Damares Alves e o fascismo azul e rosa
Parece que as cores do fascismo são o azul e o rosa. O autocrata que assumiu o poder selecionou a dedo, outras figuras tão extremistas e autoritárias quanto ele. Quase todas as democracias do mundo, um dia já foram vítimas de tais seres; Geralmente, eles surgem num momento de instabilidade econômica ou de fragilidade moral das instituições, apresentando-se como a solução eficaz para esses problemas
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Estamos vivendo uma nova era. Uma era onde apenas duas cores irão mudar os rumos do país. O azul e o rosa, prometem ser a nova tendência durante as quatro estações do ano. A nova moda foi ditada pela ministra Damares Alves, a mesma que viu Jesus subir numa goiabeira. Eu não estava lá, mas posso deduzir que Jesus estava vestido de azul nesse dia. Digo isto, porque após o seu discurso de posse, movida pela euforia débil que a caracteriza, a ministra declarou que, a partir de agora, menino veste azul e menina veste rosa. Uma ode ao conservadorismo hipócrita e risível, que forma a base desse novo governo.
Não é muito difícil perceber que as prioridades desse novo governo, são duas. A primeira, e principal delas, é ferrar com os mais pobres. A segunda, e pouco compreensível, é protagonizar os momentos mais ridículos e bizarros da história do Brasil. Para isso, o presidente eleito nomeou ministros que vão da comédia ao drama, sem fazerem o menor esforço. Usam uma caricatura de si mesmo como carta de apresentação , ratificando tudo aquilo que nós já imaginávamos sobre a maioria dos membros desse novo governo. É um ajuntamento de pretensiosos.
Imaginar que alguém com o pensamento de Damares Alves, tenha competência e equilíbrio emocional para responder por uma pasta, que acumula os ministérios da mulher, da família e dos direitos humanos, é uma decisão digna de alguém que está no mundo da lua. Talvez, a ideia de tal nomeação tenha partido do astronauta que ocupa o cargo de ministro da ciência e tecnologia. Em todas as suas declarações, a ministra evidencia todo o seu despreparo em lidar com a diversidade e pensar coletivamente. Aliás, o desprezo pela democracia é uma característica de todos os membros e apoiadores desse governo.
Ao determinar que meninos devem vestir azul e meninas, cor de rosa, Damares Alves, que também disse em seu discurso de posse que: "O estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã", deixa claro que conduzirá o seu ministério como uma Xiita evangélica. Tudo aquilo que não estiver alinhado com o seu "terrível cristianismo", será considerado abominável e combatido ferrenhamente em nome do seu Jesus da goiabeira. Não duvido muito, que ela possa adotar a Cromoterapia como o tratamento mais eficaz no seu combate ao homossexualismo. "Se o filho começar a ficar assim, meio gayzinho...", é só vesti-lo de azul que ele volta a héteronormatividade.
Parece que as cores do fascismo são o azul e o rosa. O autocrata que assumiu o poder selecionou a dedo, outras figuras tão extremistas e autoritárias quanto ele. Quase todas as democracias do mundo, um dia já foram vítimas de tais seres. Geralmente, eles surgem num momento de instabilidade econômica ou de fragilidade moral das instituições, apresentando-se como a solução eficaz para esses problemas. Com discursos inflamados de evocação à ordem, ao progresso, ao patriotismo, à ética e aos valores cristãos, eles auto proclamam-se os reconstruidores do país. E através do autoritarismo, sob a égide da disciplina e do respeito à hierarquia, eles recrutam simpatizantes, seduzem os mais desatentos, intimidam os covardes e chegam ao poder.
O curioso, é que eles não escondem as suas intenções, suas pretensões e nem os métodos utilizados para alcançarem os seus objetivos. A carência de justiça e a falência moral de uma sociedade, faz com que essas figuras sejam idolatradas e alçadas à condição de salvadores da pátria. Desse modo, elas recebem um papel em branco para governarem com total liberdade, na ilusão de que irão satisfazer os anseios do povo. Ledo engano. A primeira coisa que eles fazem com o papel em branco recebido, é redigir em sua face um decreto que extingue a democracia.
Para aqueles que duvidaram que Bolsonaro pudesse se comportar como presidente da república, da mesma forma que vem se comportando em seus 30 anos de vida pública, fica o alerta. Um ser autoritário, nunca deixará de sê-lo. Principalmente, quando está no poder. Você, que passou pano em todo o discurso racista, homofóbico, misógino, machista, xenófobo, anti minorias e anti democrático, que ele sempre propagou com orgulho, é responsável pela ascensão de uma nova ditadura no país. O estado omisso e alienador, divide com os 57 milhões de eleitores do mito, a autoria de tal atentado contra a democracia.
Somos um país que respirou aliviado com a chegada da nova república e não educou suficientemente o próprio povo, para lutar, sempre que preciso, contra o retorno de uma das páginas mais infelizes da nossa história. Permitimos que a tortura fosse romantizada e que torturadores fossem exaltados dentro do congresso nacional. Não tivemos competência o suficiente para reprimir didaticamente, manifestações que pediam a volta de um regime de exceção. Não punimos exemplarmente com a cassação do mandato, parlamentares que lamentavam que o regime militar não tivesse matado mais gente. Não construímos uma memória de rejeição à ditadura.
O nascimento da democracia no Brasil foi negociado. Acordos políticos jogaram para debaixo do tapete, toda a sujeira acumulada durante os anos de chumbo, provocando uma amnésia coletiva. Combinamos assim: Escrevemos uma nova história e esquecemos de todo mal que a velha causou. Relativizar a opressão, é fornecer munição ao opressor. E assim o fizemos. Municiamos o fascismo e nos oferecemos novamente a ele como alvos. Agora, estamos prestes a sermos colocados no paredão. Duas filas indianas formam-se e são preparadas para o abate. De um lado, os meninos de azul, do outro, as meninas de rosa.
Oremos, para que Jesus desça da goiabeira e nos defenda.
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