Palestinos retornam ao Norte de Gaza
Palestinos retornam ao Norte de Gaza

Trump semeia o caos com incompreensível plano de tomada de Gaza e expulsão de palestinos

Com que poder e autoridade Trump considera agora viável "limpar" a área, o que implicaria vencer uma guerra que acabou de ser interrompida?

As declarações de Donald Trump segundo as quais o governo dos Estados Unidos tomaria para si as terras da Faixa de Gaza para, após a expulsão dos cerca de dois milhões de palestinos que ali vivem, construir uma "grande riviera", receberam repúdio global.

Constituem o suprassumo do higienismo étnico e racista, até agora oculto, mas presente na atitude de Washington ao longo de décadas em relação à questão palestina.

Chocante, impensável, o "plano" de limpeza étnica implica tantas repercussões que se torna até exaustivo dar conta de todas elas.

Importa pouco seu caráter de bravata, já presente nos anúncios de Trump sobre comprar a Groenlândia, anexar o Canadá ou retomar o canal do Panamá. Vale mais destacar a desumanidade do intento.

Deslocar milhões de pessoas da terra que lhes pertence há milhares de anos revela um desprezo pela vida equivalente ao que foi posto em prática pelo nazismo contra suas vítimas na Europa.

Essas vítimas foram arrancadas à força de suas casas, reunidas e transferidas como animais em comboios rumo ao que seus algozes denominavam de "solução final".

Só que, no caso dos palestinos, já quase não há mais casas, arrasadas que foram pelas bombas sionistas numa guerra transmitida ao vivo. Os civis foram o alvo maior. Em proporção, Israel matou ainda mais do que o genocídio cometido pelo regime nazista.

Tentar entender o que Trump diz num dia e desdiz no outro é tarefa que exige paciência e até nobreza infinitas. Alguém poderia se perguntar: que gênio criativo é esse, capaz de sacar do nada a ideia de extrair milhões de pessoas e espalhá-las por países vizinhos? Pode haver prova maior da desumanidade essencial do imperialismo?

Do ponto de vista prático, o desígnio trumpista não é apenas ilegal, mas também impraticável. Então, por que, sentado ao lado do premiê israelense no Salão Leste da Casa Branca, Trump lançou essa ideia? É possível que seja mais um movimento diversionista, voltado para apagar a sensação de derrota sionista e estadunidense ocorrida justamente na tentativa recente de eliminação do Hamas.

Os palestinos não foram subjugados. Os reféns israelenses não foram libertados pela força. Não prosperou a intenção de realizar a limpeza étnica. Os palestinos retornam às suas regiões — apesar de inabitáveis —, ao lugar onde os corpos de seus parentes jazem sob os escombros.

É possível que a chicana de Trump seja uma forma de impactar, de manter a imagem de agente polarizador em revolta permanente contra o status quo.

Ele já fez isso ao ameaçar tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, das quais recuou em um mês, tão logo esses dois países se comprometeram a fazer o que já vinham fazendo.

Com que poder e autoridade Trump considera agora viável "limpar" a área, o que implicaria vencer uma guerra que acabou de ser interrompida?

Trump olha para a Palestina como quem mira um projeto imobiliário, não uma nação. Não tem qualquer consideração por regras, democracia ou soberania. Nem sequer cogita dar voz aos principais envolvidos: os palestinos.

Não à toa, todos os países árabes rejeitaram o plano. A rigor, talvez nem fosse cabível rejeitar, endossar ou apoiar um delírio — ainda que venha de um presidente tosco, interessado em passar a impressão de que observa as complexas situações geopolíticas do mundo como quem examina a planta de um condomínio suburbano.

Com a diferença de que, neste caso, aquele que deveria ser o tomador de decisões acaba sendo um agente intencionalmente espalhafatoso de perigosas indecisões, as quais, por mais inviáveis e bravateiras que pareçam, provocam insegurança em todo o mundo.

Redação Brasil 247 avatar
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