A classe dominante já se mobiliza contra Lula e começa a formar a frente ampla de centro-direita
O objetivo é claramente fortalecer a alternativa Tarcisio
O resultado do primeiro turno das eleições municipais pôs a nu algumas estratégias dos agentes políticos. Já se fazem evidentes alinhamentos de classe visando à eleição presidencial de 2026. O sentido geral do resultado das eleições municipais constitui objeto de disputa política.
Chama atenção a sofreguidão com que a mídia conservadora, mas não só ela, se dedica a querer consolidar a leitura de um presidente Lula derrotado.
Por óbvio, tal açodamento evidencia a intenção mal disfarçada de influenciar, desde já, os rumos da eleição presidencial de 2026.
De acordo com números que surgiram das urnas, não há como negar que os partidos de centro obtiveram o maior crescimento.
Os partidos que comandarão o maior número de prefeituras são próximos do Centrão: PSD (882), MDB (856), PP (748), União (585) e Republicanos (436). O PL, de extrema-direita, aumentou sua representação para 512 prefeituras.
O PT elegeu 248 prefeitos no primeiro turno e continua na disputa em 13 cidades, incluindo quatro capitais: Fortaleza, Porto Alegre, Natal e Cuiabá. Em comparação com o resultado obtido quatro anos atrás, quando o partido elegeu 182 prefeitos e não conquistou nenhuma capital, houve um crescimento significativo pelo fato de que o partido não apenas interrompeu a queda como conseguiu aumentar o número de suas prefeituras. Disputa agora quatro segundos turnos em capitais, quando em 2020 havia ido a apenas dois.
Em coligações, o PT disputa nove segundos turnos. Conseguiu ampliar sua bancada total de vereadores para 3.127, 460 a mais.
São números que mostram um partido que segue se reproduzindo e ramificando, em meio a preconceitos, incompreensões e a um resíduo importante de desgastes resultantes de perseguições e campanhas judiciais e midiáticas. O PT resistiu em meio a farsas como o Mensalão e a Lava Jato. Sobreviveu ao golpe contra Dilma Rousseff e à prisão política destinada a retirar Lula das eleições de 2018. Sobreviveu a Bolsonaro e derrotou-o nas urnas.
Já virou lugar-comum analítico anunciar a decadência do PT, desde sua fundação. Agora isso se repete em cascatas de manchetes e análises. Confrontado com os números desta eleição, um pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Eduardo Grin, cunhou a expressão de que o PT "perdeu ganhando".
Não há como pensar, portanto, numa avaliação inteiramente "neutra" dessas eleições, como se elas pudessem ser encaradas à margem de seus reflexos sobre a correlação de forças, sem visar composições para a próxima eleição.
A classe dominante apressa-se a estimular a ideia da formação de uma frente ampla de centro-direita. A coligação de partidos que conseguiu levar Ricardo Nunes (MDB) ao segundo turno em São Paulo e o fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro estar inelegível fizeram a elite econômica brasileira se animar com a possibilidade de emplacar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na presidência em 2026.
Consciente desse movimento, o presidente Lula, cauteloso, evita conflitos e faz acenos aos partidos de centro e direita de sua base.
Os resultados do segundo turno revestem-se, então, de especial importância, pois terão influência sobre a aceleração ou não da dinâmica eleitoral de 2026.
Precipitá-la de maneira tão prematura só interessa aos que desejam fazer oposição, mesmo que à custa dos interesses do país. Sabem que Lula realiza um excelente governo, com inflação controlada, desemprego em baixa e crescimento econômico acima das previsões. A eles interessa criar a narrativa de um governo federal que saiu da eleição mais fraco e sem apoio. Mergulhar o Brasil num clima eleitoral antecipado pode ser a maneira de tentar tumultuar um governo que vai tão bem.