Jogada de mestre: ao pagar fatura da eleição, Bolsonaro tira Moro da frente em 2022

O jornalista Ricardo Kotscho escreve sobre o "golpe de mestre" de Bolsonaro de, ao anunciar o nome de Sérgio Moro para o STF, tirá-lo do páreo das eleições de 2022 enquanto solapa sua imagem: "De superministro a personagem caricato, ridicularizado nas redes sociais e por políticos do centrão herdado de Eduardo Cunha, passaram-se apenas quatro meses e meio"

Jogada de mestre: ao pagar fatura da eleição, Bolsonaro tira Moro da frente em 2022
Jogada de mestre: ao pagar fatura da eleição, Bolsonaro tira Moro da frente em 2022 (Foto: Marcos Corrêa/PR)


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Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia - Falem o que quiserem do capitão presidente, mas burro ele não é, ou não teria vencido a eleição em 2018.

Pode parecer uma loucura -  e é -, mas Bolsonaro já está pensando na reeleição em 2022.

Foi só por isso, e para agradar à sua seita nas redes sociais, que ele antecipou o pagamento da fatura a Sergio Moro por ter prendido Lula e deixado o campo livre para a sua vitória.

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Vejam o que ele disse, com todas as letras, em entrevista à rádio Bandeirantes no domingo:

“A primeira vaga que tiver no STF, eu tenho esse compromisso com Moro, e se Deus quiser nós cumpriremos esse compromisso. Acho que a nação toda vai aplaudir um homem com esse perfil dentro do STF”.

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Quando exatamente se acertou esse “compromisso”? Antes ou depois da eleição e da prisão de Lula? A troco de quê?

Ao falar que a “nação toda vai aplaudir”, Bolsonaro matou dois coelhos ao mesmo tempo: pegou carona na popularidade de Moro e tirou o ex-juiz da frente nas próximas eleições.

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Como só deve abrir vaga no STF no final de 2020, Moro vai passar 18 meses na chuva, dando trombadas com políticos, tentando vender seu pacote “anticrime”, que é contestado por quase todo o mundo jurídico.

Quem melhor resumiu a ópera bufa em que os dois personagens rasgaram as fantasias, foi o colunista Luiz Weber,na Folha:

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“Se de fato trocou Curitiba apenas por uma vaga no Supremo, Moro agiu como um deputado do centrão: hipotecou sua imagem para lustrar um governo em troca de uma sinecura. O discurso era só discurso”.

Moro e Bolsonaro não enganam mais ninguém que tenha no mínimo dois neurônios.

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A grande farsa do juiz da Lava Jato e do capitão reformado foi denunciada nos principais veículos da imprensa mundial, que foi direto ao ponto:

“Bolsonaro nomeia juiz que ajudou a prender Lula”, diz o título do inglês Financial Times, a bíblia do mundo financeiro, que não pode ser chamado de comunista.

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Menos de um mês atrás, dia 23 de abril, Moro declarava em entrevista:

“Ir para o STF seria como ganhar na loteria. Não é simples. O meu objetivo é apenas fazer o meu trabalho”.

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Quanta meiguice… Se depender de Bolsonaro, Moro já ganhou esta loteria, mas é preciso saber como estarão Bolsonaro e Moro daqui a 18 meses.

Quem pode garantir que os dois ainda estarão no poder no ano que vem?

“Fico honrado com o que o presidente falou, mas não tem a vaga no momento. Quando surgir, ele vai analisar se vai manter o convite, eu vou avaliar se vou aceitar, se for feito efetivamente o convite”, disse Moro esta manhã em entrevista à radio Jovem Pan de Curitiba, emissora semioficial do governo.

Um outro fator que deve ter pesado na nomeação precoce de Moro por Bolsonaro foi o apoio que importantes veículos de mídia já estavam dando a uma possível candidatura presidencial do ex-juiz da Lava Jato, que não ficou chateado com isso.

Na sua interminável maratona de entrevistas e palestras -a que horas ele despacha? Moro continua em campanha permanente, assim como seu chefe Bolsonaro.

Só não dá para saber ainda, em sua linguagem melíflua e arrevesada, se é candidato ao STF ou ao Palácio do Planalto.

Na dúvida, o ex-juiz poderá ficar sem nada, pendurado na escada do poder com a brocha na mão, tendo ainda que passar antes no exame da OAB para poder trabalhar como advogado.

Num país em que ninguém pode prever o dia de amanhã, desconfio que os dois ansiosos parceiros estejam colocando o carro na frente dos bois.

“Ao se mexer tão cedo, colocou-se em impedimento. E juiz uma vez impedido, sempre impedido”, constata, com precisão, Luiz Weber, no final da sua coluna “Moro em impedimento”.

De superministro a personagem caricato, ridicularizado nas redes sociais e por políticos do centrão herdado de Eduardo Cunha, passaram-se apenas quatro meses e meio.

A vida em Brasília é mais dura do que ele pensava ao acertar o “compromisso” com Bolsonaro.

Moro já deve estar sentindo saudades de Curitiba, onde era rei, e não precisava dar satisfações a ninguém.

Vida que segue.

Em tempo: lembro que o dia 15 está chegando, e o Brasil decente, que não se entregou ao boçalnarismo, está se mobilizando para ir às ruas. Quarta-feira é dia de mostrar que a nossa paciência está chegando ao limite, diante de tantos desvarios, que estão levando o país à breca. Essa luta não é só de estudantes e professores, mas de todos nós. Reage, Brasil!

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