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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Silvio Santos e a liberdade de expressão

'Vocês têm a liberdade de escolher os premiados que quiserem, de falar o que quiserem, e eu tenho todo o direito de cortar o que quiser', relembra Alex Solnik

Silvio Santos (Foto: Reprodução)

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Quis o destino que o então meu chefe, e sempre amigo, Tão Gomes Pinto me escalasse, isso em fins do século passado, para a pior pauta da minha vida, que não era bem uma pauta, mas uma missão, participar do júri que iria escolher os melhores da TV do Programa Silvio Santos, o Troféu Imprensa, lá nos estúdios de Osasco, longe pra burro, o programa mais chumbrega da TV, mais cafona, mais bagaceira, era o último lugar onde eu queria estar, mas fazer o que, o Tão tinha sido convidado, era o chefe da revista Manchete em São Paulo, e é claro que ele fugiu do mico, “vai você, vai aparecer na TV, e ainda tem um cachezinho”, que mal faria?

Eu já tinha tido uma péssima experiência com esse senhor, trabalhava, então, para um dos semanários do Mino Carta, quando, numa reunião de pauta, fui escolhido para entrevistar o sr. Silvio Santos, ao que eu logo retruquei, “mas ele não dá entrevistas”, e Mino mostrou um fax assinado por Mauro Salles, dono da agência que tinha a conta da companhia, “em comemoração aos 30 anos do Grupo, Silvio Santos está à disposição para entrevistas”.

Um porre entrevistar esse cara, mas lá fui eu, com meu parceiro fotógrafo, Hélio Campos Mello, rumo à rua Jaceguai, um prédio ao lado do Teatro Oficina, e depois de um razoável chá de cadeira ficamos frente a frente com ele.

Não era aquele Silvio Santos da TV, vestia uma camisa preta de mangas longas, sério, cara de poucos amigos, mal deu boa tarde e perguntou:

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“O que vocês vieram fazer aqui?”

Respondemos, óbvio, “viemos entrevistar o senhor, 30 anos do Grupo Silvio Santos, o sr. Mauro Salles avisou que o senhor daria uma entrevista, nós marcamos e estamos aqui para isto”.

"Deve haver algum engano”, disse ele, “eu não dou entrevistas, pensei que vocês eram da agência do Mauro Salles, eu não falo com jornalistas nem com fotógrafos, eles sempre tiram a foto na hora em que a gente enfia o dedo no nariz”.

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Não teve entrevista.

Mas, claro, aí a situação era outra, não era entrevista, era dar uns palpites sobre os melhores da TV, uma coisa banal, que mal faria passar algumas horas naquele lugar povoado por pessoas estranhas, anônimos à procura da glória, pseudo-atores, charlatães, malandros, gênios precoces com suas mães, cachorros amestrados, uma fauna colorida e estridente?

Não me lembro de todos os jurados, só de um deles, o Ricardo Feltrin, e lá estávamos nós na sala de maquiagem, um salão de beleza com várias cadeiras e espelhos, todo mundo falando ao mesmo tempo, quando entra ele, o Silvio Santos em pessoa, o Silvio Santos da TV, vestindo terno, aquele sorriso que é sua marca registrada, nos cumprimenta, um a um, e diz:

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“Este programa de que vocês vão participar é gravado. Vocês têm toda a liberdade de escolher os premiados que vocês quiserem, têm todo o direito de falar o que quiserem, e eu tenho todo o direito de cortar o que eu quiser”.

Era isto o que ele entendia por liberdade de expressão. 

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