Verdades inconvenientes e críticas necessárias
Essas são as reflexões e FELIZ NATAL a todos os companheiros e a todas as companheiras
Tenho sido bastante ofendido por militantes de redes sociais porque faço críticas à inércia da militância - que fala às bolhas, ao invés de falar com a sociedade -, aos partidos, excessivamente burocratizados, e àqueles que, pelo nosso voto, ocupam cargos públicos, que gritam muito nas tribunas, mas não contribuem com mudança nenhuma, bem como com aqueles que são nomeados por quem pode nomear; quem me ofende parece tratar o que falo e escrevo como algum tipo de pecado capital, quando na realidade busco causar algum desconforto, aos companheiros e companheiros, levando-os a refletir, não tenho nenhuma pretensão de ser o dono da verdade. Não me emociono com essa gente, mas me decepciono, pois a ofensa é método do bolsonarismo e, como falou o Mano Brown: “Se eu puder falar vai ser bom, se eu não puder, já era e foda-se”.
Sou de fato um crítico ácido do que se tornaram os partidos que se declaram de esquerda, de muitos dos seus dirigentes - que se encastelam nos escaninhos da burocracia -, e dos que, tendo mandato e acabam se distanciando dos propósitos, valores e princípios partidários; todos operosos construtores de meios para vencer as próximas eleições, mas distantes do povo, distantes das demandas verdadeiras do povão.
Onde estavam os partidos de esquerda, seus dirigentes e detentores de mandato quando fomos surpreendidos com a constatação de que um gerentinho da PETROBRÁS tinha e mantinha milhões de dólares numa conta no Principado de Mônaco? Onde estavam nossos impávidos líderes quando descobriu-se que um diretorzinho da mesma empresa manter “seus” milhões em conta da Suíça? Por que não falamos sobre isso? Por que não podemos dizer que isso não vai acontecer mais?
São apenas dois exemplos do silêncio de muitos dos nossos, em relação aos fatos acima, fez o dito popular: “quem cala consente” tornar-se verdade e sermos todos rotulados de corruptos.
Onde estavam os nossos dirigentes, enquanto a militância apanhava diariamente? Estavam escondidos em alguma sala com ar-condicionado e poltrona de couro; estavam preocupados em salvar a própria pele, ao invés de repreender quem deixou-se corromper e defender honradamente o nosso projeto de mundo.
Tenho convicção que os partidos, assim como a maioria de seus dirigentes, estão desconectados da realidade, longe do povão.
E o Lula? A conexão de Lula com o povo é inquebrantável, é ela que faz dele o que ele é: representação legitima da esperança e certeza da possibilidade de o povo ocupar as posições que a ele pertencem.
Mas Lula não é eterno, por isso precisamos ouvi-lo, ouvi-lo com atenção, ouvir a profundidade do que ele diz, observar cada movimento e os tempos de cada um deles.
Minha crítica está baseada na preocupação com o futuro, pois, a meu juízo, os quadros mais importantes da esquerda, algumas vezes, não sabem usar do poder concedido nas urnas como legitimo e necessário instrumento de mudança e tornam-se desprezíveis representantes de interesses e vantagens corporativas e, o que é pior ainda, perdem a conexão orgânica com os movimentos sociais legítimos e com os setores produtivos éticos; outros ainda sobem na tribuna, gritam muito, apenas para produzir conteúdo para as redes sociais, mas não fazem nenhuma diferença para uma efetiva mudança.
O que fazer? Temos que fazer política, temos que voltar para a base.
Zé Dirceu, herói de uma geração, trouxe à luz e à reflexão uma triste realidade: Bolsonaro tem base popular e tempo pela frente, e ele avançou sobre a base da qual a esquerda se afastou durante seus quatro mandatos; ele propõe profunda autocrítica, séria e necessária, pois, boa parte da esquerda se deixou seduzir pela institucionalidade e pelos prazeres “republicanos” oferecidos pelo capital, por isso estamos a colher frutos amargos. Esses frutos emergem também da soberba de alguns de seus dirigentes e de um hegemonismo corrosivo, como escrevi aqui algumas vezes.
Mas vamos adiante.
Zé Dirceu afirmou ainda que “Em 13 anos e meio [de vida institucional], nos afastamos do dia a dia do povo”, prova disso é que as fakes news de Bolsonaro chegaram num eleitor abandonado pelo PT, ou nas suas palavras: “Eles só chegaram lá [no eleitor] porque não estávamos lá aonde eles chegaram”.
E qual seria o caminho? A sabedoria da democracia e a Política não apenas de inclusão social e dócil convivência com o sistema, mas política como arma de mudança.
Aliás, Zé Dirceu lembrou que somos apenas nós que temos a militância válida e necessária, uma militância cultural e intelectualmente preparada para a defesa da democracia, essa é a primeira e mais importante tarefa: a defesa da democracia; a segunda tarefa seria, segundo ele, compreendermos que a anulação da condenação de Lula e a declaração de suspeição de Moro foi fundamental, e deve ser o combustível para um movimento de unificação da esquerda, devemos denunciar exaustivamente à sociedade toda a conspiração da extrema-direita, que sem votos, desprezou a contra a democracia, apeou Dilma do poder, prendeu Lula sem provas, criminalizou a política, tudo em favor de interesses privados; a terceira tarefa, a mais difícil em minha opinião em razão da vaidade de nossos dirigentes, é a fixação de um programa mínimo de comunhão dos partidos de esquerda, ou como disse Zé Dirceu: “Quer fazer um bloco, faça. Não quer fazer uma frente, não faça. Agora, vamos ter um programa mínimo. Suponho que esse programa mínimo é oposição ao governo, defesa da democracia, da soberania nacional e de reformas políticas, estruturais, sociais e econômicas que levem à distribuição de renda, da riqueza e do poder cultural e formação nesse país”.
Programa mínimo de comunhão entre PT, PSB, PcdoB, PDT, PSOL, REDE, PV, PCB, PCO etc., para hoje, mas não se pode perder de vista que o governo não é de esquerda; é um governo de centro, com atores de esquerda, de centro e de direita (foi assim que vencemos Bolsonaro).
Fato é que o país precisa muito da sabedoria de Zé Dirceu, pois precisa de Política como estratégia, algo essencial da vida humana, razão pela qual a dignidade da Política é a própria dignidade do ser humano e a palavra é instrumento de construção da paz.
Zé Dirceu também reconhece que é fundamental avaliar os erros, pois quem nega a realidade se distancia dela.
Penso que Zé Dirceu, assim como Lula, Genuíno, e outros tantos, representam a dignidade da Política e a humanização da interação humana, representam a defesa da liberdade, a defesa da diversidade e da pluralidade; cada um deles, como Sisifo, vivem a alegria silenciosa da defesa da liberdade, da verdade e da democracia, pois, o destino que lhes pertence, são donos de seus dias, de suas escolhas e tem muito a nos ensinar.
Zé e Lula, representam o que acredito, surpreendem até os deuses, tanto por suas paixões, como por seu tormento, desafiam a vida, ignoram a finitude, exercitam a paixão transformando seu suplício indescritível em significado, sentido, exemplo e esperança e são críticos, é a crítica que põe em movimento necessário todo o nosso entorno.
Zé e Lula, Lula e Zé demonstram com alegria que o caminho é comungar com a sociedade e a firmeza de ambos nos indica que esse é o sentido de sua vida e deve ser o sentido das nossas vidas, afinal a ação Política é o essencial da vida humana e a dignidade da Política, assim como a palavra e a interação humana, é instrumento de construção da paz e da justiça social, sempre com avaliação, critica e autocritica como instrumento necessário de avaliação, validação ou mudança de rota.
Por isso repito: “Se eu puder falar vai ser bom, se eu não puder, já era e foda-se”.
Essas são as reflexões e FELIZ NATAL a todos os companheiros e a todas as companheiras.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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