Lava Jato pagou para ver e quebrou a cara
cc; "O sinal de ontem é de mudança na situação política, mesmo lenta e parcial, que também atinge o governo Bolsonaro: em quase 100 dias no Planalto, não apresentou nenhuma ideia para criar empregos ou reforçar o bem-estar do povo".

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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia - O fiasco das manifestações convocadas neste domingo para servir de escudo aos abusos contra o Estado Democrático de Direito mostra um sinal de mudança na situação política do país.
Principal instrumento para a construção de um regime de exceção, a Lava Jato pagou para ver -- e perdeu a aposta. O objetivo óbvio de manifestações convocadas em tom de megalomania mas que só foram capazes de reunir dezenas de gatos pingados era realizar uma demonstração de força favorável a operação, devastada por um escândalo de R$ 2,5 bilhões em torno de uma fundação criada à margem da legislação brasileira, para cumprir tarefas que a Constituição reserva a autoridades eleitas pelo voto popular.
Em cinco anos de existência, a Lava Jato e seus porta-vozes foram tratados em clima de salvadores da pátria pelos grandes jornais e revistas do país. Neste domingo, nem a mídia mais amiga animou-se a defender uma denúncia bilionária de desvio de recursos públicos e transações suspeitas. A mesma máquina de comunicação da mídia corporativa que em 2015 chamava os brasileiros à rua, para bloquear o segundo mandato de Dilma, cruzou os braços. Entregou Deltan Dallagnol, Joyce Hasselman & Cia à própria sorte.
Não se trata de uma ocorrência casual mas um sintoma maior.
Capaz de manter apoio integral às propostas econômicas de Paulo Guedes-Bolsonaro, a mídia corporativa já enxerga uma situação de risco politico no futuro do país, que lhe parece difícil de enfrentar na presença de um governo sem compromissos maiores com a democracia. Essa visão explica a postura distanciada -- e até crítica -- dos grandes jornais diante de várias iniciativas de Bolsonaro, a começar por seu discurso de apelo a violência.
Separados pela origem e pela respeitabilidade diferenciada, a Lava Jato e o governo Bolsonaro se encontram no mesmo barco depois que Sérgio Moro aceitou uma vaga no ministério.
Se os destinos se uniram, o fiasco de domingo mostra que a aliança política entre o juiz e o capitão produziu um efeito corrosivo sobre a imagem imaculada de Moro e da Lava Jato -- no fundo, era isso que estava em causa, ontem.
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O sinal de ontem é de mudança, mesmo lenta, parcial, sujeita a reversões. Ao ficar em casa, os eleitores que votaram a favor de Bolsonaro em outubro se mostram menos engajados, menos comprometidos com o governo -- e há razões objetivas para esse distanciamento aumentar em futuro próximo.
Às vésperas de completar 100 dias no governo, o governo Paulo Guedes-Bolsonaro não apresentou uma única ideia para criar empregos ou reforçar o bem-estar de brasileiros e brasileiras.
Prioridade absoluta do Planalto, até agora o nefasto projeto de reforma da Previdência só contribuiu para ampliar a marcha dos descontentes e desencantados. O mais importante é que os próprios eleitores de Bolsonaro já começam a dar sinais de indignação diante de uma proposta que consideram como uma verdadeira traição. É o que se vê num vídeo -- disponível nas redes sociais -- no qual o deputado Boca Aberta (PROS-PR) desafia o presidente no qual votou a explicar-se no Congresso.
Num sinal de que os problemas podem ser ainda maiores, no prazo de uma semana dois dos principais formuladores econômicos do PSDB, André Lara Rezende e João Sayad, publicaram críticas demolidoras contra a política econômica de Paulo Guedes em geral -- e os fundamentos da reforma da Previdência em particular.
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