Agora, a mídia nacional pede a cabeça de Guido

Na sexta, a presidente Dilma reagiu com indignação ao pedido da revista inglesa The Economist para que demitisse o ministro da Fazenda, Guido Mantega; neste domingo, o massacre parte da imprensa nacional; Veja e Época publicaram editoriais na mesma linha; Mantega foi criticado também por Elio Gaspari e até por Luis Nassif; ele resiste?

Agora, a mídia nacional pede a cabeça de Guido
Agora, a mídia nacional pede a cabeça de Guido


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247 - "Nós todos aqui somos a favor da liberdade de imprensa. Então não tem nenhum senão a dizer sobre o direito de qualquer revista ou jornal falar o que quiser. Só quero me manifestar que em hipótese alguma o governo brasileiro eleito pelo voto direto vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira". Assim a presidente Dilma Rousseff reagiu diante do pedido da revista The Economist para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fosse demitido.

Ocorre que, neste fim de semana, revistas brasileiras pediram a demissão de Guido Mantega, um ministro que, nos seis anos em que esteve à frente da economia brasileira, viu o desemprego cair de mais de 10% para 5,3%. A média de crescimento foi superior a 4% e a dívida interna caiu pela metade. Apesar disso, o coro para que ele seja demitido vem crescendo, diante do crescimento de apenas 0,6% no último trimestre – algo que a imprensa jamais fez em relação a Antonio Palocci e Pedro Malan, que lideraram a economia brasileira em períodos de desempenho econômico pior.

Caberá a Dilma decidir se, agora, escuta os apelos de revistas e colunistas brasileiros.

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Veja, por exemplo, condena a política econômica no editorial "O instinto animal da fuga". Leia trechos:

A mesma revista inglesa de circulação mundial, The Economist, que em 2009 colocou na capa a imagem do Cristo Redentor decolando impulsionada por um foguete, o que representava a força emergente da economia brasileira, fez um diagnóstico bem mais sombrio na semana passada: "O Brasil despenca". A revista registrou o crescimento pífio do PIB e sugeriu à presidente Dilma Rousseff que troque de equipe econômica se quiser se reeleger em 2014. Descontando-se o excesso de otimismo de três anos atrás e o catastrofismo de agora, a realidade é que a política econômica do atual governo tem falhado consistentemente em promover o crescimento da economia. 

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O fracasso não se deu por Brasília não ter tentado impulsionar a economia. A presidente fez tudo o que os empresários pediram. Eles queriam juros baixos? Os juros baixaram a patamares recorde. Queriam câmbio favorável à exportação? O dólar superou a casa dos 2 reais. Queriam menos encargos na folha salarial? Os encargos foram reduzidos em alguns setores. Queriam combustíveis e energia elétrica mais baratos? O governo espremeu a Petrobras, e a estatal segurou os preços, subsidiando- os. Agora espreme a Eletrobras e as estatais estaduais de energia para que façam a mesma coisa.

Com tantos incentivos entregues sob medida, a presidente tinha a certeza de que despertaria nos empresários o "instinto animal", expressão do economista J.M. Keynes para definir a vocação de investir. Despertou, sim, mas apenas o instinto animal da fuga. Há cinco trimestres o investimento vem caindo. A indústria, que deveria ter se beneficiado mais dos incentivos, terá seu pior ano desde 2009 (…) A desconfiança é o mínimo denominador comum das recentes medidas econômicas. Elas disseminaram o temor generalizado de que os investimentos no Brasil não obedecem à lógica de mercado, mas ficam à mercê da vontade do governo e das conveniências políticas da presidente.

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Época quase sugere a demissão de Mantega no editorial "Ficou difícil, Guido". Leia trechos:

Ficou difícil, Guido... 

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O crescimento irrisório da economia transformou o ministro da Fazenda em anedota - e não demoveu Dilma de sua visão ideológica ultrapassada 

Herdeira de uma economia em expansão em 2010, a presidente Dilma Rousseff chega à metade de seu mandato numa situação medíocre. Embora o desemprego esteja baixo e a massa de salários continue em alta - fatos que explicam a alta aprovação popular de Dilma - nossa economia está em situação de risco.

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O índice de crescimento tem rotineiramente sido acompanhado do adjetivo "pífio". No terceiro trimestre de 2012, foi de 0,6%, metade do que o governo esperava. Isso sepultou as esperanças de uma virada antes do fim do ano. Numa iniciativa destinada a transformar-se em anedota, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que o IBGE modificasse as regras de cálculo do PIB - uma tentativa de manipulação tão estapafúrdia quanto inábil. Sua demissão foi recomendada por ninguém menos que a revista britânica The Economist- leitura de cabeceira de Dilma, publicação que não cansou de publicar artigos favoráveis a seu governo nos últimos anos (…)

Nossa economia não voltará a crescer sem aumentar sua produtividade e seus níveis de investimento - hoje eles estão em torno de 19% do PIB, ante 30% no Peru e 27% no Chile e na Colômbia. Para isso, é preciso acabar com os entraves que emperram qualquer negócio: impostos extorsivos, burocracia infernal, infraestrutura precária e leis trabalhistas e previdenciárias anacrônicas.

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Além disso, o ministro foi criticado por Elio Gaspari:

O levantador de PIB encrencou com o IBGE - ELIO GASPARI

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O doutor Mantega pode operar numa economia virtual, mas não deve ser meter com quem faz contas 

Em novembro de 2003, metido numa discussão em torno do crescimento da economia, o então ministro do Planejamento, Guido Mantega, atribuiu-se um poder extraterreno: "Eu não derrubo, só levanto o PIB". Em dezembro do ano passado, colocado diante de uma previsão de que em 2012 a economia cresceria 3,5% contra a estimativa de 4,5% a 5% feita pela doutora Dilma, o levantador de PIB respondeu:

"Me fala quem é que eu mando embora. Você pode me dizer os nomes". Esclareceu que "estou brincando", mas arrematou: "A melhor analista é a presidente".

É nada. Neste ano o PIB fechará com um crescimento inferior a 2%. Em 2011 Mantega entrou na avenida prometendo uma taxa de 4,5%. Quando metade da escola havia desfilado, falava em 4%. Na praça da Apoteose o PIB ficou em 2,7%. Diante do mau resultado, o ministro incorpora o espírito do sambista e promete: "Este ano não vai ser igual àquele que passou". Nessa parolagem, o crescimento econômico de 2012 ficaria em pelo menos 4,5%. Não chegará à metade disso.

Deixe-se de lado o fato de que as medidas tomadas pelo governo para impulsionar a economia fracassaram, o que não é pouca coisa. O doutor Mantega atravessou o espelho quando, diante de um mau terceiro trimestre anunciado pelo IBGE, veio a público para dizer que pedira à instituição que refizesse suas contas. Tomou de volta uma nota oficial informando-o de que "não ocorreram mudanças metodológicas nem de fontes de informação no cálculo do PIB, para o qual são seguidas as recomendações internacionais".

O IBGE, como todas as instituições do gênero, revê rotineiramente seus cálculos. No primeiro trimestre deste ano anunciara um crescimento de 0,2% e corrigiu-o para 0,1%. No período seguinte, reviu seu número de 0,4% para 0,2%. Nos dois casos, Mantega ficou calado. O que ele fez agora foi lançar uma suspeita pública contra uma instituição que, na série histórica, diz mais verdades que mentiras, não se podendo afirmar o mesmo a respeito das estimativas dos sábios da ekipekonômica.

E até por Luis Nassif:

A fragilidade do discurso de Mantega

A maior arma de um Ministro da Fazenda é a palavra, maior até que a caneta. Cabe ao Ministro traçar o cenário factível, organizar as expectativas, mostrar o futuro, principalmente em fases de transição, aquelas que exigem maior clareza no discurso.

A economia está em um desses períodos. Redução de taxas de juros, mudança (mesmo que insuficiente) na política de câmbio, pacotes de concessões, desoneração de investimentos, tudo isso delineia uma mudança de patamar da política econômica, com resultados positivos inevitáveis. A questão é o fator tempo, a defasagem entre as medidas e os resultados, o período de maturação no qual o discurso passa a ser cada vez mais relevante.

Há um conjunto de fatores conjunturais atrapalham a recuperação. A mudança do patamar do dólar acarretou prejuízos a grandes empresas, que serão compensados com os efeitos sobre a produção interna. Mas leva tempo. Do mesmo modo, há uma queda nos preços de commodities que adia investimentos.

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O Ministro Guido Mantega positivamente não tem o domínio do discurso. Pior: não tem a  percepção correta sobre como atuar nas expectativas empresariais.

Primeiro engano - a profusão de projeções otimistas sobre o PIB, desmentidas pelos fatos. No início de 2012, a própria área econômica trabalhava com a possibilidade de um PIB próximo dos 2%. Mantega insistia nos 4%. Era uma tolice clara. Se a economia batesse em 3%, já perderia a aposta.

A alegação de Mantega era a de que se não lançasse previsões otimistas, os empresários iriam investir menos e o PIB seria pior ainda. como se os empresários se deixassem emprenhar pelo ouvido com discursos vazios.

Segundo engano - mostrar sinais de pânico em momentos de tempestade. A cada notícia ruim da economia, o messiânico Mantega corre ao distinto público para anunciar a mesma projeção de PIB para o futuro e um conjunto de medidas adicionais de apoio à atividade produtiva. Em lugar das medidas serem entendidas como sinal de aposta no desenvolvimento, são vistas como colchas de retalho para tapar o buraco das expectativas não-atendidas.

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Terceiro engano - não conseguir desenvolver um discurso contextualizado. Desde o ano passado, há uma linha coerente de aposta na produção. Houve um corte histórico na política monetária, com o Banco Central pela primeira vez conduzindo, em vez de ser conduzido, as expectativas de mercado, uma aposta em concessões e parcerias. Mas o principal porta-voz econômico do governo não consegue transmitir esse quadro. Assim, cada medida anunciada passa a sensação da colcha de retalhos e de falta de rumos.

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O ex-presidente Fernando Collor tinha uma relação quase supersticiosa com sua Ministra Zélia Cardoso de Mello. Parece que a presidente Dilma Rousseff tem esse mesmo sentimento com Guido Mantega.

Se for para mantê-lo, melhor algum remanejamento ministerial que devolva ao Planejamento o papel de formulador adicional de política econômica. Libere Gleise Hoffmann para sua campanha para o governo do Paraná; traga Mirian Belchior e o PAC de volta à Casa Civil; e entregue o Planejamento a um nome que possa ajudar na formulação e no discurso econômico.

Diante de tantos ataques, a questão agora é: ele resiste?

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