Na presidência, emerge um Barbosa mais cordial

Notabiizado pelos arroubos intempestivos ao longo do julgamento da Ação Penal 470, o ministro Joaquim Barbosa conduz a sessão desta quarta-feira, em que acumula as competências de presidente do STF e relator da ação, com surpreendente tranquilidade, mesmo tendo seus votos vencidos várias vezes. Já foram estipuladas as penas de quatro condenados; assista ao vivo

Na presidência, emerge um Barbosa mais cordial
Na presidência, emerge um Barbosa mais cordial


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247 – A sessão desta quarta-feira 21 no Supremo Tribunal Federal (STF) é um grande teste para Joaquim Barbosa. O ministro atua pela primeira vez como presidente interino da corte – Barbosa assumirá oficialmente o cargo nesta quinta-feira 22 – e acumulará a função de relator da Ação Penal 470. Antes da sessão, o histórico de tensão do julgamento impunha uma pergunta: Barbosa, como presidente do Supremo, conseguirá conter seu viés autoritário e atuará como mediador de eventuais discussões entre ministros? Por enquanto, sim.

Assista ao julgamento ao vivo pela TV Justiça

A sessão desta quarta-feira segue confusa, devido ao acúmulo de funções do ministro. Mas, ao contrário do relator Barbosa, que questionava os votos dos colegas que o contrariavam, o presidente Barbosa vem simplesmente acatando às divergências, inclusive quando seu voto acaba vencido. É possível argumentar que ainda não surgiram temas polêmicos -- como deve ser o da perda de mandato pelos parlamentares condenados --, mas é possível perceber um comportamento diferente em Barbosa.

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Num editorial publicado na semana passada, a Folha de S.Paulo colocou sua previsão para as próximas gestões no STF. Elas provavelmente não terão a mesma serenidade e o equilíbrio demonstrados pelo recém-aposentado Carlos Ayres Britto durante o julgamento do chamado 'mensalão'. Outros veículos de imprensa prestaram suas homensagens ao minitro, sempre destacando seu temperamento tranquilo. Por enquanto, as expectativas vão sendo desmentidas.

Penas

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Logo no início da sessão, o ministro concedeu a palavra a um dos advogados de defesa, que destacou a ausência do ministro Carlos Ayres Britto, aposentado no último domingo, quando completou 70 anos, para sugerir que os réus condenados por seis votos (entre eles o de Britto) não poderiam ter as penas definidas por apenas cinco ministros, já que uma sessão do Supremo só pode ser aberta com pelo menos seis ministros. Barbosa indeferiu o pedido com o apoio de todos os colegas.

Na sequência do julgamento, o ministro definiu em 5 anos e 10 meses a pena para o ex-sócio da corretora Bônus Banval Breno Fischberg relativa ao crime de lavagem de dinheiro. Além disso, estipulou multa de 220 dias-multa (no valor de R$ 572 mill, ainda a ser corrigido. Ele foi acompanhado por Celso de Mello, mas a ministra Rosa Weber propôs pena de 4 anos e 8 meses, e foi seguida por Cármem Lúcia. Ficou faltando o voto do ministro Luiz Fux, que não estava presente. Quando Fux chegou, acompanhou Barbosa no voto, definido a pena de Fischberg em 5 anos e 10 meses.

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Acumulando as funções de presidente da Corte e relator, Barbosa se complicou no estabelecimento das penas, que acabou ficando ainda mais confuso devido à ausência momentânea de Fux. Barbosa propôs pena de 2 anos e 3 meses para o ex-sócio de Fischberg na Bônus Banval Enivaldo Quadrado no crime de formação de quadrilha. Para o crime de lavagem de dinheiro, a pena proposta por Barbosa foi de 6 anos e 9 meses e 20 dias de cadeia. A maioria dos ministro seguiu Barbosa, o que definiu a pena do condenado em 9 anos e 20 dias.

Em seguida, Barbosa passou para a pena de João Cláudio Genu, que foi condenado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. O relator e presidente do Supremo propôs pena de 1 ano e 8 meses pelo crime de formação de quadrilha, o que implicaria na prescrição do crime. Maioria dos ministros definiu, contudo, a pena em 2 anos e 3 meses, evitando a prescrição. No crime de corrupção passiva, contudo, Genu pegou apenas 1 ano e 6 meses de prisão, o que valeu a prescrição do crime (pena menor de dois anos). Como os ministros definiram em 5 anos de reculsõa a pena de Ganu por lavagem de dinheiro, o ex-assessor do deputado federal José Janene (PP-PR) pegou o total de 7 anos e 3 meses de prisão.

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Pendências

No retorno do intervalo, o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas foi condenado pelo crime de lavagem de dinheiro a 5 anos de reclusão mais 200 dias-multa. Já quanto ao crime de corrupção passiva, a pena de Lamas foi fixada em 1 ano e 6 meses de reclusão, o que atrai a incidência da prescrição. "Lamas contribuiu para que o deputado Valdemar Costa Neto empregasse seu mandato parlamentar para obeter somas milionárias em espécie, degradando a agremiação partidária, possibilitando que o PL se tornasse legenda de aluguel", destacou o ministro Celso de Mello. Assim, Lamas pega 5 anos e pode responder em regime semiaberto.

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Vencido o caso, a corte retornou a assuntos pendentes. Após a manifestação de ministros que não haviam votado, Barbosa proclamou a definição de 3 anos e 8 meses de prisão e multa de 10 dias-multa para Rogério Tolentino pelo crime de lavagem de dinheiro. Outra definição pendente das últimas sessões era a de Vinícius Samarane. Os ministros decidiram por 3 anos e 6 meses de prisão além de multa de 100 dias-multa para o réu pelo crime de lavagem de dinheiro.

O julgamento

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Após uma semana de intervalo – na última quinta-feira (15) foi feriado e a sessão de segunda-feira foi cancelada – o julgamento entra em sua 47ª sessão. O processo começou a ser analisado no dia 2 de agosto e ainda não há previsão para terminar.

A última etapa, de fixação das condenações, começou no dia 23 de outubro. Já foram concluídas as penas de nove réus dos núcleos político, financeiro e publicitário. Deste último, falta definir somente a pena do advogado Rogério Tolentino para o crime de lavagem de dinheiro.

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O último núcleo analisado será o dos réus do Congresso Nacional e aqueles ligados a parlamentares, que tem 15 integrantes no total. O gabinete de Barbosa não informou qual o primeiro réu desse grupo que terá a pena fixada, mas a expectativa é de que seja o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP).

O julgamento ainda continuará após a fixação das penas, pois os ministros terão que analisar questões residuais como a responsabilidade pelo decreto de perda de mandato parlamentar – se do STF ou do Congresso Nacional –, o pedido de prisão imediata dos condenados sem esperar os recursos e a possibilidade de decretar o ressarcimento de valores desviados do erário.

Além disso, os ministros devem corrigir incongruências nas penas, como no caso das multas dos sócios e subordinados de Marcos Valério. Em alguns crimes, elas  ficaram maior que a do publicitário, considerado o maior articulador do esquema. Vários ministros também já manifestaram interesse em analisar, no final, várias penas em conjunto, como um só crime em continuidade delitiva, o que reduziria significativamente os tempos de prisão já estipulados.

O julgamento será interrompido nesta quinta-feira novamente para a posse de Joaquim Barbosa na presidência e de Ricardo Lewandowski na vice-presidência. A cerimônia será às 15h, no próprio STF, com a presença da presidenta Dilma Rousseff e dos presidentes do Senado, José Sarney, e da Câmara dos Deputados, Marco Maia. Às 20h, os novos chefes do Judiciário serão saudados em coquetel oferecido por associações de juízes em um clube de Brasília. O mandato é de dois anos.

Com Agência Brasil

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