O papa que não renunciou

Joseph Ratzinger, cuja renúncia à chefia da Igreja Católica passa a vigorar a partir das 16 horas de Brasília, se retira hoje para a residência de verão de Castelgandolfo; ele manterá os títulos de 'Papa Emérito', 'Bispo Emérito de Roma', continuará sendo chamado de 'Santidade' e terá seu próprio palácio; desde o anúncio da própria saída, ele atuou todos os dias para influenciar o conclave que escolherá o próximo sumo pontífice; forte influência sobre o clero vai permanecer; futuro pontifice terá uma sombra

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247 – Até o último minuto de seu pontificado, que ele próprio determinou dia e hora para acabar, o Papa Bento 16 fez uso de seus atributos de astuto político dos bastidores da Igreja Católica. Hoje, às 16 horas de Brasília, quando a renúncia passa oficialmente a valer, ele sairá para a residência oficial de Castelgandolfo, ao sul de Roma, deixando sua sombra sobre a Santa Sé. Entre movimentos públicos e privados, falando a cardeais, jovens padres e católicos reunidos na Praça de São Pedro, ou coordenando conversas privadas sob os afrescos do Palácio do Vaticano, Bento 16 tornou-se a maior influência sobre o conclave que vai eleger seu sucessor. Sua sombra política permanecerá em Roma, apesar do retiro.

Não é por menos que, com sua habilidade, Joseph Ratzinger conseguiu, depois de algum debate sobre as minúias do direito canônico, manter para si os títulos de Papa Emérito e Bispo Emérito de Roma. Além disso, manteve o direito de ser chamado de Santidade. Nada mau para quem quebrou um protocolo secular e desnudou, aos olhos do mundo, a profunda crise da instituição católica.

Alegando, inicialmente, problemas de saúde para renunciar ao papado, Ratzinger não deixou um só dia, desde o anúncio da própria saída, de fazer politica intramuros. Em pregações a membros do clero e ao público católico, norteou as principais balizas do conclave, acuando adversários e estabelecendo um clima de necessidade de conservadora renovação. Crescem, neste sentido, as apostas da eleição de um papa italiano.

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Ao manter-se na residência de verão dos papas, em Castalgandolfo, e não num discreto mosteiro, como havia sido ventilado inicialmente, Ratzinger garantiu para si um confortável palácio, do qual irá observar, atentamente, os movimentos do homem que irá lhe suceder. Ao longo do próximo papado, qualquer palavra dele, em texto, recado ou, até mesmo, entrevista, terá um peso enorme sobre a vasta ala conservadora da Igreja. Espertamente, entre pompas e circunstâncias, Ratzinger entregou o anel de Pedro, mas manteve boa parte de seus poderes. Nenhum outro Papa fez tanto por si mesmo quanto ele.

À saída, como registra texto abaixo da Agência Reuters, Bento 16 não deixou de lembrar que prestará obediência ao sucessor. É que se vai ver.

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CIDADE DO VATICANO, 28 Fev (Reuters) - O papa Bento 16, falando a cardeais no ultimo dia do seu pontificado, pediu nesta quinta-feira à Igreja Católica que se una em torno do seu sucessor, a quem prometeu obediência "incondicional".

"Vou continuar próximo de vocês em oração, especialmente nos próximos dias... quando vocês elegerão o novo papa, a quem hoje declaro minha reverência e obediência incondicionais", afirmou.

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"Nos últimos oito anos, vivemos com fé lindos momentos de luz radiante no caminho da Igreja, bem como momentos em que algumas nuvens se escureceram no céu", afirmou ele na despedida com os cardeais -- a maioria dos quais votará no conclave que elegerá o novo papa em março.

"Tentamos servir a Cristo e à sua Igreja", disse ele.

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O pontificado de Bento 16 ficou marcado por escândalos de abusos sexuais cometidos por padres, pelo vazamento de documentos sigilosos do Vaticano e por relatos de disputas internas na cúpula da Igreja -- crises que supostamente contribuíram para que ele se tornasse o primeiro papa a renunciar em seis séculos.

A renúncia do papa passa a vigorar oficialmente às 20h (hora de Roma, 16h em Brasília).

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(Reportagem de Philip Pullella)

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