“Vaca charmosa”, “bezerro plangente”, “hiena amável”: Oswald não perdoa medalhões

Em seu “Diário Confessional” (1948-54), editado, há dois anos, pela Companhia das Letras, mas que só agora caiu nas minhas mãos, graças a seu neto, Rudá K. de Andrade, Oswald de Andrade conta que Jorge Amado, então seu melhor amigo (a quem rotula carinhosamente como “detentor dos segredos da marcha do comunismo”) vetou Antonio Candido numa reunião com Pablo Neruda que Oswald organizava em seu apartamento “por ser trotsquista”. 

O escritor baiano levou o poeta e um casal de comunistas brasileiros para conhecer o interior do estado. “A mulher do amigo comunista era a vítima preferida das libidinagens do romancista”, escreve Oswald, “que, certa vez, apanhou na rua do marido de outra, que virou sua companheira”. 

“As farras de Jorge Amado no apartamento da Avenida São João eram públicas, nelas tomando parte o violeiro Dorival Caymmi”, afirma Oswald.

O tacape do antropófago não perdoa medalhões.

Pablo Neruda é “o bezerro plangente da revolução vitoriosa”.

O crítico Paulo Duarte “é uma besta”; “um filisteu que tanto Antonio Candido quanto eu não podemos suportar”.

O multi-intelectual Cândido Mota Filho é “uma hiena amável”.

“A sua querela com Anita Malfatti” escreve sobre Monteiro Lobato, “é um desabafo pessoal de pintor fracassado”. Também critica o criador do Jeca Tatu por “aceitar de cabeça baixa a política sectária de Prestes e se meter até às orelhas no Partido que naufragava”. Mas confessa: “Sou lobatista”

“Graciliano Ramos: um mestre.

Nelson Rodrigues: um cabotino”.

Sobre Sartre: “Essa vaca charmosa não percebeu nada”. 

Mas guarda para outro ex-amigo e então desafeto sua frase mais venenosa:

“As únicas relações de Mário Andrade com o Estado foram através da Força Pública, seção de cavalaria, no Jardim Público e outros coretos noturnos”.

Se a internet existisse ele teria mais seguidores que Felipe Neto.