Ex-presidente e candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva e presidente da Bolívia, Luis Arce 05/09/2022

Bolívia é alerta para o Brasil e a América Latina

Aos culpados deve ser reservada punição proporcional à gravidade de seus crimes

Os acontecimentos deste 26 de junho na Bolívia seguem cobertos de uma estranha névoa. Houve no país plurinacional mais uma sublevação militar. A desta vez foi protagonizada pelo general Juan José Zúñiga, comandante das Forças Armadas destituído dias antes pelo presidente Luis Arce por tentar interferir no processo eleitoral com declarações contra a recandidatura do ex-presidente Evo Morales.

No intento de golpe de Estado, tosco e canhestro, Zúñiga, chegou a usar um blindado para arremeter contra os portões do palácio onde o presidente se reunia.

A ordem de destituição proferida tête à tête pelo general ao presidente foi respondida com ordem de prisão no sentido oposto. Zúñiga saiu dali para o cárcere não sem antes denunciar bizarramente que na verdade tudo se tratava de uma encenação, um autogolpe acertado no domingo anterior com o presidente. 

O objetivo, desmentido por Arce, seria reforçar a popularidade deste, em meio a crise econômica e desentendimentos com Evo no interior do partido governista Movimento ao Socialismo (MAS).

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A situação no país continua instável desde o sangrento golpe de Estado de 2019, comandado por Jeanine Añez, hoje cumprindo sentença de prisão. 

Seja qual for a verdade agora, impõe-se notar alguns fatores de semelhança que podem e devem reforçar a necessidade de atenção máxima por parte dos defensores da democracia no Brasil e em outros países da América Latina.

Com exceções relevantes, há uma vinculação, senão submissão, dos militares desses países aos poderes dos Estados Unidos e do "Ocidente", sendo estes os alicerces da forma com que esses estamentos veem o mundo.

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Apoiados nesse ideário, os militares lá como cá constituem uma espécie de "estado dentro do estado" em permanente tensão com os projetos soberanos de emancipação nacional escolhidos pelos eleitores. Enquanto dizem ter desprezo pela política e pelos partidos, mas toleram quando não aderem a militância de extrema-direita, no interior e no entorno dos quartéis. 

É notável o espírito de privilégio de que se investem os militares superiores sem base histórica que o justifique. Um corporativismo convive com um alheamento e uma superioridade em relação ao restante da cidadania. Também autoatribuída é a ideia de constituírem os militares a última e única garantia de sobrevivência da nação.

Diante da cíclica ameaça de golpes, como aquele tentado no Brasil em 8 de janeiro de 2023 no ápice da escalada liderada por Jair Bolsonaro, providências se mostram obrigatórias. A primeira constitui perceber a importância da manutenção da unidade em torno do presidente Lula, superando tensões, desavenças e divisões no interior do campo democrático e popular. É nas fissuras da frente ampla que os golpistas buscam oportunidades para se apresentarem como salvadores da pátria. Foi a unidade republicana que permitiu repelir a escalada golpista que resultou no 8 de janeiro.

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Para exorcizar novas tentativas de golpe – na Bolívia, no Brasil e na região – cumpre zelar pela completa apuração e a mais justa e legal punição a todos os envolvidos.

No nosso caso, não importa quem tenha participado, seja Bolsonaro, oficiais generais de qualquer das Armas, políticos ou ativistas. Aos culpados deve ser reservada punição proporcional à gravidade de seus crimes.

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