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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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Cidades do BRICS+ se unem em Kazan, introduzindo uma nova era de cooperação

"Os membros dos BRICS China, Irã, Índia, Brasil e África do Sul enviaram grandes delegações a Kazan", relata Pepe Escobar

(Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil )

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A ideia do prefeito de Kazan, Ilsur Metshin, foi tão simples quanto revolucionária. Por que não tirar aproveitar o ano da presidência russa dos BRICS – com a primeira cúpula dos BRICS + tendo lugar em Kazan, em outubro próximo – para propor uma nova associação unindo as cidades dos BRICS+?

O Prefeito Metshin é um grande fã do "desenvolvimento de elos horizontais entre grandes cidades". A experiência de Kazan em cooperação intermunicipal já existe a mais de um quarto de século, com parceiros espalhados por todo o mundo e acordos sobre relações de pareamento firmadas com 71 cidades.

O objetivo da nova associação é fomentar uma cooperação mais estreita em diversas áreas – de economia, cultura e educação a ecologia, tratamento de resíduos e turismo. Como um gigantesco diálogo cidade-a-cidade em ação – baseado principalmente, para citar o camarada Xi Jinping, em "trocas de povo a povo".

Neste fim de semana longo, em Kazan, mais de 100 prefeitos, vice-prefeitos, diretores de associações municipais e autoridades de governos locais marcaram presença na magnífica Prefeitura de Kazan para o primeiro fórum da Associação de Cidades e Municípios do BRICS+.

O Presidente Putin enviou uma mensagem especial à cerimônia de abertura presidida pelo prefeito Metshin, e que contou com a presença, entre outras, do Prefeito de Ancara, Mansur Yavash e de Yang Dong, Vice-Presidente da Associação do Povo Chinês para a Amizade com Países Estrangeiros.

Os membros dos BRICS China, Irã, Índia, Brasil e África do Sul enviaram grandes delegações a Kazan – indo desde pequenas cidades brasileiras e grandes cidades iranianas como Isfahan e Mashad até o poderoso centro urbano de Harbin, na China, o portal para o comércio com o Extremo Oriente russo.

A delegação da Argentina – cujo novo Presidente, Javier "Motoserra" Milei, se recusou a participar dos BRICS – contou com um verdadeiro dissidente, Juan Javier Willipan, prefeito de Moreno. O espaço pós-soviético foi representado em sua totalidade pelo Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Belarus e Azerbaijão.

Foi fascinante assistir interesses interconectados expressos por múltiplas latitudes, do jovem vice-prefeito de Teerã, Hamidreza Natanzi, à hiperenergizada Bernadia Tjandradevi, nascida em Yogyakarta, a capital cultural da Indonésia e secretária-geral da Divisão Ásia-Pacífico da União das Cidades e Governos Locais.

Singrando o Volga

Foi mais que acertado que o primeiro passo dessa nova e dinâmica organização multilateral, com seu imenso potencial de crescimento, tenha tido lugar em Kazan, capital do Tatarstão, a janela da Rússia para as terras do Islã e a capital dos BRICS+ em 2024.

A rica história da cidade fundada em fins do século XIII por mongóis/tátaros da Horda Dourada, após estes terem se livrado do reino de Bulgar, no Volga médio, abrange tudo, desde sua condição de capital de um canato independente e grande centro comercial, sua captura, em 1552, por Ivan IV (o "Terrível"), quando a antiga fortaleza tátara foi reconstruída como um Kremlin, ou cidade fortificada, até o tempo em que Tolstoi e Lenin ali estudaram.

Foi também acertado que os gentilíssimos e impecavelmente organizados anfitriões de Kazan levassem o grupo multinacional dos BRICS+ para um passeio no Volga, o berço histórico do estado russo.

Ao longo do caminho, sentei-me à mesma mesa que Mikhail Solomentsev, um diplomata de imensa cultura, especialista em África e, hoje, representante permanente da República da Crimeia junto ao Presidente Putin. Nosso profundo mergulho em múltiplos assuntos relativos à Crimea – e mais além – aconteceu um dia antes do ataque de mísseis ATACMS a Sevastopol orientado pelos Estados Unidos.

Nosso destino foi a cidade insular de Sviyazhsk, cercada por rios de todos os lados: o Pike, o Sviyaga e o Volga. O assentamento original foi fundado em 1551 por Ivan IV como uma fortaleza para dar apoio às tropas russas em seu avanço rumo a Kazan para retomar a cidade da Horda Dourada.

Sviyazhsk é imensamente preciosa – a começar pelo Museu Arqueológico da Madeira, onde a aldeia original, preservada em lama, vem agora sendo restaurada e onde encontramos também um mural de 21 metros retratando a vida na aldeia tal como era na época, recriada por Inteligência Artificial.

A Catedral da Assunção é enriquecida por fabulosos afrescos do século XVI, entre eles um "São Cristóvão com Cabeça de Cavalo", literalmente, que certamente seria censurada em uma basílica romana.

A cereja do bolo foi o Sabantuy – uma mistura de feriado folclórico tátaro e feira agrícola: uma experiência sensorial psicodélica – contando inclusive com a reencenação do épico tátaro O Conto de Azamat, centrado em um herói cavaleiro que cultiva a terra e conquista a filha do chefe da aldeia em uma competição.

Sabantuy, de fato, encapsula os valores tátaros clássicos: terra, família, hospitalidade, costumes tradicionais – tudo isso assistido do alto por Tengri, o deus do céu. O tema central é a harmonia – o que não demorou a ser percebido pelo grupo dos BRICS+ e ganhou proeminência quando Putin, no fórum de São Petersburgo, ressaltou o surgimento de um mundo multipolar e "harmônico". Agora, cabe às cidades do BRICS+, dezenas delas, em breve centenas e mais adiante milhares, conversarem entre si visando a harmonizar seu desenvolvimento e suas estratégias de solução de problemas.

Tradução de Patricia Zimbres

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