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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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Roberto Campos Neto, o candidato da mídia corporativa

Exaltar tecnocratas não é nada para quem deu voz a negacionistas da ciência, corresponsáveis por milhares de mortes evitáveis

Roberto Campos Neto. Foto: Adriano Machado/Reuters

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A paranoia da imprensa com a austeridade fiscal chega ao ponto de tratar Javier Milei como “libertário” em vez de maluco, isso porque o mandatário argentino obteve o primeiro superávit orçamentário mensal do país em 12 anos. Não importa a que custo social ou humano. Conferir pouca ou nenhuma importância à insanidade de um presidente, desde que ele faça genuflexão diária perante o “mercado”, é comportamento vezeiro da mídia.

No Brasil, temos caprichado na elevação do “mercado” à condição de “deus”. Lê-se, ouve-se e assiste-se a verdadeiras sessões de louvação à ortodoxia econômica, bússola a apontar para o norte feliz. As catástrofes sociais perpetradas pelos filhos da Escola de Chicago mundo afora não são mencionadas.

É saboroso ver a reação desesperada da mídia corporativa diante do surgimento do nome de André Lara Resende como possível escolhido de Lula para o Banco Central. A hipótese ALR tem olhos e focinho de factoide, mas seria interessante vê-la concretizada. Antes identificado com o liberalismo, sempre enaltecido como um dos “pais do Plano Real”, em soporífera referência, há alguns anos o economista passou a criticar com veemência a obsessão pelo controle fiscal, a pregar contra limitações de gastos e a defender o investimento público como forma de impulsionar o crescimento do país. Tornou-se o terror da Faria Lima.

A distorção que a mídia corporativa promove hoje quanto à questão do Banco Central e dos juros, ao tratar o bolsonarista Roberto Campos Neto como técnico qualificado e Lula como político de conduta figadal, é grave mas absolutamente previsível. Os jornalões poderiam pelo menos assumir que o presidente do BC é seu candidato dos sonhos à Presidência da República – o sujeito até já jantou com Luciano Huck, a personificação do bolsonarismo de sapatênis.

Não nos surpreendamos, pois essa mesma imprensa já fez pior ontem mesmo. Na pandemia, hipocritamente, chegava ao cúmulo de “debater”, em tons de imparcialidade, a fictícia imunidade de rebanho. Ao longo da tragédia pandêmica, cometeram-se esse e outros crimes informativos em nome da famigerada “isenção” jornalística.

Há amplos estudos demonstrando a incorreção da mídia na abordagem dos temas científicos relacionados com a pandemia de Covid-19, um deles publicado por especialistas brasileiros na prestigiosa revista Frontiers in Communication. A partir de abril de 2020, a imprensa brasileira começou a destacar os efeitos das medidas de distanciamento sobre a economia. Também nesse caso, as narrativas foram construídas mediante o princípio de “ouvir os dois lados” – um, favorável à “imunidade de rebanho”; outro, ao distanciamento social. Tratava-se de uma falsa equivalência, já que a oposição à “imunidade de rebanho” era cientificamente embasada, enquanto sua defesa baseava-se em projeções de economistas neoliberais.

O deputado de ideias medievais Osmar Terra, que é médico (?) mas não epidemiologista, ganhou amplo espaço da mídia com suas considerações que foram da insignificância do vírus à exaltação da cloroquina. Reportagens em grandes portais de notícias continham links de vídeo para pronunciamentos recheados de informações falsas.

Exaltar tecnocratas não é nada para quem deu voz a negacionistas da ciência, corresponsáveis por milhares de mortes evitáveis. Roberto Campos Neto para presidente!

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