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Pedro Benedito Maciel Neto

Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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Desindustrialização prematura e Neoindustrialização

Um cafezinho no Ventura Mall

Lançamento da Nova Indústria Brasil (Foto: Ricardo Stuckert)
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Às vezes, indo para o escritório ou voltando para casa, dou uma paradinha no Ventura Mall, ali na avenida Moraes Salles, para um cafezinho. 

Sempre encontro algum conhecido por lá para prosear. Nesses encontros casuais falamos, rapidamente, sobre política, Ponte Preta, filhos, netas e outros tantos assuntos que valem a pena, sem a necessidade de conclusões e providências, é a prosa pela prosa.

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O Ventura Mall, cujo projeto foi submetido à aprovação ainda no mandato do prefeito Jacó Bittar, foi disruptivo, pois, além de ser o primeiro shopping de conveniência da cidade, desafiou os padrões conhecidos e enraizados na nossa cultura (os processos disruptivos acontecem, geralmente, a partir das empresas menores que ousam; aprendi a valorizar a capacidade delas em viver, sobreviver e, reinventando-se, criar algo, mesmo na adversidade).

Numa das últimas vezes que passei no Ventura encontrei o Gastão (nome fictício), pedimos um cafezinho e água com gás.

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O Gastão é um daqueles personagens que desafiam a lógica: nunca teve registro na CTPS; nunca fundou uma empresa; nunca gerou um emprego sequer; não tem escritório e não trabalha em home office (trabalha em “padaria office” ou “posto de gasolina office”); nunca se casou e vive na casa dos pais até hoje (talvez por isso ele administre um litígio infindável com os irmãos e irmãs), paradoxalmente, ele “vive como rico” e - cheio de certezas, sem culpas ou preocupações (pelo menos parece ser assim) -, opina sobre os assuntos da moda: “ditadura do Supremo”, o “ataque às nossas liberdades” e o “violento processo de venezuelização” do Brasil; evidentemente sua família apoiou o golpe de 64 e tem “saudades daqueles tempos”.Conheço o Gastão desde o colegial, atual curso médio, mas somos de turmas diferentes, contudo, durante o cafezinho se democratizam as interações; ignorei os “assuntos da moda” e falamos sobre o projeto de industrialização do governo federal, denominado “Neoindustrialização” (o qual Gastão chamou de “gastança petista”).

Aprendi que respirar fundo é um exercício necessário nesses tempos em que a burrice é vicejante, sendo assim, respirei fundo e expliquei para o meu produtivo amigo que a reindustrialização é coordenada pelo vice-presidente Geraldo Alckimin, do PSB e não pelo PT, e é fundamental para o país.

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Disse a ele que o Brasil não cresce 7%, 8% ao ano, ou mais, por algumas razões: 1ª – os juros bancários são altos e impedem a alavancagem da indústria, o que compromete o crescimento; 2ª - a nossa infraestrutura (saneamento, transporte, energia e telecomunicação) é inadequada ou insuficiente, ou seja, o conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico precisa de investimento; 3ª - a falta de infraestrutura dificulta a atração de investimentos privados, obrigando o Estado a realizar hoje o que deveria ter sido feito ao longo dos últimos duzentos anos; 4ª - que a falta de infraestrutura compromete competitividade das empresas instaladas no Brasil, bem como a geração de novos empregos, e 5ª  - que a melhoria da infraestrutura brasileira é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, pois favorecerá um melhor ambiente de negócios, atrairá mais investimentos, favorecerá a competitividade das empresas e a geração de empregos.

Os investimentos na indústria e em infraestrutura, ao lado de linhas de crédito para a indústria, são, a meu juízo, essenciais para governos cumprirem os objetivos da república: (a) construir uma Sociedade Livre, Justa e Solidária; (b) erradicar a Pobreza e a Marginalização e Reduzir as Desigualdades Sociais e Regionais; (c) promover o Bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; (d) garantir o Exercício dos Direitos Sociais, Individuais e Coletivos. 

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Mas o Gastão, tão cheio de certezas, repetia: “isso é roubalheira, corrupção, querem só roubar a gente; querem roubar a nossa liberdade”; ele foi incapaz de dizer por que se opõe ao projeto de reindustrialização; o pessoal que se informa pela “universidade do WhatsApp” não sabe nada além do conteúdo raso contido nas fake News que circulam pelas redes.

Não adiantou eu ponderar com ele a importância de o Brasil assumir sua liderança no Sul Global, nem lembrá-lo que os impérios, todos, entram em decadência e colapsam, que o Brasil, para cumprir seus objetivos constitucionais, não pode portar-se como colônia ou lacaio do Império (uso o substantivo “Império” no sentido dado por Michael Hart e Antônio Negri).

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Sem apontar uma razão pela qual o investimento na indústria seria desnecessário, meu conhecido terminou o seu café, pediu licença, pois, segundo ele, estava atrasado para “o treino” com o seu personal, saiu apressado e pediu para ele pagar o café e a água.

Paguei a conta e voltei para o escritório.

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Sozinho na minha sala fiquei pensando em Fernando Pessoa, especificamente no Poema em Linha reta: “Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo”.

Qualquer pessoa, de direta ou de esquerda, sabe que a reindustrialização é fundamental para reverter o processo de desindustrialização prematura que o país vem passando nas últimas décadas; que os efeitos da desindustrialização são negativos em todos os aspectos (social, político e ambiental), além dos prejuízos à produtividade, à competitividade e ao crescimento da economia.

O projeto de reindustrialização do governo reflete a tendência observada em nações líderes globais em inovação de recorrer à grandes pacotes de ações governamentais para acelerar o processo de recuperação econômica pós pandemia e continuar progredindo tecnologicamente, a exemplo das nações europeias, Estados Unidos e Coréia do Sul.

As novas políticas industriais e necessárias parcerias com o setor privado, ganham força na proposta, numa demonstração de amadurecimento de setores do governo.  

As bases do projeto denominado “Neoindustrialização” estão pautadas em trabalhos técnicos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), cuja nova composição do colegiado reúne representações das entidades do setor produtivo, o que confere enorme legitimidade institucional para o projeto. 

Pedro Cavalcante e Jackson De Toni, ambos da FGC, escreveram que o projeto de Lula/Alckiminse assemelha ao arranjo de governança do plano coreano (Korean New Deal), uma vez que organiza a gestão e acompanhamento das ações em uma perspectiva holística e integrada envolvendo diversas áreas dentro do governo para lidar com as diferentes frentes de atuação”, o que parece ser positivo.

Que Alckmin tenha sabedoria para coordenar o projeto e que a indústria reencontre seu caminho de prosperidade, afinal, não podemos seguir sendo apenas exportadores de commodities, o que acontece desde 1500. 

Essas são a reflexões.

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