo pro vinho, calça jeans. Deixo pra você pensar e decidir o que é melhor. Nunca fui bom de preço e se comerciante fosse já teria fechado a porta, vendendo bolas ou livros.
Não tenho estatística mas percebo que as livrarias crescem em número e em importância. Organizam mais lançamentos e agora com uma novidade: antes dos autógrafos tem bate papo com o autor e uma convidada ou convidado. Os leitores passam a saber mais da obra, ouvem novas histórias, descobrem curiosidades. Em vez de um escritor conhecem dois.
No dia a dia, tem gente que entra para beber ou comer algo e já folheia livros, se informa dos lançamentos, busca promoção. Há o clube de leitura em que um grupo elege um livro e depois se reúne para discutir a obra.
No Brasil mesmo um percentual baixo significa milhões de leitores. E isso pode aumentar com mais incentivo às bibliotecas públicas e à literatura infantil.
Assim, como temos a sensação, diante da multidão conectada, que o celular condenou o livro a uma prateleira empoeirada, filmes e séries vistos em casa poderiam anunciar o fim do cinema.
De novo, não me arrisco em palpite. Porém, posso garantir: os cinemas estão cheios. Em São Paulo, há muitas salas de rua e a fila se espalha pela calçada. Há alguns dias, cheguei quase uma hora antes e só tinha lugar na primeira fila. Detalhe: a sala tem 116 poltronas.
No dia seguinte vi outro filme, novamente sessão lotada. O melhor: filmes bons, público feliz a comentar as cenas e diálogos em botecos vizinhos. Noite e conversa se esticam com a nova história.
É a Cultura a respirar e a inspirar depois do sufoco. No próximo filme, fique um pouco mais na sala. Espere pelos créditos e veja quantos profissionais trabalham numa produção. Preste atenção ao número de músicas que compõe a trilha e também à quantidade de motoristas, técnicos, editores, figurantes, cozinheiros. Cultura é progresso, é emprego.
Vejo adultos, vejo jovens e também idosos, amigos, namorados. O cinema tá vivo, como os livros, como o teatro, como a dança.
Divido com os poucos leitores e as escassas leitoras uma opinião mais ousada. Acredito que uma valente minoria começa a cansar da Rede Social, da Internet, do jogo no computador. Repito, é minoria, mas talvez entediada das Fake News, extenuada da tela do celular, exausta da enxurrada de mensagens.
Uma plateia interessada em outras emoções.
E você, já pensou em visitar uma livraria ou ir a um cinema hoje, ou no próximo fim de semana?
*Luis Cosme Pinto é autor de Birinaites, Catiripapos e Borogodó, da Kotter
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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