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Elisabeth Lopes

Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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O insano preconceito social ao Presidente Sindicalista

A cada segundo são despejadas toneladas de mentiras que tumultuam a massa alienada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa, de confraternização com os (as) trabalhadores (as) do Palácio do Planalto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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O preconceito social no país está enraizado nas elites como um mandamento de classe. Nos deparamos diariamente com manifestações nefastas nos mais variados ambientes da sociedade, tanto nos formais, como nos informais. Este preconceito não é proferido somente pelos mais abastados, também é reproduzido por outros estratos sociais, sobretudo os intermediários entre os de alto e baixo poder aquisitivo. Sua adoção passa a ser a ilusão do não pertencimento à camada dos excluídos. Como diz o sociólogo Jessé Souza “a classe média é feita de imbecil pela elite”. Em entrevista à revista Carta Capital, em 23/06/17, Jessé assinalou que os estratos médios apoiam sem críticas os interesses dos detentores do capital, reproduzindo seus valores e mecanismos de dominação numa “sociedade cruel forjada na escravidão” (Para ler essa entrevista na íntegra acesse a Carta Capital no endereço: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/jesse-souza-201ca-classe-media-e-feita-de-imbecil-pela-elite201d/)

A mídia corporativa, por exemplo, é insistentemente reincidente na manutenção e proliferação do preconceito social. Não mede esforços para julgar ou menosprezar, em todos os sentidos, os brasileiros oriundos da camada social oprimida, que ousaram enfrentar infinitos obstáculos ao longo de suas vidas e que de um modo quase inacreditável conseguiram ter voz e vez na sociedade civil e política. O exemplo mais contundente diz respeito à trajetória de vida do Presidente Lula, que apesar do determinismo conveniente, alimentado pela classe dominante, chega à presidência do Brasil por três vezes.

É flagrante o uso pelos jornalistas da mídia corporativa de uma linguagem subliminar preconceituosa nos comentários e análises sobre a gestão e pronunciamentos do “Presidente Sindicalista”.

Essa postura raramente acontece com outras representações, tratadas com lisura, a despeito dos absurdos cometidos em suas atividades executivas, judiciais ou legislativas. Não assistimos nenhum comentário desairoso sobre o ex Juiz suspeito Sergio Moro, tanto pelo seu frontal ataque ao devido processo legal, como por suas falas ao arrepio das regras gramaticais da língua portuguesa. Não ouvimos os comentaristas empolados da Globo News ou da CNN questionarem os graves desvios legais de Moro nos seus julgamentos, como o da condenação, sem provas, do presidente Lula e nem tampouco ouvimos mencionarem o uso equivocado de vários vocábulos, como o que ficou famoso nas redes sociais, quando ele se referiu a sua esposa, como sendo a “conja”. Erro inadmissível para um magistrado, diplomado e aprovado em um concorrido concurso público. A carga pesada pela mídia corporativa e preconceituosa destina-se, prioritariamente, ao homem nordestino que migrou para o sudeste com alguns pertences em busca de uma vida com melhores perspectivas.

O que poderia ser exemplo de superação por sua história de vida como nordestino, nascido numa família pobre e numerosa, prescrita à morte pela fome e pela miséria, raramente é ressaltado como exemplo de resistência enobrecedora. O que deveria ser reconhecido como exemplo de resiliência pela mídia hegemônica em seu papel de formadora de opinião, é visto a partir da velha e preconceituosa avaliação, “ele não tem berço, imagine um ex-operário, boia fria e sem diploma dirigir o país”.

Este ex-operário, reconhecidamente brilhante na política pelos líderes mundiais dos países ricos, o que lhe conferiu em torno de 36 títulos de doutor honoris causa, admirado como o único presidente que retirou seu país do mapa da fome em seu primeiro e segundo mandatos, este homem perspicaz, que ao longo de sua história de vida se apropriou de uma leitura de mundo inteligente e qualificada, por sua arguta capacidade analítica e prática é achincalhado pela elite que não o suporta, apenas o tolera. Em cima dessa carga pesada, subliminarmente embutida nas críticas diárias a Lula, é disparada outra avalanche de preconceito social sobre o povo nordestino, região em que o presidente angariou, nas três últimas eleições à presidente, a maior porcentagem de votos. Não raro ouvimos críticas aos nordestinos. No dizer da Professora Viviane Gonçalves de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais “esses ataques reforçam o preconceito contra o povo da região sob a ideia de que os habitantes desses estados são pessoas subalternizadas” (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63112880).

Os votos dos nordestinos para Lula e Dilma no período de 2002 a 2013, se devem ao reconhecimento consciente do desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população, durante as gestões progressistas e não porque o povo desta região não saiba votar pelos muitos preconceitos de que são alvo. Os nordestinos respondem nas urnas os benefícios de vida que sentem na própria pele.

O tema sobre o preconceito social já foi abordado pelo notável Darcy Ribeiro, quando referiu que: “apesar da associação da pobreza com a negritude, as diferenças profundas que separam e opõem os brasileiros em estratos flagrantemente contrastantes são de natureza social” (RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006, p.440).

A natureza social, como refere Darcy, é a raiz que opõem os brasileiros entre as camadas sociais contrastantes. Entre os marginalizados de natureza social, o maior contingente reside no povo preto (56% da população brasileira), alvo do abjeto preconceito racial e da decorrência histórica de maior exclusão social, econômica e cultural.

É imprescindível referir que as vozes da elite econômica atuam por meio seus instrumentos de dominação e alienação do povo, seja pela mídia tradicional patrocinada, pela justiça, pelo centrão e extrema direita do legislativo, seja pelos constantes movimentos do mercado financeiro, toda vez que as ações de governo não agradam a essas vozes. Basta o poder Executivo destinar mais verbas para as políticas sociais, em detrimento da gula ávida da classe dominante e de seus asseclas, em querer obter a maior fatia dos recursos públicos, para ser questionado quanto ao teto de gastos.

Qualquer fala do presidente nordestino de origem pobre e sem diploma universitário, como a que ele fez sobre o massacre em Gaza cometido pelo Estado de Israel, é motivo para a fabricação de uma crise no governo, pela grande imprensa. A partir desse episódio o Lula passou a ser considerado pelo governo israelense como “persona non grata”, como informou-nos o jornalista João Filho, em artigo publicado em 24/02/2024 no site do Intercept Brasil. O jornalista ainda acrescentou que: “a reação desproporcional da imprensa corporativa brasileira e das extremas direitas do Brasil e de Israel não encontraram eco no resto do mundo” pelo reconhecimento evidente do massacre, inclusive pelo governo imperialista americano.

Até quando teremos que conviver com essa descarga preconceituosa da grande mídia, que ainda figura como a mais acompanhada pela população? Embora siga protocolos supostamente civilizatórios, as investidas cumprem seus objetivos de obscurecimento dos feitos do governo progressista.

Convém salientar que além da mídia corporativa, temos as incivilizadas postagens de ódio nas redes sociais. A cada segundo são despejadas toneladas de mentiras que tumultuam a massa alienada. E esta, sem nenhum critério avaliativo e na pressa de passar adiante acaba reproduzindo as falsas informações, ainda que suspeite da veracidade.

As publicações, em nome da tão falada liberdade de expressão, destilam os mais vis preconceitos. Embora a liberdade de expressão seja garantida no inciso IX do Artigo 5º da Constituição Federal, ela não é absoluta, na medida em que desrespeite outros direitos. É recorrente discursos difamadores, misóginos e absolutamente fantasiosos sobre a esposa do Presidente Lula, inclusive com o uso de recursos da inteligência artificial.

Os preconceitos de modo geral, desde o período colonial ainda vão perdurar enquanto a sociedade permanecer no abismo da desigualdade social e dos consequentes: racismo estrutural, intolerância às minorias sociais, expressiva estratificação social e todas as discriminações decorrentes, como as mencionadas neste texto em relação ao “Presidente nordestino e sem diploma de ensino superior”.

Finalizo este texto com um pequeno trecho da obra “Grande Sertão: Veredas, do imortal mineiro João Guimarães Rosa que se expressa por si: “Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou." (ROSA, João Guimarães, "Grande Sertão: Veredas". 36ª impressão, Editora Nova Fronteira, 1988, p. 15).

Que o povo desse país, tão marcado por preconceitos, aprenda o que a vida ensina! Que tenhamos a suficiente clareza do quanto podemos ser levados a reproduzir ou a nos alienar em meio a crueldade de uma sociedade adulterada pela escravidão.

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