
Trump desmoraliza os Estados Unidos, o que exige de Lula maestria diplomática
O Brasil pode e deve se beneficiar de vantagens que se abrem com a nova situação
A guerra comercial dos Estados Unidos contra o mundo afunilou-se. Agora escalou contra a China especialmente, com tarifas de importação de 145%. Logo chegou a resposta chinesa na mesma medida, numa queda de braço ciclópica e insustentável. Mantida essa trajetória, as duas maiores economias estariam em vias de desacoplar.
Em novo zigue-zague, na noite desta sexta-feira, os Estados Unidos trataram de recuar. Isentaram da nova tarifa telefones celulares, computadores e chips.
Quanto ao Brasil, como a maioria das nações, as novas tarifas estadunidenses estão no patamar de 10%, tendo sido suspensas por um período de 90 dias.
A situação caótica criada pela ação errática de Donald Trump, agravada por seu habitual histrionismo, desmoraliza ainda mais os Estados Unidos na cena internacional. É tão volumosa a sucessão de medidas, de tarifas sobre tarifas disparadas e suspensas ao léu, por postagens nas redes sociais, que fica difícil saber o que está em vigor ou não.
Tudo indica que Trump não tem outra saída senão recuar, na iminência das consequências recessivas e inflacionárias que desencadeou. Os Estados Unidos não dispõem de estrutura e reservas econômicas para sustentar no tempo os sacrifícios exigidos pela guerra comercial aberta.
A tentativa atabalhoada e improvisada de atalhar a decadência da hegemonia estadunidense está destinada ao fracasso. Não passa de um blefe de mau negociador.
Isso não elimina, porém, as ameaças que podem sobrevir sobre o comércio internacional. Impulsos, cismas, humores podem desatar medidas unilaterais caprichosas, com efeitos desastrosos. Que Trump tenha rompantes de um déspota romano implica prudência e firmeza redobradas no trato com ele.
É o que tem feito o Brasil sob a liderança do presidente Lula. Enquanto o gigante do norte estertora, o Brasil de Lula precisa se munir da maestria diplomática mais atenta. Precisa combinar silêncio, trabalho de bastidores e solidez institucional.
O Brasil pode e deve se beneficiar de vantagens que se abrem com a nova situação. O país se mostra opção para substituir o fornecimento ao imenso mercado chinês de exportações antes vendidas pelos Estados Unidos. Uma tal competição já pode colocar o Brasil na mira de Trump.
As regras do comércio mundial sempre beneficiaram os países mais ricos. Isso vem mudando, o que enseja a virada de mesa de Trump.
Uma tal situação de oportunidades ocorre justo no momento em que o Brasil começa a colher uma supersafra histórica, o que lhe dá condições privilegiadas para abastecer o que os chineses deixarem de comprar dos Estados Unidos.
Nada está garantido, porém. Trata-se, portanto, de um período de grandes incertezas. A distância entre obter grandes ganhos ou colher desgastes desnecessários estreitou-se. Caberá ao timoneiro conduzir com perícia, em meio à névoa, o barco, estável, ao destino.
