Uma história de natal: “pá, o que é fé?”
Feliz Natal aos leitores do CORREIO, meus votos é de que possamos viver num mundo com pessoas felizes e pacifistas
Com o Natal chegando a nossa casa ganha cores com os preparativos, que envolvem não apenas presentes, a ceia ou o almoço do dia 25, mas também a recuperação de lembranças; durante a montagem da árvore, a colocação dos enfeites, são muitos e são a materialização do nosso caminhar, das nossas lembranças, pois todos eles tem um história, então vamos recordando nossas aventuras desses quase quarenta anos; não foram apenas vitórias, existiram derrotas, erros e recomeços, pois, ninguém escapa da realidade, mas não é tão ruim perder algumas batalhas, quando sabemos porque seguimos adiante.
Há uma história bonitinha que aconteceu pertinho do Natal, o protagonista é meu filho caçula, o Mateus; ela aconteceu na Igreja Santa Rita, durante a missa; sim, vou à missa e gosto muito e, gosto mais ainda de dois de seus elementos constitutivos: as leituras e a homilia, que são realizadas dentro da Liturgia; são minhas partes favoritas, pois, para quem tem fé, é possivel ouvir Deus falando conosco. Aliás, São Jerônimo, ensinou que: “Ter contato com os textos Sagrados é essencial para o crente, pois, ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo” e o “lugar” solene de proclamação do evangelho, segundo ele, seria a Santa Missa; não concordo muito com essa ideia, penso que podemos e devemos ler sempre, pois o Espírito Santo está sempre conosco.Tenho especial devoção por São José, como ensina Leonardo Boff: “Ele é o santo dos anônimos, dos trabalhadores que falam com as mãos, do silêncio operoso e da discrição”, ou, como o Papa Francisco o descreve: “na vida, no trabalho, na família, nos momentos de alegria e tristeza, São José procurou e amou constantemente o Senhor, merecendo o elogio das Escrituras como um homem justo e sábio. Invocá-lo sempre, especialmente nos momentos difíceis que vocês possam encontrar”.Procurei ser um pai bom e justo, não sei se consegui, mas, com certeza, me faltou sabedoria, pois, vivia desnecessária pressa, o que fez com que eu, apesar de olhar, não visse muita coisa boa; o fato é que ser pai é pura alegria, a maior da minha vida, ser pai exige enorme resignação, pois, como costumo dizer brincando: “somos a penúltima ou mesmo última instância para os nossos filhos”, eles preferem apresentar seus pleitos às mães, às avós, às tias e as vezes até à funcionária de casa, antes de falar conosco, ou seja, como São José, não somos protagonistas, apesar de sermos capazes de, para defender nossos filhos de Herodes, residir como forasteiros no Egito.Tenho três filhos, Lucas, Caio e Mateus, todos pontepretanos, casados, graduados e pós-graduados, um deles já me deu uma neta, a Isabela, e outro filho providenciou outra, que está a caminho, a Clarice; quando eles eram pequenos íamos à missa da Igreja Santa Rita de Cassia, todos de banho tomado, “roupa de domingo e quase comportados; era comum encontrarmos amigos e também pessoas que conhecemos “a vida toda”, por quem temos e mantemos carinho fraterno, mesmo que não tenhamos cultivado proximidade e amizade, uma dessas pessoas é a Solange, casada com o Nelson e mãe de meninas; nossos meninos e suas meninas tornaram-se homens e mulheres cujas escolhas nos enchem de alegria.
Agora volto à história do Mateus.
Estávamos na Igreja Santa Rita, a missa estava sendo celebrada pelo Monsenhor Fernando de Godoy Moreira, não me lembro exatamente quais foram as leituras, mas, alguma coisa chamou a atenção do Mateus e ele começou a puxar a minha calça, ele queria me perguntar alguma coisa; como estava na homilia eu disse a ele: “espere o padre terminar”; mas ele estava curioso, não esperou e perguntou com assertividade: “Pá, o que é fé?”.
O que é fé? Uma pergunta como essa não poderia ficar sem resposta, especialmente vinda de uma criança de cinco ou seis anos, por isso imediatamente me desliguei de tudo que estava no nosso entorno, coloquei Mateus no meu colo, e busquei na memória os ensinamentos que recebemos - Roberta, minha irmã, e eu -, nas aulas de catecismo com o Padre Geraldo, lá na Igreja do Carmo; tentei explicar da melhor forma, falei tanto que devo ter incomodado alguém, mas eu não via, nem ouvia, mais nada, apenas o Mateus.
Ele me ouvia com enorme atenção e, olhando nos meus olhos com a pureza que tem todas as crianças, ele disse: “Entendi pá, fé é acreditar sem ver”; talvez sob a orientação do Espírito Santo, Mateus que sequer era alfabetizado ainda, citou o Apóstolo Paulo que nos ensinou que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem”.
Não há nenhum tratado teológico que tenha definido a “fé” com tanta precisão quanto o Apóstolo Paulo e o meu filho Mateus, as vezes não nos damos conta que estamos cercados pelo Extraordinário e que a experiência espiritual é experiência prática de amor.
Passados cerca de vinte anos fomos surpreendidos com referência a esse fato; nos votos de casamento a queridíssima Malu Vasconcelos Cunha recuperou esse fato, ao declarar o seu amor ela disse: “aprendi com um menino que a fé é acreditar sem ver”, choramos evidentemente.
Feliz Natal aos leitores do CORREIO, meus votos é de que possamos viver num mundo com pessoas felizes e pacifistas, pois somente elas podem semear felicidade e Paz.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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