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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Enoja ver o nome do inelegível num gráfico de candidatos à presidência

Elevar o bi-inelegível ao gráfico dos nomes presidenciáveis, e demonstrar que é de 39% a sua chance, é como dizer “tudo bem”

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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As eleições para daqui a pouco são as municipais, que irão escolher prefeitos e vereadores, mas o que domina as páginas da mídia tradicional são as pesquisas de opinião pública que apontam nomes para concorrer com o presidente Lula, em 2026. Não por acaso. 

Essa profusão de aferições procura nacionalizar a eleição municipal, empurrar um nome para já ser trabalhado na presidencial e, acima de tudo, desgastar Lula, mantendo-o sob pressão e gerando manchetes negativas, como a de hoje, no jornalão carioca: “Para 55%, Lula não merece nova chance em 2026”. Esse tipo de manchete divulga apenas o retrato de um cenário momentâneo, a mais de dois anos do confronto. Há muito caminho até lá, mas vai gerando no imaginário nacional a mensagem de que “ele não está tão bem assim” ou, “ele não é querido o quanto pensa, pela população”. 

E se a opinião capta apenas um instantâneo, que pode não ser o mesmo amanhã – para mais ou para menos, como se costuma alertar na divulgação dessas pesquisas -, o trabalho de mantê-lo sob holofotes de oscilações e avaliações negativas contribuirá para aquela “voz interna”, que vai se formando no eleitor, enquanto os demais ainda por surgir ficam protegidos, com as suas imagens intactas até serem colocados ao sol, para quarar, quando chegar o momento da disputa.

Assim, uma manchete como essa, induz a que na próxima avaliação esse número possa surgir ainda pior, obedecendo o “efeito manada”, ou a “espiral do medo”, tão fartamente estudados na área da Comunicação. Ninguém quer ir contra a opinião do grupo para não sofrer apagamento, nos ensinam essas teorias. São elementos da guerra híbrida, que pouco interessa à empresa de pesquisa, que faz delas o seu negócio. Mas observem que, não por acaso, o CEO da Quaest passou a integrar com frequência o grupo de analistas daquele canal fechado, que não desliga. Seu trabalho deve estar sendo útil nessa batalha.

O mais espantoso, para não dizer indecente, é meter o nome do bi-inelegível – já julgado dessa forma duas vezes - numa pesquisa para avaliar os candidatos numa eleição com data anterior ao fim da sua pena, a de permanecer inelegível até 2030. 

Isso nos coloca no radar a perspectiva indignante e nauseabunda, de que o trabalho para o livrar da prisão por todo o elenco de mais de 15 crimes pelos quais está investigado e, principalmente, por atentar contra a democracia - planejando jogar o país numa ditadura com a ajuda de militares -, caminha a passos largos. Vide a entrevista do também ex, Michel, para o jornal O Estado de São Paulo, em que defende perdão para o padrinho do seu correligionário, Ricardo Nunes. Michel, sim, focado na eleição para a prefeitura da capital paulista. (‘Pacificação do País não aconteceu por falta de vontade política de Lula e da oposição’, diz Temer (msn.com))E que ninguém duvide de que há progressos nesse sentido. Foi com perplexidade e horror, que pudemos observar a matéria (PL negocia anistia a Bolsonaro por apoio na sucessão da Câmara e do Senado (globo.com)), de página inteira, em que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, partido em que ainda se encontra filiado o ex-presidente, admite e defende o apoio do PL, àquele candidato à presidência da Câmara e do Senado que abraçar a causa de “anistia” a Bolsonaro. Valdemar acha legítimo propor em praça pública, sem corar, essa negociata digna de gangue de rua, para salvar a pele daquele que colocou o país a um passo do fascismo. E ninguém gritou ou achou nada demais.

Não bastasse a exiguidade de margem de escolha dos nomes que se apresentam para os cargos na Câmara – um, próximo de Arthur Lira; outro do partido de Tarcísio e ligado ao bispo Edir Macedo e, por fim, o do PSD, que faz fotos com Valdemar e Bolsonaro -, agora nos vemos diante dessa verdadeira campanha pró-anistia do golpista e seus comparsas.

Elevar o bi-inelegível ao gráfico dos nomes presidenciáveis, e demonstrar que é de 39% a sua chance, é como dizer “tudo bem”, atendendo ao pedido do delinquente, feito na Paulista, do “vamos passar uma borracha em tudo”. O tolerável (com um pregador no nariz), seria demonstrar no gráfico que, na falta do “investigado”, toma o seu lugar a madame, que aparece com 33% de chance, mas com 50% do índice de rejeição. Muito próxima da outra possibilidade petista, Fernando Haddad, que tem 32% - tecnicamente empatado com a fulana -, mas também com o mesmo índice de rejeição (50%).

Em letrinhas miúdas, longe da manchete negativa e escandalosa, de hoje, destacando que Lula não merece uma nova chance, a observação: “Apesar desse cenário, nenhum outro nome supera o petista em potencial de voto”. É desse fantasma da ópera que eles têm medo. Sabem que até 2026 esse potencial pode se alargar a ponto de não haver chance para aquele eterno sonho dos tucanos desplumados, a tal da terceira via. Aquietem-se. Há ainda muita água barrenta para escoar. 

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