Galípolo será o personagem de 2025 e não deve ceder às pressões do mercado e sua mídia
Sob sua liderança, espera-se que o Banco Central comprometa-se com a credibilidade institucional, o crescimento econômico e a inclusão
A posse de Gabriel Galipolo como presidente do Banco Central do Brasil se dá em meio a um dos períodos mais desafiadores da história recente da autoridade monetária. Em um cenário de instabilidade global e mudanças de rumo no front interno, sua liderança será determinante para garantir o equilíbrio entre o controle da inflação e o estímulo ao crescimento econômico sustentável.
Galípolo não vai adentrar num cenário de devastação: o governo federal estima que o déficit primário de 2024 ficará entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, cerca de apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse valor está abaixo do limite inferior de 0,25% previsto no arcabouço fiscal e é praticamente metade do rombo projetado em novembro passado. O desempenho fiscal positivo mostra que o Brasil atinge sob o ministro Fernando Haddad uma gestão econômica equilibrada, o que será essencial para o sucesso do BC de Galipolo.
Não há que subestimar, entretanto, a extrema complexidade do momento. A posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos trouxe a ameaça de imposição de tarifas para substituir importações da China e do Brasil.
Uma eventual guerra comercial tenderia a impactar mercados de energia e outras commodities, afetando cadeias de valor. Não está descartada a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, com suas repercussões globais. É preciso tomar medidas de prevenção para minimizar eventuais consequências num tal cenário.
A pressão sobre o valor das moedas emergentes, incluindo o real, agravou a volatilidade nos mercados. Para enfrentar essa turbulência, o Banco Central já elevou os juros em 1% e anunciou possíveis novos aumentos, visando mitigar as consequências inflacionárias de um dólar mais valorizado. Esses movimentos destacam a importância de uma autoridade monetária destemida frente às pressões do mercado e à especulação financeira.
Além do cenário internacional, Galipolo terá de lidar com o combate incessante da mídia atrelada aos interesses do clube de especuladores encastelado na Faria Lima, frequentemente alinhados a políticas que desconsideram as necessidades sociais mais amplas e os interesses do Brasil.
É essencial levar em conta os interesses em jogo. Em um ano que antecede as eleições presidenciais, a proteção do emprego e a estabilidade econômica ganham uma dimensão ainda mais estratégica, sendo fundamentais para consolidar a avaliação positiva do governo.
Adicionalmente, Galípolo herda um Banco Central marcado por decisões controversas sob a gestão bolsonarista de Roberto Campos Neto. A política de juros elevados, adotada de maneira persistente, impôs custos elevados à sociedade brasileira, dificultando o controle do endividamento público, o acesso ao crédito e comprometendo o ritmo de recuperação econômica. Esse legado maligno também incluiu uma postura de distanciamento do diálogo com áreas da cidadania brasileira, o que agravou a percepção de que o Banco Central estaria mais alinhado aos interesses do mercado financeiro do que às demandas da economia real. Corrigir esse desequilíbrio será uma tarefa árdua, mas indispensável para recuperar a credibilidade e permitir que a instituição cumpra seu mandato legal de garantir o crescimento econômico.
Em entrevista recente à TV 247, conduzida pela jornalista Denise Assis, o economista Paulo Nogueira Batista Júnior expressou críticas contundentes à gestão de Roberto Campos Neto e preocupações com as pressões que o mercado já exerce sobre o sucessor Gabriel Galipolo. "Campos Neto traçou um roteiro de terror para Galipolo", disse ele.
Batista Júnior lembrou que Campos Neto sinalizou novos aumentos das taxas de juros, que, na sua opinião, não seriam necessários diante do atual quadro de inflação controlada. Segundo o economista, Galipolo não está obrigado a seguir a mesma política de Campos Neto. Ele abordou as medidas adotadas nas últimas reuniões do Copom, mencionando que os aumentos das taxas de juros podem "desestabilizar as finanças públicas" e criar um ambiente de incerteza no mercado. Ele argumenta que tais decisões, embora visem controlar a inflação, podem ter efeitos colaterais negativos sobre o crescimento econômico e o investimento.
Um dos pontos mais relevantes da entrevista foi a discussão sobre a autonomia do Banco Central. Batista Júnior afirmou que "a autonomia virou carro-chefe da política econômica quando deveria ser o contrário", sugerindo que "a política monetária deveria ser ditada pelo governo eleito". Além das críticas à gestão do Banco Central, Batista Júnior comentou sobre a política fiscal do governo e ressaltou a importância de tributar preferencialmente os mais ricos para equilibrar as contas públicas e reduzir a desigualdade econômica.
De fato, cresce a reação de setores industriais contra taxas de juros que extrapolam a racionalidade e sufocam o crescimento.
Dadas suas qualificações, estilo moderado e trajetória impecável, Gabriel Galipolo é a pessoa certa para liderar o Banco Central neste momento. Sua capacidade de transitar entre o mercado financeiro e os diversos setores da política e da economia o torna uma figura singular, capaz de construir consensos em meio a desafios. Sua habilidade de dialogar com transparência e empatia aproxima a autoridade monetária das pessoas diretamente impactadas por suas decisões.
O entusiasmo do presidente Lula com o novo chefe do Banco Central reflete a confiança de que Galipolo saberá equilibrar o rigor técnico com a sensibilidade social.
Sob sua liderança, espera-se que o Banco Central comprometa-se com a credibilidade institucional, o crescimento econômico e a inclusão. Gabriel Galipolo tem todas as condições de se tornar o personagem central de 2025, conduzindo o Brasil rumo a um futuro mais estável, próspero e justo para todos os brasileiros.