Luiz Inário Lula da Silva

Há correções a fazer, mas as eleições mostraram força de Lula e dos progressistas

Apesar da insistência, a essa altura, não cabe subestimar a competitividade eleitoral de Lula e do PT

Embora não surpreenda exatamente, chama a atenção o esforço com que veículos de comunicação conservadores, com uma unanimidade enfadonha, se apressaram a entoar o refrão de sempre: o Partido dos Trabalhadores sofreu uma surra acachapante nas eleições para prefeitos e vereadores.

Começando pelo mesmo cantochão, a ladainha evolui para o enésimo alerta: a iminente derrocada do PT, o desmonte inexorável do governo Lula e a consequente desaparição da esquerda, por inanição.

O roteiro tem uma intenção evidente: criar dificuldades para o governo Lula e seus aliados mais fiéis, desmerecendo sua relevância, de olho em vantagens futuras.

Uma eleição prepara a seguinte. Nesse sentido, vender a ideia de que Lula e seu partido estão isolados, fracos e distantes do eleitor é muito importante. A falsa impressão repetida exaustivamente acaba revestindo-se de ares de realidade inquestionável, segundo a qual o único vencedor é aquele bloco político cujas posições ideológicas coincidem com as opiniões da mídia conservadora: a direita e a centro-direita.

Quem observar os dados saídos da eleição, à luz do contexto histórico-político recente, perceberá que muitas análises distorcem a realidade. O pleito foi mais um passo no crescimento relativo e constante do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula e de sua frente junto ao eleitor.

Apesar da insistência, a essa altura, não cabe subestimar a competitividade eleitoral de Lula e do PT. Estão aí os cinco mandatos presidenciais em 22 anos a dar testemunho de que há, da parte do eleitor, uma admiração pelo presidente Lula e pelas ideias do PT que sobrevive às vicissitudes.

O mantra dos arautos do caos progressista não passa, na verdade, de um desejo obsessivamente renovado — e pode vir a ser frustrado mais uma vez.

O que na realidade vem ocorrendo é justamente o oposto. Em relação ao seu desempenho nas eleições municipais passadas, o PT cresceu em número de eleitores, de vereadores e até mesmo em número de prefeituras. Vale notar que conquistar os executivos municipais para candidatos petistas não era prioridade do partido. O PT participou de coalizões vitoriosas em 1.113 prefeituras.

A estratégia petista, formulada por Lula, visava retirar oxigênio da polarização política, ocupar espaços e construir vínculos.

Numa batalha renhida, o partido conquistou a prefeitura de Fortaleza, quarta capital mais populosa do país, derrotando um perigoso candidato apontado pelo próprio Jair Bolsonaro.

A força de Lula e do PT se manifestou, preservada, em centenas de cidades do Ceará e do Nordeste em geral. Foi reafirmada a dominância eleitoral do partido na região, o que constitui base sólida para uma eventual tentativa de reeleição de Lula.

Em diversas outras cidades importantes, de norte a sul, o PT disputou, chegou ao segundo turno e até venceu, em alianças com base em afinidades locais. Nessas regiões, pode existir um sentimento latente prestes a aflorar mais uma vez.

Houve, claro, decepções e descontinuidades em relação a desempenhos eleitorais já atingidos pelo partido em sua história. Será necessário avaliar e corrigir rumos, mas o sentido geral é de crescimento.

Como não poderia deixar de ser, essa retomada se dá de maneira lenta. Desde sempre, o PT enfrenta uma campanha de críticas, perseguições e discriminações. Levantamentos estatísticos, como o Manchetômetro, coordenado pelo professor João Feres Jr., que afere estatisticamente o viés do noticiário dos veículos da mídia conservadora, apontam a parcialidade avassaladora, a falta de isenção e equilíbrio quando se trata de noticiar sobre o governo e o PT. A abordagem é invariavelmente contrária.

Essa é uma saga que atravessa o século. Veio dessa mídia a campanha inclemente que inspirou o Judiciário a desfechar, em sequência fulminante, a farsa do mensalão, a infâmia da Lava-Jato, o golpe do impeachment sem crime de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff e a prisão do presidente Lula. Todos contra o PT.

Os impactos desses episódios, por vezes até criminosos, não apenas ainda não foram devidamente retificados como seguem provocando efeitos, semeando ódios em considerável parcela da opinião pública.

O partido da mídia golpista antipetista e antilulista segue atuante, sem fazer autocrítica de suas práticas. Aguarda apenas o momento de uma nova investida.

Como ignorar esse contexto nas análises e avaliações das eleições? O PT e Lula resistiram a gravíssimas campanhas orientadas ao seu extermínio político.

É claro que o PT terá que avançar na presença nos territórios, equilibrar o peso dos seus mandatos com a militância social, crescer muito no uso da cultura e da comunicação digital, avançar na democracia interna e abrir-se ainda mais para as lideranças jovens que vêm surgindo.

Agora, a retórica da derrota do PT e do fim da esquerda se esboroa fragorosamente quando fica evidente que todo o sistema político calibra suas decisões estratégicas em torno de um personagem: Lula. Dele depende a definição de sua candidatura à reeleição em 2026, o que vai balizar as decisões de todos os agentes políticos.

Que derrota acachapante é essa, afinal, em que tantos vão se juntando ao campo do suposto derrotado, enquanto adversários, mesmo poderosos, titubeiam diante da dureza do embate?

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